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FERNANDA YOUNG - FOGE-ME AO CONTROLE (2023) Dir. Susanna Lira


Texto por Marco Fialho

Ao filmar uma biografia os caminhos são os mais variados e Susanna Lira opta em Fernanda Young - Foge-me ao controle em focar mais na relação coerente entre obra escrita e a vida da escritora. Esse enfoque garante um olhar consequente ao documentário de Lira, dando voz à escritora por meio das palavras de Maria Ribeiro, sem esquecer das incessantes palavras escritas a rabiscar a tela do cinema.

Mas confesso que no plano das imagens o filme me incomodou pelo excesso (talvez numa tentativa de capturar o da própria personagem), não só pela quantidade, mas pela insistente intervenções nas texturas. Pelo fato de Fernanda Young ainda ser uma voz presente em nosso imaginário, as intervenções de Maria Ribeiro também não conseguem preencher de todo a vitalidade da voz original e isso fica mais evidente quando vemos a própria Fernanda em ação.

Por isso, o ponto alto do documentário está quando vemos Young tanto nos programas e entrevistas em que participou como convidada (como Saia Justa, Marília Gabriela e Antonio Abujamra) quanto nos famosos programas que escreveu (Os Normais e Os Aspones). Susanna Lira consegue nesses momentos resgatar o cerne do pensamento de Young, questionadora implacável do papel das mulheres na sociedade brasileira contemporânea. Os momentos de maior simplicidade narrativa são os mais fortes, o que se pretendem invenção os que menos funcionam.

De qualquer forma, mesmo que visualmente o grafismo excessivo do filme de Susanna Lira não  deixe a narrativa fluir livremente, há de relevar uma importância no resgate de uma voz questionadora como Fernanda Young, uma mulher intensa e vibrante, que emitia de peito aberto suas opiniões sobre o papel da mulher numa sociedade contraditória, machista e violenta. 

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