Texto de Marco Fialho
Pode-se dizer que "Limbo", filme australiano dirigido por Ivan Sen, é uma dessas obras aparentemente estáticas e impenetráveis. Essa é a ideia que o diretor parece querer construir acerca de uma sociedade onde uma hierarquização, dominada pelo racismo aos aborígenes, se impõe às relações humanas e impedem que haja uma efetiva harmonia.
"Limbo" narra a ida de Travis, um investigador de polícia, a uma pequena e estranha cidade onde encontramos pessoas que moram dentro das montanhas, tipo umas cavernas, para analisar se vale reabrir ou não um caso de desaparecimento de uma aborígene, Charlotte, ocorrido há mais de 20 anos.
O diretor Ivan Sen desde o início assinala que "Limbo" não será um convencional filme policial, com investigações surpreendentes e grandes reviravoltas na história. Ele prefere ir por um caminho bem diferente, bem mais tortuoso e oblíquo. A começar pela fotografia, marcada por um frio preto e branco acinzentado que foge dos contrastes, além de planos predominantemente fixos, que já demonstram o quanto a história não avançaria a largos passos.
O imobilismo talvez seja a maior marca de "Limbo", mesmo que o investigador Travis visite pessoas e lugares, tudo sempre parece não se alterar e poucas novidades são descobertas acerca do caso de Charlotte, como se os próprios envolvidos, família das vítimas e possíveis algozes, todos, se esforçassem por deixar tudo como está. Algo de sombrio e frio predomina quando Travis vai tentando revelar algum elemento do passado que justifique voltar à investigação.
Se a maior virtude de "Limbo" não é o esclarecimento dos fatos, a pergunta que o filme suscita é sobre a razão da sua existência. Essa é uma obra de investigações vazias, de personagens que pouco se mostram e se descortinam como indivíduos. Se o filme não avança em sua história, não é porque o diretor não tenha muito o que dizer, muito pelo contrário. O que Ivan Sen mais afirma em "Limbo" é sobre uma sociedade imóvel, cristalizada por uma hierarquização violenta, onde os povos originários não possuem direitos, sequer quando são perseguidos, sequestrados ou mortos. Os planos apáticos dizem isso, a aridez do ambiente parece penetrar nas almas dos personagens, sendo eles povos originários ou brancos.
Em "Limbo", mais importante do que acompanharmos uma história com começo, meio e fim é contemplarmos sobre esse vazio que o diretor Ivan Sen nos apresenta. A falta de dinâmica da história é compensada pela maneira como os personagens se relacionam cena a cena. Assim, ambiente árido, com suas paisagens cruas, se entrecruzam com esses personagens que não esperam muita coisa da vida, enquanto das esferas oficiais, melhor nem comentar o que se espera delas. Mas quando Travis começa a descobrir algumas pistas, vem uma ordem superior para se encerrar novamente o caso. Para uma sociedade assentada na indiferença à justiça, resta ao passado continuar bem enterrado, e o presente, tal como está posto.
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