Texto por Marco Fialho
Código Preto, novo filme do diretor Steven Soderbergh, é um thriller de espionagem filmado com requinte e um humor implícito afiado e que conta com atores do calibre de Cate Blanchett e Michael Fassbender. Apesar de Soderbergh realizar uma direção segura e precisa, essa é uma obra daquelas que se esquece horas depois do fim da sessão.
Fassbender e Blanchett formam respectivamente o casal de espiões ingleses George e Kathryn Woodhouse. Ambos estão elegantérrimos em suas interpretações, ele mais contido e ela mais insinuante. Ela é suspeita de traição e o ponto de partida para uma trama daquelas em que a mentira ronda tanto os personagens que em certa hora perdemos a noção quem fala a verdade.
O maior mérito do filme como entretenimento está na maneira como Soderbergh arquiteta cenas que mais parecem um jogo de tabuleiro, arremessando o público para dentro da história, por mais que fiquemos perdidos com aquelas informações falsas que dificultam a espionagem e o próprio espectador, este último, ávido e ansioso por não perder nada que atrapalhe o acompanhamento e os pormenores da trama.
A fotografia é um dos elementos que mais chama a atenção em Código Preto. Logo na primeira cena, Soderbergh gruda a câmera nas costas de George para colar logo de cara público e personagem, e mostrar o quanto será preciso ficar atento às mirabolantes tramas de espionagem que circularão pela tela. A luz causa sempre um estranhamento, ou pelas cores quentes que mesclam com outras que beiram o estourado e criam um clima de irrealidade e mistério. E isto faz sentido dentro desse universo tão inusitado que é o da espionagem.
Soderbergh delimita o filme em um grupo de espiões atípicos, quase todos formando casais. Assim, a trama além de voltada para o trabalho de espionagem em si, também ganha nuances de supostas traições entre os casais, que embora não vemos ficamos a desconfiar, já que Soderbergh explora muito a troca constante de olhares entre os personagens. Em jantares e reuniões os jogos são estabelecidos, o que deixam as relações quase sempre em instabilidade.
Código Preto não deixa de ser um filme que basta por si, que mergulhamos como um agradável passatempo, mesmo que as suas marcas desgrudam de nossa pele no primeiro banho que tomamos. Bons atores, boa música, enfim, um jogo agradável que usufruímos e que já vem com uma data de validade impressa.
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