Texto de Marco Fialho
"Na água" talvez seja o filme mais inusitado da carreira do coreano Hong Sang-Soo, pelo menos dos últimos anos 10 anos, e olha que a produção de filmes do diretor é uma das mais abundantes, embora essa obra se utilize de um elemento mais insólito ainda para compor o seu novo trabalho, a imagem desfocada. "Na Água" foi exibido na mostra Enconteurs, no último Festival de Berlim.
Esse é o filme mais simples, singelo e intimista que Sang-Soo já produziu, inclusive ele concentra em suas mãos boa parte das funções artísticas, como direção, roteiro, montagem, fotografia, composição, além da produção. O filme narra a história de um jovem ator que resolve se enveredar para a direção, mesmo que não saiba bem o que quer filmar. Tudo gira em torno desse personagem e sua relação com uma atriz jovem e um cinegrafista.
Ainda que Sang-Soo tenha dois momentos dos personagens em torno de uma mesa, bebendo e comendo, a intensidade não é nem um pouco comparável com os longos planos de bebedeiras que se tomam um tempo sempre excessivo em suas narrativas. A maioria das cenas filmadas são desfocadas, o que explica o estado do jovem realizador, que busca em um lugar paradisíaco elementos destoantes, como a da moradora que passa alguns dias da semana a limpar a sujeira dos turistas.
Não tem como não refletir sobre a imagem desfocada que Sang-Soo nos apresenta na maior parte do filme, que se caracteriza como um elemento perturbador para o espectador. Claro que essa foi a opção dele para revelar o aspecto sensorial do protagonista, de como ele se sentia ao ter que assumir uma nova função na realização de um filme. Mesmo que o ruído imagético proposto pela direção tenha a sua função no filme, só realmente entendida na parte final do filme, o incômodo persiste em todos os momentos, atrapalhando significativamente a fruição da obra. Sem contar que a história parece ter sido feita muito no improviso e isso salta demais aos olhos.
Ainda que "Na Água" possua alguns atrativos na sua delicadeza e em alguns diálogos bem costurados, no todo, a impressão que fica é de que o desenvolvimento fica travado pela questão incomodativa da imagem. Esse trabalho de Sang-Soo passa longe de ser uma de suas obras mais inspiradas, tem lá a sua graça, mas para se usufruir dela é necessário engolir os sapos imagéticos que vêm juntos de alguns bons planos, que o diretor já cansou de mostrar que é capaz de realizar.
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