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CASSANDRO (2023) Dir. Roger Ross Williams


Texto de Marco Fialho

"Cassandro", drama biográfico mexicano, dirigido por Roger Ross Williams, tinha todos os ingredientes para ser um filmaço, um ator protagonista fantástico (Gael Garcia Bernal) e um tema interessantíssimo (um homem gay em meio a um ofício profundamente masculinizado). Porém, "Cassandro" não passa de um filme ok, correto, com alguns momentos bem filmados aqui e ali, que no todo se revela esquecível, pela total falta de ousadia narrativa do diretor, que escolhe narrar convencionalmente uma história que merecia bem mais.

"Cassandro" é o nome profissional de Saúl Armendáriz, um homem gay que pretende ser alguém na luta livre. No enredo, ainda utilizando o nome artístico de El Topo, ele encontra uma treinadora jovem que o incentiva a trocar o nome para Cassandro, o exótico retirado de uma novela mexicana chamada "Kassandra". Sua postura nos ringues muda, tornando-se mais irônico ao salientar trajes mais afeminados e grandiosos, o que o ajuda a cair no gosto popular, mesmo que ainda lhe recaia o preconceito homofóbico de parte do público. 

O maior problema de "Cassandro" está no seu roteiro monocórdio, em que tudo caminha sempre em um único tom narrativo, como se o filme estivesse no mesmo lugar, inclusive quando a história trazia elementos novos. A própria treinadora, Sabrina ou Lady Anarquia (Roberta Colindrez), uma mulher com grande potencial na história, fica à margem, passando a figurar mais nos dias de luta pelos cantos dos ringues. Alguns flashbacks da infância também são mal inseridos na narrativa, entrecortando-a e fazendo o filme perder o ritmo. O resultado é um filme muito travado, com histórias paralelas em demasia, como a da mãe, da infância, do pai (que abandonou a família), alguns outros que surgem durante a narrativa como Lorenzo (o dono de um bar), além de seus romances homoafetivos.

O que vai segurando "Cassandro" indubitavelmente é o carisma de Gael e a temática diferenciada, mesmo que a pulsão da trama sempre esteja abaixo dessas duas qualidades da obra, em especial, pelos excessos de francos que o diretor abre durante os 105 minutos do filme. As fossas do submundo são imensas e parece que o diretor Roger Ross Williams se perde entre elas e deixa de espraiar sua narrativas pelos escombros midiáticos que tão bem usavam o exotismo teatralizado das lutas livres para ganhar mais audiência. 

Assim, o termômetro de "Cassandro" não sai do morno e se perde em meio a tantos equívocos já estabelecidos pelos rumos tortuosos que nasceram lá no roteiro do filme. O exotismo da trama se envolve em um mar de convencionalismo narrativo que o enfraquece, que lhe retira todo o peso que poderia ter, ficando o filme restrito tão somente ao talento de Gael Garcia Bernal. Melhor do que não se ter nada.  

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