Texto por Marco Fialho
A Viúva Clicquot - A Mulher Que Formou Um Império esbarra numa problemática incontornável: por mais que o diretor Thomas Napper tente camuflar o óbvio, não há como negar que ao falar da viúva Clicquot se está a vender uma marca poderosa do mercado mundial de vinhos, e que de certa maneira justifica os caminhos que fizeram da marca um nome respeitável, o filme não consegue esconder as suas motivações mais evidentes: o do marketing.
Mesmo que Thomas Napper insista numa narrativa que condiz e muito com as pautas de hoje, sim, a viúva Clicquot pode ser vista como um caso de empoderamento feminista antecipado, por mais que a sua história esteja deslocada em séculos do nosso. Mas essa facilidade temática não seria então ideal para ser contada agora em pleno Século 21? Curiosamente, o nome da personagem se assemelha, e muito, a outro, o de uma peça publicitária recente que o cinema encampou com estrondoso sucesso: Barbe-Nicole. Só que aqui, a tal boneca está posta a mais de um século antes da famosa boneca loira do século 20.
Por curiosidade fui pesquisar imagens da viúva Clicquot e a única que achei foi a de uma senhora de idade, nunca jovem, algo bem distante da imagem da belíssima atriz Haley Bennett. Creio que o diretor quis somar à ideia do filme um aspecto físico fundamental, o atributo da beleza e da elegância, pois é isso que encontramos no filme, diferente das iconografias que mostram uma senhora carrancuda e com ar autoritário. Trata-se aqui realmente de uma profícua repaginada. São construções importantes essas que o filme faz e que é preciso pontuar, o quanto a direção se esforça por criar uma ideia de vanguarda, de estar à frente, e de requinte, afinal no filme a elegância da viúva dá o tom. Clicquot desafia convenções sociais e os homens que não aceitavam ver uma mulher como proprietária de uma marca.
Interessante reparar o quanto o cinema tem esse poder de criar imagens, e estabelecer fluxos temporais e conexões entre passado e presente. O diretor Thomas Napper é muito bem-sucedido ao pintar para a história da famosa espumante traços de personalidade fundamentais, como o germe de luta, de crença nos sentidos (em especial nos olfativos) que tanto a viúva quanto François (Tom Scurridge), o marido, precocemente morto, possuíam, o que os faziam diferenciar dos outros sócios e fabricantes de espumante da época.
Como de antemão sabemos o final, já que o sucesso da marca é inquestionável nos dias de hoje, apesar de ser inacessível financeiramente para a grande maioria das pessoas (a mesma história do caviar do Zeca Pagodinho), nos resta acompanhar a construção do mito e isso o diretor Thomas Napper faz com maestria. Primeiro ao mostrar como François era um visionário e um grande amante da bebida, que usava métodos inusitados para fabricar a melhor bebida possível, paixão que passou para a esposa que após a sua morte leva a cabo o projeto de fazer o melhor espumante do mundo. Napper sabe criar os percalços do caminho, desde o machismo do pai de François, passando pelo bloqueio continental de Napoleão até a dívida e perda de carregamentos inteiros ao tentar furar os bloqueios do exército napoleônico.
Cinematograficamente, A Viúva Clicquot - A Mulher Que Formou Um Império insinua uma narrativa convencional, com uma fotografia cálida que bem ilustra os filmes de época franceses que se passam no Século 18 e 19. A obra de Thomas Napper agradará a quem for aos cinemas buscar a história curiosa e fora da curva dos empresários bem-sucedidos da Europa, embora igualmente passe bem como uma bela peça de marketing para os dias de hoje, afinal é o conglomerado capitalista Louis Vuitton Möet Hennessy, dedicado lucrativo comércio de produtos de luxo, que mantém vivo mercadologicamente o nome Clicquot. Trata-se de uma peça publicitária de certo abastada, que condiz muito bem com a imagem de sucesso e coragem que se quer aqui resguardar e propagar.
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