Texto de Marco Fialho
"Cassandro", drama biográfico mexicano, dirigido por Roger Ross Williams, tinha todos os ingredientes para ser um filmaço, um ator protagonista fantástico (Gael Garcia Bernal) e um tema interessantíssimo (um homem gay em meio a um ofício profundamente masculinizado). Porém, "Cassandro" não passa de um filme ok, correto, com alguns momentos bem filmados aqui e ali, que no todo se revela esquecível, pela total falta de ousadia narrativa do diretor, que escolhe narrar convencionalmente uma história que merecia bem mais.
"Cassandro" é o nome profissional de Saúl Armendáriz, um homem gay que pretende ser alguém na luta livre. No enredo, ainda utilizando o nome artístico de El Topo, ele encontra uma treinadora jovem que o incentiva a trocar o nome para Cassandro, o exótico retirado de uma novela mexicana chamada "Kassandra". Sua postura nos ringues muda, tornando-se mais irônico ao salientar trajes mais afeminados e grandiosos, o que o ajuda a cair no gosto popular, mesmo que ainda lhe recaia o preconceito homofóbico de parte do público.
O maior problema de "Cassandro" está no seu roteiro monocórdio, em que tudo caminha sempre em um único tom narrativo, como se o filme estivesse no mesmo lugar, inclusive quando a história trazia elementos novos. A própria treinadora, Sabrina ou Lady Anarquia (Roberta Colindrez), uma mulher com grande potencial na história, fica à margem, passando a figurar mais nos dias de luta pelos cantos dos ringues. Alguns flashbacks da infância também são mal inseridos na narrativa, entrecortando-a e fazendo o filme perder o ritmo. O resultado é um filme muito travado, com histórias paralelas em demasia, como a da mãe, da infância, do pai (que abandonou a família), alguns outros que surgem durante a narrativa como Lorenzo (o dono de um bar), além de seus romances homoafetivos.
O que vai segurando "Cassandro" indubitavelmente é o carisma de Gael e a temática diferenciada, mesmo que a pulsão da trama sempre esteja abaixo dessas duas qualidades da obra, em especial, pelos excessos de francos que o diretor abre durante os 105 minutos do filme. As fossas do submundo são imensas e parece que o diretor Roger Ross Williams se perde entre elas e deixa de espraiar sua narrativas pelos escombros midiáticos que tão bem usavam o exotismo teatralizado das lutas livres para ganhar mais audiência.
Assim, o termômetro de "Cassandro" não sai do morno e se perde em meio a tantos equívocos já estabelecidos pelos rumos tortuosos que nasceram lá no roteiro do filme. O exotismo da trama se envolve em um mar de convencionalismo narrativo que o enfraquece, que lhe retira todo o peso que poderia ter, ficando o filme restrito tão somente ao talento de Gael Garcia Bernal. Melhor do que não se ter nada.
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