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Mostrando postagens de março, 2025

O MACACO (2024) Dir. Oz Perkins

Texto por Marco Fialho  Osgood Perkins, ou Oz Perkins, vem se destacando como um dos bons diretores no universo do cinema de horror. Fez muito sucesso com seu último longa, Longless - Vínculo Mortal , o que chamou atenção para seus trabalhos posteriores. O Macaco é o novo filme do diretor, que ainda tem no forno Keeper , com previsão de lançamento para ainda este ano.  O Macaco se assemelha a uma fábula macabra de como a infância pode marcar a vida de uma pessoa, inclusive em seus aspectos mais sinistros. No filme, um macaquinho de brinquedo, daqueles que funcionam dando uma simples corda para a seguir tocar um tambor ou bater um prato, se transforma em uma máquina mortífera. Pelo menos é o que acreditam os irmãos gêmeos, Bill e Hal (Theo James) que ao dar corda no macaco alguma morte acontece no entorno, ao mesmo tempo que protege que lhe dar a corda.  Na história, o macaquinho é achado por Bill e Hal quando ainda crianças mexem nos objetos deixados pelo pai, que abandon...

AMIZADE (2024) Dir. Cao Guimarães

Texto por Marco Fialho Cao Guimarães é um dos realizadores brasileiros mais coerentes e consistentes que temos hoje em atividade. O seu cinema é criativo, destemido e idiossincrático. Amizade, seu mais recente trabalho é tomado por uma atmosfera poética e de indagações filosóficas, muito devido ao caos que invadiu a vida do planeta a partir das pandemia do Coronavírus e que colocou a vida na iminência repentina do seu fim, provocando reflexões sobre as nossas formas de viver e estar no mundo. Amizade soa como uma autorreinvenção da vida por meio do cinema. Interessante como Cao fica motivado em pensar a amizade como elemento central, não que se almeje fazer um inventário do tema, muito pelo contrário, o que ele quer é poetizar o tema, com uma narração em off que joga ideias aparentemente soltas e aleatórias enquanto vemos imagens que encantam por um viés impressionista, que não se compraz em ser descritiva, e sim que funcionam como camadas interrogativas, vivas e regadas na inteligênc...

MÚSICAS QUE HABITAM EM MIM Nº 10 - VAMOS FUGIR - GILBERTO GIL - Crônica

Texto por Marco Fialho Uma das sensações mais gostosas de sentir é a de estar em um carro, rumo a uma praia e ouvir a canção Vamos Fugir , de Gilberto Gil. Quem nunca experimentou, deveria um dia viver essa satisfação incontida. O lançamento dessa canção data de 1984 quando eu tinha 19 anos e ela marca o auge da minha adolescência e juventude, em que ir de carro à Praia da Reserva na Barra da Tijuca para curtir uma praia praticamente deserta era uma delícia, ainda mais dirigindo o meu Gol 1983, uma versão a álcool, que para ligar pela manhã cedinho tinha que puxar o afogador de gasolina e ficar insistindo até o motor resolver responder.  Mas fora as lembranças de uma época hoje pra lá de remota, nos estertores da ditadura militar, sinto que algo de Vamos Fugir incrostou em mim, como um simbólico de liberdade. Entretanto, o mais interessante é que essa canção para mim significa algo maior, um tipo de hino para quem sonha se libertar do horror que se transformou o mundo. Será que a m...

PEQUENAS COISAS COMO ESTAS (2024) Dir. Tim Mielants

Texto por Marco Fialho Pequenas Coisas Como Estas  é um bom exemplo de uma obra que quer discutir uma questão social importante, mas que o faz a partir das exploração psicológica de um personagem, no caso de Bill Furlong (Cillian Murphy), um homem introspectivo com um passado traumático cujo presente está prestes a lhe lançar um desafio.  Contudo, Pequenas Coisas Como Estas surpreende positivamente, e muito, pela narrativa contida, pelos pequenos gestos e por uma fotografia que sabe aquecer o coração e manter na alma uma textura seca. A atuação de Cillian Murphy se destaca pela extrema sensibilidade na composição desse personagem conturbado, que vive com uma mancha do passado pairando sobre a sua existência. Ele trabalha numa firma que fornece carvão e assim precisa ir no convento para fazer entregas.   Pequenas Coisas Como Estas se constrói sem pressa, explorando os silêncios e os tempos mais longos que propiciam as reflexões de Bill. Tim Mielants trabalha uma crítica ác...

SEM CHÃO (NO OTHER LAND) 2024 Dir. Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal e Rachel Szor

Texto por Marco Fialho Tem documentários que mais do que essenciais, são humanitários. É o caso de Sem Chão (No Other Land) , dirigido por um coletivo palestino-israelense, que luta contra o genocídio que o Estado de Israel vem impingindo ao povo palestino. O filme trata da cidade de Massafer Yatta, na Cisjordânia.  A câmera de Basel Adra registra o massacre inclemente com imagens cruas que documentam a dura vida de agricultores e pessoas simples que presenciam policiais demolirem suas casas, e até escolas, com um sentimento que mistura impotência, raiva e tristeza. Pessoas são mortas sem piedade, à sangue frio não só pelo aparato policial, mas também por colonos israelenses armados que criam um tipo de milícia armada para tomar na violência e no tiro os territórios de palestinos assentados ali desde o século XIX.  O filme registra ainda o encontro de Basel com Yuval, um jovem jornalista israelense inconformado com a política do Estado de Israel, e por isso se junta à lut...

SOBREVIVENTES DO PAMPA (2024) Dir. Rogério Rodrigues

Texto por Carmela Fialho  O documentário Sobreviventes do Pampa do diretor Rogério Rodrigues mergulha no bioma do Pampa optando por entrevistar indígenas, quilombolas, assentados, pequenos e grandes produtores rurais, um apicultor, músicos, moradores e estudiosos, sempre in loco , buscando traçar um panorama diverso e múltiplo desse território.  O objetivo do documentário é denunciar a destruição do Pampa pela expansão do agronegócio da soja e do arroz, além da plantação de eucalipto e do uso abusivo de agrotóxico que destrói o ecossistema e envenena a água, matando os seres vivos. Um mérito de  Sobreviventes do Pampa é o seu   farto material de pesquisa, que merecia um melhor decantamento para que o documentário não se dispersasse na profusão de informações que não amarram a narrativa. Na ânsia de querer dar voz a tantos segmentos, inclusive dos proprietários do agronegócio, o filme se perde por não conseguir fazer escolhas.      A abordagem escolhi...