Texto por Marco Fialho
Osgood Perkins, ou Oz Perkins, vem se destacando como um dos bons diretores no universo do cinema de horror. Fez muito sucesso com seu último longa, Longless - Vínculo Mortal, o que chamou atenção para seus trabalhos posteriores. O Macaco é o novo filme do diretor, que ainda tem no forno Keeper, com previsão de lançamento para ainda este ano.
O Macaco se assemelha a uma fábula macabra de como a infância pode marcar a vida de uma pessoa, inclusive em seus aspectos mais sinistros. No filme, um macaquinho de brinquedo, daqueles que funcionam dando uma simples corda para a seguir tocar um tambor ou bater um prato, se transforma em uma máquina mortífera. Pelo menos é o que acreditam os irmãos gêmeos, Bill e Hal (Theo James) que ao dar corda no macaco alguma morte acontece no entorno, ao mesmo tempo que protege que lhe dar a corda.
Na história, o macaquinho é achado por Bill e Hal quando ainda crianças mexem nos objetos deixados pelo pai, que abandonou eles e a mãe, sem nunca mais dar uma notícia sequer de seu paradeiro no mundo. A ausência paterna é um dos significados plausíveis para se interpretar essa história e um indício que deixa isso mais explícito ocorre somente na fase adulta deles, quando Hal tem um filho no qual evita criar laços de maior afetividade ao preferir se afastar deliberadamente do menino, o encontrando apenas eventualmente durante o ano. Essa desagregação familiar está no cerne da história e funciona como uma maldição a ser vencida pelos irmãos na fase adulta.
Oz Perkins é muito feliz na maneira como concebe O Macaco. Em muitos momentos, ele recria a sua história contaminando a narrativa por um viés inspirado nos giallos italianos, que abusam da estética gore e numa câmera que gosta de se infiltrar na cena e sublinhar os pontos de vista dos personagens. A música também é outro elemento crucial na narrativa, conferindo movimento e às vezes comicidade. Esse é um filme realizado por quem mais do que admira, estuda o gênero e se diverte com ele. O mais interessante é que o macaco em si não mata ninguém, as mortes simplesmente acontecem e as conclusões são tiradas a revelia.
O mais importante é que as sucessões de mortes são muito bem executadas, com efeitos especiais e sonoros bem orquestrados. Algumas são especialmente confeccionadas, como a das abelhas entrando massivamente pela boca de um personagem ou quando uma bola de ferro afunda a cabeça de um personagem na parede. Cito aqui alguns exemplos, mas são várias as cenas realizadas com esmero pela equipe. Há ainda os cortes rápidos em que se intercalam planos que combinados outorga um ritmo apropriado à narrativa. Cenas de mortes articuladas com os movimentos do macaquinho tocando tambor enquanto mortes são brilhantes e jogam o filme numa espécie de universo fabular.
O diretor Oz Perkins mais uma vez prova que é chegado em personagens que beiram a insanidade, caso de Bill, um dos irmãos que com o decorrer dos anos pira, já que para ele os acontecimentos são pensados pelo macaco, mesmo que não se explique como exatamente esse encantamento se concretiza, ele apenas acontece quando a sua mão desce em direção ao tambor. Oz leva ao limite essa ideia, sem jamais querer fomentar elementos simbólicos que a tangenciem, mas ao contrário, tudo é por demais concreto e real, mesmo na idade adulta, como se a infância permanecesse ainda tanto em Hal quanto em Bill.
De todos os trabalhos de Oz Perkins, O Macaco se mostra o mais maduro, consistente e criativo ao fugir das saídas rasteiras que povoam o gênero. Há exageros sim, mas esses estão no plano das mortes inusitadas não no roteiro, que busca coerência dentro do universo fantástico na qual a história transcorre. Esse é um filme perspicaz, que sabe equilibrar o enredo sem soar explícito ou gratuito, bem equilibrado entre o universo ficcional e as reflexões que estão subliminarmente inseridas na trama. Os traumas de infância advindo do abandono parental está no cerne do filme, desde a primeira até a última cena. Méritos para Oz que realiza o seu trabalho mais vigoroso até o momento.
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