Texto por Marco Fialho
Em termos gerais, O Melhor Amigo é um filme para lá de manjado na indústria do cinema, uma comédia romântica que insere um musical para tornar o formato mais leve e digerível. Mas o maior diferencial do filme é dele ser voltado para o público LGBT. O filme tem origem em um curta homônimo do próprio Allan Deberton, mas que aqui pode expandir para uma ideia mais ampla, se transformando numa espécie de filme de verão.
Apesar de ser voltado mais especificamente a um público alvo, O Melhor Amigo capricha em cenas de transas, paqueras e troca de casais, entretanto sem nunca realmente fazer cenas de sexo explícito, já que a direção almeja alcançar com isso um público mais amplo de simpatizantes contra o preconceito LGBT. Quilômetros separam, por exemplo, essa obra das de Bruce Labruce, que encena transas explícitas em seus trabalhos. Aqui tudo fica na insinuação e na sugestão, embora mesmo assim possa incomodar parte do público que ainda não suporta cenas de beijos, apertos e chupões trocados entre homens.
Narrativamente, o que mais me chamou a atenção em O Melhor Amigo é a incorporação de um formato novelesco à trama, de Lucas (Vinicius Teixeira), um rapaz desiludido em sua relação com o namorado decidir fazer uma viagem até a paradisíaca Canoa Quebrada, onde encontra Felipe (Gabriel Fuentes), um pretendente da antiga, que foi nada menos que o seu primeiro amor. Esse aspecto traz uma leveza ao filme de Deberton, que já havia aparecido forte em seu primeiro longa, o igualmente musical cômico Pacarrete (2019), estrelado pela icônica Marcela Cartaxo e prejudicado em sua distribuição nos cinemas devido ao avanço da pandemia em 2020.
Há em O Melhor Amigo uma embalagem nitidamente pop, em especial pelo uso das músicas que compõe o musical. Assim, clássicos dos anos 1980, como Amante Profissional (Erva Doce), Perigo (Zizi Possi), Doce Mel (Xuxa), La Conga (Gretchen), Retratos e Canções (Sandra de Sá), Mais Uma de Amor - Geme Geme (Blitz) cantados pelos próprios atores, desfilam em formato de videoclipe coreografado, de cores vivazes, o que mantém a fluidez e leveza pretendida pelo filme.
O Melhor Amigo privilegia duas frentes: uma que planeja aproximar o público em geral do universo LGBT, historicamente imerso em preconceitos; e em segundo lugar, dar ao próprio público LGBT uma fonte de divertimento descartável, descontraído e ameno. Não se deve esperar de O Melhor Amigo algo a mais ou uma ousadia de linguagem, narrativa ou de personagens densos. A ideia aqui é oferecer uma história de amor rasa, músicas emblemáticas de uma época, pegação moderada e imersão em um universo LGBT genérico e sem profundidade. É isso o que o filme entrega e ponto final. Basta então pegar uma pipoca e refri e curtir uma sessão da tarde diferente e divertida, aproveitando para desfrutar de brinde dois números musicais de Gretchen, sem medo de ser feliz.
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