Texto de Marco Fialho
"No Adamant" é um documentário francês, dirigido por Nicolas Philibert, ganhador do Urso de Ouro no último Festival de Berlim. O título se refere ao nome do barco que acolhe pessoas com transtornos mentais, situado às margens do Rio Sena.
O filme mistura o modo observacional e depoimentos de alguns pacientes, dados diretamente para a câmera. Nas cenas observacionais, acompanhamos reuniões e conversas entre os próprios pacientes ou entre alguns administradores e oficineiros. O diretor Nicolas Philibert não fornece nenhuma cena explicativa sobre o trabalho realizado no Adamant, apenas vai perfilando cenas com as atividades desenvolvidas no local.
A proposta de tratamento psiquiátrico adotado no Adamant é diferenciada e nada convencional. Lá os pacientes frequentam oficinas de música, de desenho, de pintura, de dança, de gastronomia, dentre outras opções, além de organizarem um cineclube e um bar. Há uma similitude muito grande com as ideias da doutora brasileira Nise da Silveira, de trabalhar com o lúdico e explorar a arte como uma forma de terapia, se não de cura, pelo menos na melhoria da qualidade de vida dos frequentadores.
Em "No Adamant", o maior protagonista é o próprio barco e o resultado dos tratamentos. A todo instante, os personagens se alternam, alguns aparecem e depois não o vemos mais, enquanto outros avistamos novamente em algum outro momento. Esse formato pulveriza os personagens, fazendo que o documentário não tenha um único protagonista ou um pequeno grupo destacado. Tudo fica um pouco solto, como se o diretor quisesse sublinhar a leveza do lugar como o elemento mais importante do processo entre médicos e pacientes. Talvez a palavra paciente seja pesada demais para expressar tudo o que ocorre no barco.
Ao final, vemos um registro bem livre e solto dos resultados das oficinas, do processo de organização e das relações provenientes desse projeto que visa tratar pessoas com transtornos mentais variados. Sem dúvida, "No Adamant" vai cena a cena nos conquistando mais e mais, com seu jeito despojado e simples de captar um trabalho importante de fazer as pessoas envolvidas se sentirem melhor, mais reconectadas com o mundo.
Há um aspecto humanitário fundamental nas energias que transitam pelo barco, o que conecta o espectador com o filme, embora, paradoxalmente, o faça descambar para o disperso, pois tem momentos que gostaríamos de conhecer os resultados de forma mais verticalizada e aprofundada. A horizontalização da proposta fragmenta o resultado, torna o todo um tanto homogêneo, o que impessoaliza por demais o documentário, como se o foco fosse o trabalho institucionalizado e não as pessoas em si.
Apesar de "No Adamant" figurar como um registro interessante, tudo fica por demais desarticulado e frouxo, perdido em um mar de superficialidade, mesmo que os momentos de beleza sejam efetivos e verdadeiros em algumas partes do documentário.
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