Texto de Marco Fialho
"Conto de Fadas" é o mais novo trabalho do cineasta russo Aleksandr Sokurov. Apesar do título sugerir algo no mundo da fantasia romântica, o que vemos em si são personagens históricos como Hitler, Stálin, Mussolini, Jesus Cristo e Churchill vagando pelo purgatório, em uma referência direta à obra de Dante Alighieri. Falar de grandes nomes da história não deixa de ser uma marca de Sokurov como cineasta, basta pensar nas obras que fez a partir de Hitler, Hiroito e outros.
O filme do mestre russo se utiliza da tecnologia deep fake, que se aproveita de imagens de arquivo para simular novas situações, fazendo personagens já mortos moverem a boca, parecendo estar em uma conversa. Assim, vemos Stálin falando em um caixão, enquanto Cristo responde numa mesma perspectiva, igualmente deitado a conversar com o líder russo. As conversas que se seguem com os outros líderes não passam de trocas de alfinetadas, que tentam provocar um humor que soa sem graça.
"Conto de fadas" se assenta em imagens funestas e artificiais em preto e branco, que formam um fundo, um tipo de animação que se esforça em construir edificações e multidões visivelmente falsas, enquanto em um primeiro plano vemos os personagens duros meio que vagando a proferirem insultos mútuos.
No todo, as conversas não são lá muito profundas, não estão sustentadas por ideias ou ideais, apenas mais do mesmo desses célebres personagens da política mundial. Essas conversas soam vagas, frágeis e ficam dispersas ao léu da artificialidade que o filme proclama e poderíamos dizer até defasadas, tal como são estruturadas.
Se do ponto de vista técnico o começo de "Conto de Fadas" impressiona, afinal levamos um susto ao ver as figuras icónicas trocando farpas sob um ambiente etéreo, e até há uma beleza nesse todo, com o decorrer da trama pouca coisa acontece, o que torna o filme difícil de se sustentar. Portanto, não sobra texto, imagem ou qualquer outro artifício que o mantenha em pé, a não ser um formalismo vazio com figuras públicas para lá de conhecidas, historicamente situadas no século XX, perambulando a esmo, mas sem muito a proferir algo de interessante ou reflexivo acerca do nosso mundo do século XXI.
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