Pular para o conteúdo principal

TOQUINHO MARAVILHOSO (2024) Dir. Alejandro Berger Parrado


Texto por Carmela Fialho

O documentário Toquinho Maravilhoso, de Alejandro Berger Parrado é uma homenagem ao virtuose violonista e músico brasileiro que foi um dos maiores parceiros de Vinícius de Moraes. O diretor opta por conduzir a narrativa cronologicamente, começando pela infância do artista, utilizando como fontes os depoimentos do próprio Toquinho, de seu irmão mais velho, imagens filmadas pelo pai durante sua infância e fotografias do arquivo da família.

O documentário procura traçar as origens do interesse de Toquinho ainda menino pelo violão e seu talento para música que o levou a ser aluno de Paulinho Nogueira, um dos maiores violonistas brasileiros, que segundo depoimento do próprio professor era um pupilo excepcional, bem fora da curva dos outros aprendizes. 

O propósito do documentário é dar a Toquinho um merecido lugar de destaque junto aos grandes nomes da música brasileira. Destacando sua amizade com Chico Buarque ainda adolescente em São Paulo e sua trajetória na Itália a convite de Chico Buarque, onde residiu por um ano no período da ditadura militar no Brasil. Outro destaque do documentário é o surgimento de sua amizade com Vinícius de Moraes que o alçou para se tornar conhecido tanto no Brasil quanto na Europa e América Latina. O sucesso da música Aquarela que foi traduzida para vários idiomas .

O filme perde força quando almeja contextualizar alguns momentos da carreira de Toquinho, ao repisar histórias já batidas sobre a bossa nova e da ditadura militar, que ficam não só deslocadas do enredo como flutuam narrativamente, que soam forçadas ao invés de orgânicas como as cenas evocadas para construir a imagem do músico de excelência, bom caráter, alegre e bon vivant como um apologista da boa gastronomia que é, o que inclusive justifica a presença do chef de cozinha Alex Atala como um dos personagens coadjuvantes do filme.  

A personalidade carismática de Toquinho é costurada pelo diretor através de depoimentos de grandes nomes da música brasileira como Gilberto Gil, Maria Betânia, Roberto Menescal e de Rolando Boldrin. Shows da época da juventude com Vinícius de Moraes são intercalados com turnês recentes no Uruguai e na Itália, onde Toquinho é reverenciado.
 
O documentário cumpre seu papel de uma cinebiografia que enaltece o protagonista, sem contudo problematizar aspectos da vida profissional do músico. Não adentra em questões da vida pessoal, nem opiniões políticas, passando à margem de qualquer aspecto que possa questionar a imagem de Toquinho. Também não tem preocupação com um trabalho de fotografia ou montagem mais apurados, entregando um formato de cinebiografia que já está desgastada em nossa cinematografia mais recente.

Comentários

  1. ALEJANDRO BERGER PARRADO23 de agosto de 2024 às 10:10

    OBRIGADO CARMELA, Muito obrigado pelas críticas, aprendo com elas para melhorar meu trabalho.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Quero saber o que você achou do meu texto. Obrigado!

Postagens mais visitadas deste blog

GODZILLA - MINUS ONE

Texto de Marco Fialho O maior mérito de "Godzilla - Minus One" está na maneira como o diretor Takeshi Yamazaki conjuga a história narrada com o contexto histórico do Japão pós segunda guerra. O monstro Godzilla é fruto direto do efeito nuclear provocado pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos.  O filme funciona como uma resposta à vergonha japonesa ao difícil processo de reconstrução do país, como algo ainda a ser superado internamente pela população. A partir desse fato, há um hábil manejo no roteiro para que a história funcione a contento, com uma boa fluência narrativa.  Aqui o monstro é revelado desde o início, não havendo nenhuma valorização narrativa, ou mistério, sobre a sua aparição. Mas se repararmos com atenção, "Godzilla - Minus One" é  um filme de monstro, embora se sustente tendo na base um melodrama de dar inveja até aos mais radicais da safra mexicana dos anos 1950. A história parte de Koichi, um piloto kamikaze que se recusa a executar uma or

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteiramente to

MOSTRA CINEBH 2023

CineBH vem aí mostrando novos diretores da América Latina Texto de Marco Fialho É a primeira vez que o CineFialho irá cobrir no modo presencial a Mostra CineBH, evento organizado pela Universo Produção. Também, por coincidência é a primeira vez que a mostra terá inserido um formato competitivo. Nessa matéria falaremos um pouco da programação da mostra, de como a curadoria coordenada pelo experiente Cleber Eduardo, montou a grade final extensa com 93 filmes a serem exibidos em 8 espaços de Belo Horizonte, em apenas 6 dias (26 de setembro a 1º de outubro). O que atraiu o CineFialho a encarar essa cobertura foi o ineditismo da grande maioria dos filmes e a oportunidade mais do rara, única mesmo, de conhecer uma produção independente realizada em países da América Latina como Chile, Colômbia, México, Peru, Paraguai, Cuba e Argentina, sem esquecer lógico do Brasil.  Lemos com atenção toda a programação ofertada e vamos para BH cientes da responsabilidade de que vamos assistir a obras difere