Texto por Marco Fialho
"O Bixiga é Nosso!" é aquele documentário que não tem vergonha de assumir o seu lugar no mundo. Se coloca como crucial na discussão sobre a importância da cultura como meio de luta para uma população marginalizada pelo poder instituído e pelas elites escravocratas que ainda mandam na política brasileira. Creio que estar marginalizado em São Paulo é obrigar-se a uma visão mais crítica da história da cidade, de se saber em contínua resistência frente ao avassalador poder econômico que destrói a natureza em nome do lucro.
Por isso, o documentário de Rubens Crispim Jr. começa com a luta comunitária para se reconhecer o passado quilombola da região, assim que as obras do metrô ganham força e revelam os subsolos do Bixiga, os vestígios de uma comunidade que resistiu urbanamente contra o domínio patriarcal das elites paulistas.
Rubens Crispim Jr. assume todos os riscos ao falar de uma região rica culturalmente, que possui um passado de grande lastro na cidade, que guarda uma origem afro-brasileira importante. O filme tem lá seus momentos de dispersão, de parecer querer abarcar mais do que pode e consegue, mas o diretor pressente os deslizes e toma as rédeas do seu filme sempre se escorando no poder popular, na força do coletivo para por a todos instantes o seu trem narrativo nos trilhos.
Apesar de ter pouco mais de uma hora de duração, "O Bixiga é Nosso!" discursa sobre muitas coisas e se expande no território do Bixiga, o ampliando ao mostrar quantas forças habitam nele desde os movimentos negros até o Teatro Oficina de Zé Celso, passando ainda pela Escola de Samba Vai Vai.
O que o documentário nos mostra de maneira consciente é o quanto esse território é vivido como luta e resistência (ou seria existência, como defende um experiente militante do bairro). Rubens Crispim até busca algumas imagens de arquivo, mas sem dúvida, são as imagens atuais as que mais impressionam, como o ato de 3 moradores de transformar o lixão que era debaixo de um viaduto em uma linda área de convivência. Ou ainda, o projeto que transforma a rua em uma quadra de futebol.
A força de "O Bixiga é Nosso!" está justamente nos personagens que mostram a importância de se valorizar as ações coletivas em uma cidade que os poderosos só pensaram na verticalização em detrimento do bem-estar de todos. É de arrepiar ver o vigor desse povo que faz do bem coletivo a sua razão de viver.
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