Texto por Marco Fialho
Que fique claro desde agora nas primeiras linhas: para mim o filme Better Man - A História de Robin Williams, biografia musical inspirada na vida artística do cantor pop inglês, e dirigida por Michael Gracey, ficou difícil de digerir. Em especial por conta tanto de um lastro egocêntrico quanto de uma considerável tendência megalomaníaca que parte do personagem e que se estende e expande para o filme. O problema maior é que essas características intrínsecas à obra não me deixaram interagir plenamente com o que via, pois sempre me afastavam dela e me impedia de ter uma fruição mais prazerosa. A cada nova cena, uma nova rejeição e assim foi até a última cena.
Fora essas questões acima, a própria narrativa escolhida me causou igualmente repulsa. Do início ao fim, o que predomina é uma linguagem de videoclipe, isto é, são pouco mais de 2 horas de algo alucinante, mas o maior problema é que dessa fruta extraímos muito pouco suco. O que é a vida desse artista que só queria ser famoso e usou da arte para isso, como um artifício de sua vaidade egóica e sem muito ter o que dizer.
Assim, acompanhamos suas relações familiares, o seu pai um artista que gostava de cantar clássicos de uma determinada época, tendo como maior referência o cantor Frank Sinatra. Robin Williams também contou com o incentivo quase solitário da avó, a única que acreditou que poderia chegar em algum lugar. Na vida de juventude, Robin entra em uma boy band e consegue um sucesso, que precisa dividir com mais 4 rapazes, porém o seu ego não suporta ser coadjuvante por muito tempo.
Mas quem era Robin Williams, o que ele ofereceu para a música? Pelo que o filme mostra, pouca coisa. Jovem entregue as drogas e bebidas (como tantos outros de várias gerações), e além disso uma determinação em ter fama, sempre demonstrando arrogância e um imenso vazio espiritual. Evidente que com essa personalidade autocentrada, Robin Williams não teve realmente uma mulher que quisesse partilhar a vida com ele. E convenhamos, como é insuportável ter que compartilhar qualquer coisa com essa chuva de ego que é Robin Williams. É importante mencionar que Robin Williams está mencionado nos créditos como produtor executivo, isto é, tudo passou por ele, da realização à finalização.
Durante vários meses se ventilou uma divulgação pesada de Better Man - A História de Robin Williams, nos cinemas, canais a cabo, internet, enfim, provavelmente para superar a falta de conteúdo e talento musical do personagem (um cantor chatérrimo e insuportável, um desses que só uma indústria milionária pode criar) e enfiaram goela abaixo do público uma ideia de um cantor com uma máscara de macaco. De criança até a vida adulta, vemos Robin Williams como um macaco. Isso poderia ser até um artifício interessante e provocativo, mas acaba não sendo. O que transparece é que a personalidade egóica é tão forte que ele queria ser visto como um ser humano diferente de todos. Sim, porque ninguém é mais único do que Robin Williams, tão especial e diferente, só que não. Ele disse certa vez que a figura de um animal cria maior laço com as pessoas, o que nos induz a pensar que se trata de um mero jogo de marketing. O que vemos o tempo todo no decorrer do filme é uma personalidade vazia, sem graça e talento artístico, apenas um produto bem embalado para ser vendido na indústria de massa.
Better Man - A História de Robin Williams termina em um show acústico do artista onde homenageia a família, onde se vende a sua imagem como um vencedor apesar dos percalços, um milionário, já que o que importa é o quanto você ganhou na carreira, a sua megalomania. O mais assustador nesse momento, em que a família está presente, é o que o cantor vê, no caso, várias versões de si mesmo na arquibancada. Mais uma vez o que vemos é uma mera aparição egocêntrica e fútil. O filme funciona até como um videoclipe bem realizado e produzido, em especial porque grana não é o problema para essa indústria que só quer vender uma imagem de sucesso. A própria canção My Way, um dos grandes sucessos de Frank Sinatra, aparece no início do filme e no fechamento, para criar uma relação forçada e artificial com o pai, e lógico, com o público, pois essa é uma canção de forte identificação, impossível de não se envolver com ela. Mais uma malandragem apelativa daquelas da direção.
Esse é um filme daqueles sem respiro, onde somos atropelados pelas fases do artista sem o menor constrangimento, somos entupidos por videoclipes maçantes e chatos, em que apenas funcionam como espetáculos ocos de um ser humano sem maiores atrativos. Mas a mensagem existe e ela é perfeita para quem gosta e vê no cinema algo que deva ser edificante, que alimenta a possibilidade de qualquer um chegar longe na nossa sociedade, de se enriquecer quando se tem persistência e se batalha para isso. Por isso, Better Man - A História de Robin Williams vai na contramão de tudo o que eu acredito na vida e no cinema. Não questiona nada, apenas justifica o sucesso e a fama de um artista que não tem muito a oferecer às artes e à vida. Uma massaroca daquelas que ficam emboladas na boca e a gente não consegue fazê-las descer de jeito nenhum. Haja antiácido no mundo.
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