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AVALIAÇÃO E COMENTÁRIO DOS FILMES VISTOS

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ESPECIAL MOSTRA DE SÃO PAULO 2022

O GAROTO MAIS BONITO DO MUNDO
Dir. Kristina Lindström e Kristian Petri
Onde: Mostra de SP (reprise)
COTAÇÃO: 8
Impressão: A beleza como maldição. Assim pode ser definida a vida de Björn Andrésen, o jovem ator que viveu Tadzio, no célebre filme "Morte em Veneza", de Luchino Visconti. O documentário parte da imagem atual do ator, hoje com mais de 60 anos de idade, que busca entender seu passado nebuloso, como o desaparecimento da mãe e a ausência do pai, assim como a morte inesperada do filho e o distanciamento da filha. São tragédias que vão se contrapondo com a carreira que se respaldou pelo sucesso em "Morte em Veneza". Um documentário duro e angustiante, que revela a imagem triste de Andrésen, suas dores e tentativas de se reconectar com a vida. Impactante, tocante e verdadeiro demais.
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LOUIS ARMSTRONG BLACK BLUES
Dir. Sacha Jenkins
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 9
Impressão: Um documentário rico em imagens, depoimentos e interpretações brilhantes de Louis Armstrong e seus diversos parceiros de vida e arte. ´Salienta-se a maneira como o diretor Jenkins vai amarrando os conturbados contextos históricos, sempre pontuando como Armstrong lidava com essas situações. Há um esforço por compreender como Armstrong conseguiu sobreviver ao forte racismo com sua personalidade conciliadora que muitos viam como de submissão à ideologia supremacista em voga no sul dos estados Unidos. Ao entender as nuances históricas do personagem, Jenkins dignifica a abordagem ao respeitar as limitações de Armstrong perante as conjunturas racistas que enfrentou na vida.    
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AFTERSUN
Dir. Charlotte Wells
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um dos pontos altos dessa história relativamente simples é a enorme sensibilidade com que a diretora Charlotte Wells trata os personagens. Um filme sobre um raro encontro entre pai e filha que não moram no mesmo país. A memória detonada por meio de um filme de férias registrado pela menina em uma câmera Mini-DV. Mais do que o presente, mergulhamos não só nessas imagens, muitas vezes destorcidas e pixeladas, mas também nos acontecimentos do passado que marcaram o encontro entre pai e filha, em um hotel de luxo decadente. O carinho entre eles é revelado por pequenos gestos. O espectador encontra nesse filme a força e o prazer da sutileza pelo cinema, o toque feminino da diretora está posto em vários momentos e isso é encantador. A vida está além de uma VHS, felizmente.  
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COM AMOR E FÚRIA
Dir. Claire Denis
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 5
Impressão: O filme de Denis retrata Sara, uma mulher dividida entre o amor de dois homens do seu passado, Jean e François. Denis se perde entre os três protagonistas e quando decide enfim priorizar Sara o filme já desandou. As emoções confusas de Sara parece escorrer para o filme e o tornando difícil na maior parte do tempo. A ausência de ritmo nos afasta sistematicamente da história. Infelizmente, não é uma Denis em seu melhor momento, mesmo que a sempre estupenda Juliette Binoche se esforce para que tudo dê certo. Vincent Lindon está no mesmo termômetro de outros projetos anteriores, sem brilho algum, como na maioria das vezes. O desfecho libertário do final salva o filme da catástrofe total.   
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ALCARRÀS 
Dir. Carla Símon
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Carla Símon articula, por meio da história de uma família, as contradições de uma sociedade cruel. A diretora começa o filme em banho-maria e aos poucos vai apresentando os personagens e fazendo nos apegar a eles, sempre em um tom que beira o documental, de tão descritivo que é do cotidiano dessa família. O ponto de vista da família lentamente vai se afirmando e isso cria um fato interessante na mudança das relações no campo. Há anos atrás, o patriarca da família negociou de boca o uso da terra, agora, o que se impõe é a ausência de direitos desses trabalhadores rurais e o uso da força e do autoritarismo para se estabelecer novos interesses comerciais. Carla Símon cola sua câmera nesses trabalhadores e ignora por completo os donos da terra, deixando claro a sua visão sobre o conflito que está desenhado na trama. 
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VOCÊ PRECISA VIR E VER 
Dir. Jónas Trueba
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 6
Impressão: A música não é a mesma para cada um de nós. É o que parece dizer a primeira sequência do filme. Essa talvez seja uma boa síntese para "Você precisa vir e ver", uma película impressionista de Jónas Trueba. O diretor trabalha com sensibilidade o momento da pandemia do Coronavírus, por meio de dois casais amigos que se encontram para depois logo a seguir marcarem um segundo encontro. Pouco é dito nesse filme onde a placidez e uma atmosfera melancólica dão a tônica da obra. Mais do que ser entendido, esse é um filme para ser sentido nas entrelinhas e nas suas lacunas, que são muitas. Trueba permite que as emoções fluam, mesmo que por vezes elas se evaporem no ar.      
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BENEDICTION
Dir. Terence Davies 
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Um filme delicado e com tons melancólicos. Davies presta uma homenagem à geração que participou da Primeira Guerra Mundial. A história gira em torno do escritor Siegfried Sassoon, um autêntico revoltado contra a guerra que se estendeu por demais e matou muito mais do que o necessário. Davies demonstra toda a sua sensibilidade e refinamento habituais para tratar de temas delicados para os anos 1910 e 1920 com muita sutileza e elegância formal a sexualidade de Sassoon. Mais uma fotografia primorosa e um capricho narrativo sempre permeado tanto por belas poesias quanto por músicas encantadoras e com interpretações precisas e contidas, bem afeitas ao universo de Davies.   
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INVENTÁRIO
Dir. Darko Sinko
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um filme seco, e estranho, vindo da Eslovênia sobre um homem que sem aparente motivação sofre um mal sucedido atentado de morte. A cada nova cena, a dúvida vai se instalando nele e em nós. Afinal, quem iria querer matá-lo, um homem comum e sem inimigos aparentes? Todos a sua volta tornam-se suspeitos e Bóris se vê mergulhando em si mesmo e tentando observar a sua vida de fora, para quem sabe poder descobrir o autor ou autora dos disparos. Um filme enigmático até a última cena, pois de repente nos tornamos cúmplices de suas desconfianças. A trama traz impactantes questionamentos sobre a paranoia de viver sem certezas e nos provoca um estranhamento por não sabermos em quem confiar. Em uma palavra: desconcertante.
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O FILME DA ESCRITORA
Dir. Hong Sang-soo
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Nem na pandemia o profícuo Hong Sang-soo deu trégua aos fãs. "O filme da escritora" é mais um em que ele exercita o seu estilo cinematográfico, onde mesas de comida, bebida e conversas infinitas estão presentes. Apesar de tudo parecer mais do mesmo, a trama é muito curiosa ao brincar tanto com a crise criativa quanto com a pulsão criativa dos artistas. Interessante como em poucos e longos planos-sequências, Sang-soo vai nos empurrando de uma situação para outra, em movimentos que lembram muito  o próprio pêndulo da vida a nos impressionar com curvas sinuosas quando pensamos estar em plena reta. Os atores estão incríveis e a presença da musa de Sang-soo, Kim Min Hee é luminosa como sempre e garante um charme a mais ao filme, e o final ardiloso, nos deixa sem chão.

FIM DA COBERTURA DA MOSTRA DE SÃO PAULO 2022   
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OS FABELMANS
Dir. Steven Spielberg
COTAÇÃO: 9
Impressão: Desde a primeira cena, "Os Fabelmans" deixa claro que o cinema é o maior personagem do filme. Spielberg inspirando-se em sua autobiografia realiza uma obra sensível, familiar, que pode ser vista como uma ode ao cinema. É como se Spielberg fosse montando não só um quebra-cabeça da sua relação com o cinema, mas também como o cinema o foi escolhendo. Primeiro, quando muito pequeno, sentiu o medo do gigantismo do cinema, depois o impulso irremediável de reproduzir a cena que mais o impactou no filme. "Os Fabelmans" narra a descoberta dessa paixão pelo ato de filmar, e vai mais fundo ainda quando descobre o poder intrínseco das imagens filmadas na vida de sua família, inclusive o poder de destruição que elas podem atingir. No momento mais importante da trama, no maior ponto de virada, me lembrou muito de "Blow-Up" (1966), filme do mestre Michelangelo Antonioni, quando o protagonista ao fotografar um parque descobre um assassinato. Mas nada se equipara a sequência final, onde a homenagem ao cinema se expande a olhos vistos. Primeiro com o encontro do jovem aspirante a diretor com o ídolo maior, o mestre John Ford. Segundo, na mesma sequência Spielberg nos presenteia com a imagem de Ford representada de maneira magnífica e icônica por outro mito do cinema contemporâneo, David Lynch. Terceiro, a aula que o veterano Ford oferece ao jovem aspirante sobre como filmar o horizonte em um filme. E por último, nesta mesma sequência, vemos uma série de cartazes dos filmes de Ford pendurados na parede até que avistamos o cartaz da obra-prima "O Homem que matou o facínora", o mesmo em que o protagonista Sammy (um alter ego de Spielberg) já havia visto na adolescência antes de assistir ao filme em um cinema. "Os Fabelmans", ao meu ver, é um dos grandes trabalhos de Spielberg para o cinema.
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CLOSE
Dir. Lukas Dhont
COTAÇÃO: 9   
Impressão: "Close" esbanja sensibilidade ao tratar temas socialmente espinhosos, como a das relações amorosas e sexuais na adolescência, do suicídio, do bullying, da culpa e da busca desesperada pelo perdão, mesmo quando este sequer seja necessário de ser pedido. O diretor Lukas Dhont acerta ao escolher narrar a história de Leo (Eden Dambrine, que ator!!) e Remi (Gustav De Waele) pelo olhar carinhoso de Leo. As interpretações delicadas são fundamentais para o êxito deste filme, assim como a direção de Dhont sempre atenta e respeitosa com o tempo de cada personagem. Em algumas cenas o silêncio rouba a cena e garante a afetividade dos sentimentos. Se do ponto de vista cinematográfico o filme é simples, sem floreios e grandes impactos, do ponto de vista narrativo há uma fluência a nos cativar em uma história densa e perpassada por um rigoroso senso de observação. Cada olhar dos atores dizem toneladas de coisas e olha que esses olhares abundam. De certa forma "Close" é o percurso do olhar de cada um dos personagens, que chegam a tirar o fôlego de quem assiste. Há um divisor de águas no filme quando os meninos Leo e Remi ingressam no ensino médio e os colegas ficam perguntando se eles são um casal. Esse bullying, típico das escolas, mostra o quanto é difícil falar socialmente de sentimentos mais íntimos, o que faz Leo racionalizar mais as suas atitudes em relação a Remi. Destaque ainda para a atriz Émilie Dequenne que interpreta lindamente Sophie, uma mãe que não desiste de amar mesmo após viver uma tragédia sem precedentes para uma mulher. A longa sequência final é registrada por uma câmera em busca de captar sentimentos perdidos, há nela uma ânsia que é de cortar o coração. Lukas Dhont economiza nos diálogos, mas não nos silêncios reveladores, deixando que os personagens aflorem angústias que tomam a tela por completo. Um trabalho raro de direção e mise-en-scène do cinema contemporâneo.                          
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TERRITÓRIO
Dir. Alex Pritz
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: O documentário "Território", vem com a chancela da National Geographic (NG) e produção de Darren Aronofsky e é apontado como um dos favoritos ao Oscar de longa-metragem documentário. A proposta é denunciar a invasão de grupos de agricultores nas terras indígenas dos uru-eu-wau-wau. O filme fraqueja quando quer mostrar a vida e as motivações dos invasores sem realmente desmontar as forças econômicas por trás deles. A primeira parte do documentário é um pouco arrastada e um pouco idílica à maneira da NG (notem a cena em close das formigas na floresta) embora na parte final a contundência ganhe fôlego. É uma obra que deve ser vista, apesar do senões, por documentar um período difícil da política brasileira, em que o Governo Bolsonaro estimulou a invasão das terras indígenas por madeireiros, garimpeiros e grileiros, cumprindo uma das funções que o documentário pode exercer na sociedade ao denunciar as mazelas dos poderosos contra os povos originários em várias regiões do nosso país.          
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ATÉ OS OSSOS
Dir. Luca Guadagnino
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Luca Guadagnino realiza uma obra enigmática, até certo ponto surpreendente, uma parábola sobre a deterioração familiar e carência afetiva nos Estados Unidos. Incrível como o diretor consegue dosar o horror, o suspense e o drama a partir do encontro de dois jovens desgarrados, um road movie com momentos belos e intimistas. O horror está presente em algumas cenas fortes, dominadas pelo estilo slasher e por uma música que parece sempre sugerir a eminência de uma tragédia. Temos um Timothée Chalamet em seu papel mais comedido, como o excêntrico Lee; e uma Taylor Russell intensa como Maren, uma jovem prestes a descobrir o seu destino trágico. Outro destaque do elenco é Mark Rylance, como Sully, um personagem fundamental na narrativa ao descortinar o quanto de tristeza pode caber numa solidão, um personagem simbólico e paradigmático desse "Até os ossos", que revela o futuro comum de seres socialmente não adaptados. O filme discute bem a dificuldade de ser diferente, de aceitar o destino que cabe a cada um de nós. Muito interessante como Guadagnino nos surpreende com um inesperado terror no início para depois caminhar para um drama angustiante sobre dois jovens desajustados descobrindo o amor. Outro aspecto importante está em como vemos as famílias se dissolverem nos Estados Unidos, o diretor propõe implicitamente uma crítica social e de valores ao desenhar uma sociedade onde a confiança entre os homens parece desabar vertiginosamente.              
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PINÓQUIO 
Dir. Guillermo Del Toro e Mark Gustafson (animação)
Onde: Netflix
COTAÇÃO: 5

Impressão: Confesso que "Pinóquio", a investida de 15 anos de trabalho em stop motion de Guillermo Del Toro na consagrada saga desse herói carismático, me causou sensações díspares. Se, por um lado, há uma exuberância no aspecto visual, bem ao estilo do diretor, sempre preocupado em exprimir por meio da imagem elementos sinistros inerentes a um mundo difícil de sobreviver, por outro lado, a narrativa e o roteiro descambam para simplificações  e obviedades, demarcando o mundo como algo dicotômico, como uma eterna luta do bem contra o mal. Alguns personagens começam maus, mas logo após conhecerem Pinóquio passam por uma transformação até ficarem bons. O roteiro cede às armadilhas de uma narrativa frágil, ditada por uma aventura escapista tão afeita às outras obras que corriqueiramente assistimos em Hollywood. A música em Pinóquio é outro aspecto a revelar a sua faceta mais convencional, tanto a cantada inserida narrativamente na trama quanto a trilha musical de Alexander Desplat reforça o tom aventuresco e careta dessa versão, que se pretende sombria. Uma pena que esse desequilíbrio entre imagens impactantes (essas sim sombrias) e um enredo sem alma aconteça e aproxime esse "Pinóquio" de Del Toro de uns dos mais fracos de sua filmografia. Ambientar o filme no contexto da Itália fascista poderia até ser dramaturgicamente interessante, mas a transposição não acrescenta muito à história em si, já que tudo fica por demais episódico, forçado e sem consistência. Certa vez, o cineasta Federico Fellini disse que um dos grandes atributos do livro de Carlo Collodi estava na descoberta do mundo como um processo da imaginação tão próprio do nosso universo infantil, que na maioria das vezes, era sepultado quando entramos na vida adulta. Creio que esta essência imaginativa, tão bem sublinhada e observada pelo mestre Fellini, esteja bastante distante da versão que Del Toro nos apresenta.
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ELA DISSE
Dir. Maria Schrader
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 5
Impressão: "Ela disse" fatalmente irá despertar muita atenção dos cinéfilos de todo o mundo, em especial por abordar as dezenas de casos de assédio sexual em atrizes protagonizado pelo produtor hollywoodiano Harvey Weinstein. Apesar de toda essa relevância temática é necessário admitir que o filme é arrastado, repetitivo, quase sempre monocórdico e desinteressante. Apesar da diretora Maria Schrader durante a trama falar muito do nome do abusador jamais mostra o seu rosto, invisibilizando a sua imagem, que aparece no máximo com o referido produtor distante ou de costas para a câmera. Mas será que essa postura da diretora realmente é salutar e facilita a mensagem que se quer passar contra os atos violentos do produtor? Creio que não, pois ter a sua imagem seria crucial para desgastá-la mais do que a decisão de não mostrá-la. Mas de qualquer maneira, a narrativa de Schrader não ajuda, as sucessivas cenas com mulheres abusadas vão acumulando em uma espécie de mais do mesmo, e o que deveria ser uma poderosa denúncia vai se perdendo em uma infinita insossa e cansativa repetição. Nem os trabalhos dedicados de Carey Mulligan e Zoe Kazan salvam "Ela disse" de ser um dos filmes mais sem graça sobre um dos episódios mais relevantes dos bastidores de Hollywood, que impulsionou o importante movimento "#MeToo em todo o mundo.                 
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BEM-VINDOS A BORDO
Dir. Julie Lacoustre e Emmanuel Marre
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: "Bem-vindos a bordo" é um filme realista em que acompanhamos a vida da comissária de bordo Cassandra. O filme quer retratar a vida repetitiva e artificial dessa curiosa profissão cuja obrigação maior é aprender sempre a sorrir, mas sem que isso se traduza em qualquer sinal de intimidade. Há uma denúncia do quanto essas profissionais são obrigadas a vender o máximo aos clientes dos voos e o quanto são severamente chamadas a atenção quando não consegue tirar o máximo de dinheiro dos passageiros. A dupla de diretores Julie Lacoustre e Emmanuel Marre exploram muito bem a talentosa atriz Adèle Exarchopoulos (famosa por "Azul é a cor do amor") ao humanizar a personagem Cassandra, que embora aceite as rigorosas regras das empresas aéreas, nunca deixa de mostrar cuidado com os passageiros que mais necessitam de apoio. Aos poucos também adentramos nos dramas pessoais de Cassandra, como a difícil tarefa de tentar viver com a ausência inesperada da mãe em sua vida. A crítica ao sistema capitalista que explora os trabalhadores ao máximo sem demonstrar a menor empatia é o ponto forte desse "Bem-vindos a bordo", inclusive há uma ótima cena de grevistas tentando convencer as comissárias a aderir a uma greve, o que acaba não ocorrendo. A abordagem sensível está na câmera na mão sempre atenta e a perseguir a protagonista nos momentos mais tensos e na câmera mais fixa quando se quer registrar os poucos tempos de descontração e reflexão dela, porém, dentro da proposta realista dos diretores cabia uma abordagem mais incisiva que potencializasse o aspecto crítico do filme, pois agregaria maior contundência à trama.
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THE ETERNAL DAUGHTER
Dir. Joanna Hogg
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: "The Eternal Daughter" é um interessante thriller dramático sobre a relação de um mulher, sua mãe e uma mansão. Um clima de mistério perpassa todo o filme e muito dele é salientado tanto pelo tratamento visual quanto pela ambiência sonora. Há uma delicadeza na direção, na maneira como a câmera busca ângulos insinuantes e muito bem urdidos. A presença de Tilda Swilton garante a consistência dramática da trama ao fazer dois papéis, a da filha e da mãe. O espaço da mansão torna-se um importante personagem por representar um aspecto simbólico da relação entre o passado e o presente, e no seio dela irrompem memórias e digressões em um exercício onde reina a imprecisão temporal. A mansão pertenceu à família da filha e da mãe e hoje tornou-se um hotel decadente, quase sem hóspedes. A direção de arte cuidadosa apreende os detalhes de uma decadência anunciada, o que enriquece muito a proposta cenográfica. O filme mostra o quanto penoso é visitar um lugar onde vivemos parte de nossa vida, o quanto as ranhuras do passado nos são caras, como também o são nosso inconformismo com penosos fatos que nos marcaram profundamente. O tempo todo ficamos desconfiados sobre a existência ou não da mãe no presente, mas quando isso se descortina abre-se um clarão na história. "The Eternal Daughter" é um filme que nos seduz pela narrativa sóbria e elegante. 
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CONTRATEMPOS
Dir. Eric Gravel
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Alguns filmes das últimas duas décadas investiram todas as fichas contra as injustiças sociais inerentes ao mundo capitalista contemporâneo, ao tipo de vida implantado a partir de uma visão neoliberal, que se expandiu globalmente no final do século XX, mas que ganhou contornos massacrantes no decorrer do século XXI, sem importar o país que você vive. "Contratempos" é bem sobre isso, uma mulher madura, e ainda jovem, tentando levar a vida tendo que lidar com dois filhos, um emprego fora de sua área de formação profissional e um ex-marido completamente ausente. Julie é essa mulher que se vira por todos os lados, trabalhando duro em um hotel 5 estrelas para sustentar a família e pedindo para uma vizinha ficar com as crianças enquanto não chega do trabalho, sendo que mora em uma comunidade bem afastada de Paris, e para complicar ainda mais a vida precisa encarar uma greve do sistema de transporte. A escolha do diretor Eric Gravel por uma abordagem realista cai como uma luva na temática questionadora na qual o filme caminha, uma espécie de estética à Ken Loach, em que personagens precisam sobreviver no caos. Um mundo de cada um por si e Deus contra todos. O mundo que coube a Julie é medonho, onde só lhe restam obrigações e elas são imensas, bem maiores que um ser humano pode suportar para ser minimamente feliz. "Contratempos" também mostra o quanto o mundo está bem pior para as mulheres, que precisam abraçar o mundo e mais um pouco, onde apenas se corre atrás do tempo, mesmo que ele pareça já não mais existir. Uma filme de personagem e de denúncia contra um sistema opressor, em que a câmera torna-se a sua mais fiel amiga para tentar capturar o absurdo que o mundo contemporâneo capitalista e neoliberal se tornou para nós que precisamos vender a nossa mão de obra para os poucos e afortunados donos do poder.

SEXUAL DRIVE
Dir. Kota Yoshida
Onde: Plataforma MUBI
COTAÇÃO: 6
Impressão: "Em Sexual Drive" somos apresentados a três histórias, sendo que em todas temos um personagem em comum, o enigmático Kurita (Tateto Serizawa), além das tramas serem perpassadas por comidas e a sensualidade humana despertada a partir delas. Em alguns momentos, nota-se um exagero aqui e outro ali no roteiro em demarcar e forçar a sensualidade nas cenas, mas no todo há uma crítica à impessoalidade das relações contemporâneas de um Japão mais preocupado em garantir o sucesso do mundo do trabalho, o que gera um desgaste e desconfiança entre os personagens. Kurita funciona nas diversas tramas para criar uma instabilidade nas relações dadas como controladas. Algumas cenas em close e em câmera lenta salientam a sensualidade do ato de comer alguns alimentos. No primeiro conto, destaque para a sequência final, em que o marido assiste fascinado a esposa comendo o seu prato preferido como se fosse a primeira vez. No segundo conto, destaque para a maneira orgástica na qual a esposa prepara seu prato preferido seguindo a receita original, e não a receita insossa dos tradicionais fast food. No terceiro, o realce está na narração sensual do personagem Kurita da esposa do protagonista comendo seu lámen favorito. De certa forma, o diretor consegue dar uma coerência e uma unidade nas três histórias, o que é sempre uma dificuldade dos filmes desse gênero. "Sexual drive" consegue unir sensualidade, comida, crítica comportamental e leveza, sem grandes surpresas e sustos, o que é bom por um lado, por garantir uma estabilidade no resultado final, mas também negativo por outro, por se acomodar nos acertos narrativos e nas soluções estéticas mais convencionais.
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TRIÂNGULO DA TRISTEZA
Dir. Ruben Östlund
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 3
Impressão: Se em "The Square" o superestimado diretor sueco Ruben Östlund abusou das metáforas, em "Triângulo da tristeza" a mensagem é bem mais direta, com direito à escatologia e um humor rasteiro e óbvio. Confesso que até prefiro, ou aturo melhor, essa forma direta, pelo menos elimina a incômoda tarefa de pensar nas possíveis simbologias mirabolantes e pretenciosas do diretor. Só duas coisas unem "The Square" e "Triângulo da tristeza": a Palma de Ouro em Cannes e a pretensão à grande obra. Se na primeira existia um chiste conceitual, na segunda nem isso. Em "Triângulo da tristeza" acompanhamos um jovem casal, ele modelo e ela uma influencer digital, um relacionamento complicado, em que há uma severa desconfiança se haveria conveniência ou amor verdadeiro na relação deles. Em meio a essa crise, o casal vai parar em um cruzeiro com milionários, que naufraga, com os sobreviventes (além do casal, alguns milionários e funcionários do navio) indo parar em uma ilha, onde as hierarquias sociais são invertidas. Tudo é muito óbvio, em alguns momentos escatológico e muito humor sem graça. Há uma participação especial do ator Woody Harrelson, como um excêntrico capitão do navio, um inusitado adorador das frases de Karl Marx e Lênin. Em "Triângulo da tristeza" sobra o patético e o superficial, uma crítica pobre ao capitalismo e suas ramificações sociais. Há um tipo de surto doentio em Cannes por idolatrar sistematicamente um diretor tão vazio quanto Ruben Östlund. 
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SRA. HARRIS VAI A PARIS
Dir. Anthony Fabian
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 4
Impressão: Pra quem valoriza filmes edificantes, baseados em histórias reais, "Sra. Harris vai a Paris" é sob medida. Pessoalmente, não me afeiçoa a esse tipo de filme, embora fique visível que há um refinado acabamento fotográfico e de figurino na proposta do diretor Anthony Fabian, por mais que todo esse requinte desague em um artificialismo da imagem. Conforme o próprio título sugere, esse é um filme de personagem, em que durante toda a trama perseguimos a Sra. Harris, interpretada abnegadamente por Lesley Manville. Não me lembro de ver um filme com uma Isabelle Hupert tão sombreada e tímida. Um outro aspecto que me chamou atenção foi como o ambiente histórico do pós-guerra de "Sra. Harris vai a Paris" funciona apenas uma referência imagética, não como verdade. Um filme simpático e superficial, que se sustenta forçando a todo momento uma identificação com o público. 

ARMAGEDDON TIME
Dir. James Gray
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: James Gray é um desses diretores que possuem uma carreira mediana e regular. Sempre realiza bons filmes, que agradam de uma maneira geral, porém sem trazer grandes novidades ou impactos. "Armageddon Time" vem engrossar essa ideia. Gray visita a sua infância para construir um filme bem acabado, bem narrado, mas que nem sempre consegue atingir a excelência, apesar dela está ali muito perto. A história de amadurecimento de um menino judeu e seu amigo negro baseia-se em boas intenções morais (sim, o inferno está cheio delas), embora fortaleçam ideias equivocadas sobre racismo nos Estados Unidos e tudo por uma mera questão de perspectiva. O roteiro enfoca a vida de Paul Graff (Banks Repeta) e sistematicamente invisibiliza o personagem de Johnny (Jaylin Webb), que mesmo sendo fundamental para a história nunca sabemos muito dele, a não ser sempre pela ótica de Paul, um menino branco que sempre se safa pelos privilégios de raça. Como se constitui aquela família, pelo jeito, inteiramente destroçada pelo racismo, que embora Gray reconheça não fortalece a identificação do espectador com aquela vida tão pulsante e que inspira sempre que aparece na tela uma força de resistência contra o ambiente hostil. Há crueldade na vida de Paul? Sim, há, mas nada comparável a de Johnny, sempre o mais prejudicado pelo permanente e massacrante racismo estrutural dos Estados Unidos. As aparições de Hopkins como avô de Paul são, para variar, luminosas, mas não salvam o filme de suas falhas, até as reforçam. Anne Hathaway, como a mãe de Paul, está bem, ao tirar muito de um personagem mal explorado pelo roteiro. O pano de fundo de um início de Era Reagan, no todo fica fragilizado, pois o filme fica preso apenas no viés da família de Paul e pelo ambiente escolar, o que limita uma visão mais ampla de um importante período na consolidação do modelo neoliberal nos Estados Unidos.                                          
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FESTIVAL DO CINEMA ITALIANO (ON LINE E PRESENCIAL)

Link para assistir aos filmes até o dia 04/12/2022:  Home - Festival de Cinema Italiano (festivalcinemaitaliano.com)

PRIMEIRO AMOR
Dir. Dino Risi
Onde: Plataforma do Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 9
Impressão: Desde o começo deste filme sentimos um cheiro de decadência a rondar o personagem Picchio, interpretado por um Ugo Tognazzi absolutamente impecável e soberbo no papel de um artista do humor já sem espaço no novo cenário artístico italiano, comandado agora pela televisão. O que acompanhamos é o decurso de um corpo em franca luta contra a decadência, física, artística e moral. Uma obra-prima do diretor Dino Risi, que explora com eficiência dramatúrgica a sensualidade latente de uma Ornella Muti muito jovem, mas já bem calejada no cinema em 1978. "Primeiro amor" aborda basicamente duas frentes temáticas: uma com o deslocamento do artista Picchio do meio artístico, e outra, a do primeiro amor desse veterano comediante que sempre usou as mulheres sem nunca amá-las e irá provar a fealdade de amar sem ser amado. A crueldade da vida se abate então duplamente nesse corpo decadente, que não consegue êxito nem no amor nem mais na profissão. O retiro dos artistas é um simbólico da decadência de vários artistas que não se encaixam mais nas demandas do presente. Já Roma, é retratada como a cidade da modernidade, das festas e da televisão, que ratificará o quanto esta despreza os idosos ao enaltecer a juventude e a beleza física. De qualquer maneira, entre o sucesso do passado e a decadência do presente, "Primeiro amor" é uma ode ao viver a vida com intensidade e saber reconhecer também os momentos de perda.
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PÃO, AMOR E FANTASIA
Dir. Luigi Comencini
Onde: Plataforma do Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 5
Impressão: Esse é um caso de um filme que envelheceu demais com o tempo, mesmo que o elenco, estrelado por Vittorio De Sica (o grande diretor do clássico neorrealista Ladrões de Bicicleta) e Gina Lollobrigida, deem o melhor de si. No todo, soa como ingênuo demais e a história gira o tempo todo em torno do mesmo eixo: um duplo romance, um entre um soldado e uma fruteira, e outro, entre um marechal e uma parteira. Comencini busca fazer um painel dos costumes de uma pequena aldeia rural, mas essa generalização não vai além da superficialidade das relações. Logo nas primeiras cenas, parece que o filme vai ser embalado por uma atmosfera neorrealista, mas depois a faceta da comédia de costumes vai tomando conta da narrativa. Que fique claro que leveza não é sinônimo de superficialidade, embora em "Pão, Amor e Fantasia" essa equação se fecha dessa maneira.
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VENHA DORMIR LÁ EM CASA ESTA NOITE
Dir. Dino Risi
Onde: Plataforma do Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 8
Impressão: Dino Risi, um dos cineastas italianos mais profícuos de sua geração, nos entrega aqui um tipo de comédia mórbida, que muito expressa o espírito decadente da hipócrita burguesia italiana. A interpretação de Ugo Tognazzi como Tomistocle Mario é soberba, aliás, todo o elenco é primoroso, inclusive Ornella Muti, que sabe fazer a bela sedutora e misteriosa como poucas atrizes. Curioso observar como Risi filma a mansão decrépita da família como o elemento simbólico que sintetiza o espírito de classe que o diretor quer retratar, lembrando que o filme se passa em 1946, nos escombros da Itália fascista. Risi mistura em um só filme a intriga policial, o suspense, o drama familiar e a comédia de costumes, ele também retoma um dos temas mais recorrentes de sua longa filmografia: o drama irredutível do sujeito, de viver conforme os desígnios sociais ou escolher viver para ser feliz e livre conforme suas próprias regras.                
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OS COSTUMES OCULTOS DA BURGUESIA
Dir. Tonino Cervi
Onde: Plataforma do Festival de Cinema Italiano
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um filme pouco badalado, mas que merecia ser mais visto, possui uma interessante inclinação erótica, muito dúbio, que caminha sempre em uma linha tênue entre o amor e o interesse, entre a ambição e a carência, entre os interesses de classe e a atração sexual. O mais impressionante é o quanto os personagens são fluidos, parecem balançar em alto-mar. O filme trabalha uma hipocrisia de uma Itália católica e fascista, e ao final isso fica bem evidente. Desde o início não sabemos ao certo quem realmente ama quem, pois tudo é nebuloso demais. A escolha do elenco é um dos pontos altos do filme, com uma Ornella Muti muito jovem e sedutora, com destaque ainda para Senta Berger como uma oponente à altura. Os atores masculinos também estão muito bem, com Christian Borromeo (como um estranho sedutor) e Stefano Patrizi (um sedutor tímido). A questão social e econômica é bem evidente, a todo o momento ela se põe frente aos personagens e as belas imagens de uma Veneza parada no tempo funciona como um elemento simbólico significativo, para as histórias de amor e interesses que vão se desenhando cena a cena, além de um inesperado assassinato, cuja solução talvez seja o que melhor exemplifique a sociedade daquele momento histórico dos anos 1930 italiano. Prestar atenção também para o título original: "Retrato da burguesia em preto", ele muito diz sobre o tema e o viés que o filme quer retratar. 
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MAL OBSCURO
Dir. Mario Monicelli 
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um grande elenco, composto pelas belas e ótimas Emmanuelle Seigner e Stefania Sandrelli, além do protagonismo de Giancarlo Giannini em uma das maiores atuações da sua carreira, como um roteirista fracassado de cinema que desenvolve um grave transtorno emocional. Monicelli cria com "Mal obscuro" uma metáfora poderosa sobre a própria crise artística e de criatividade do cinema italiano nos anos 1980 e 1990. A decadência também está representada no carro velho do roteirista. A entrada de Seigner na trama dá uma visível guinada na vitalidade do filme, com sua positividade perante à vida, mas os problemas emocionais do roteirista vem de longe, de uma infância repressora, que vem à tona nos momentos de solidão. Monicelli vai construindo lentamente a ruína de seu personagem, que parece condenado eternamente à infelicidade, o isolamento social e à loucura, em especial por não conseguir por ser um prisioneiro do passado e não se livrar dos fantasmas e inseguranças adquiridas na infância.                       
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O COLIBRI
Dir. Francesca Archibugi
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7
Impressão: "O colibri" é um delicado filme sobre a memória, arrependimento, culpa e o duro aprendizado que é viver a vida. Muito interessante a proposta da diretora Francesca Archibugi de encadeamento não linear de diversas temporalidades, de maneira criativa e que consegue prender a atenção plena do espectador, apesar das muitas idas e vindas no tempo que a obra vai nos impondo. São vários destinos decididos pelos vieses que a vida apronta para cada um. As interpretações são sempre muito bem ensaiadas, assim como a proposta de mise-en-scène em que a câmera, às vezes indecisa e em outras discreta, acompanha os personagens, dando a impressão que a direção acredita em cada passo deles, por mais que os próprios personagens titubeiem aqui e ali em alguns caminhos tortuosos. Destaque para a interpretação de Pierfrancesco Favino como o protagonista Marco Carrera, que precisa atravessar por graves momentos de perdas, sem esquecer de cultivar um amor quase platônico do passado. Uma obra delicada, onde nota-se uma sensibilidade feminina na condução das cenas.                         
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CARROSSEL
Dir. Chiara Bellosi
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7
Impressão: "Carrossel" é um ótimo exemplo de um filme de personagem, inclusive o título poderia tranquilamente ser chamado de Benedetta, nome da excelente protagonista vivida com muita sensibilidade pela jovem atriz Gaia Di Pietro. Benedetta é uma típica jovem em busca de uma vida que a liberte de suas prisões: a família, a escola e ela mesma. A mãe dela, uma bailarina magra e frustrada, luta contra o peso da menina, atravancando a relação entre as duas, já que ao que tudo indica Benedetta não está nem aí para o quanto está marcando a balança. Curioso como a diretora busca saídas dramatúrgicas por meio de ações e imagens, pois em "Carrossel" pouco se fala. Quando ela encontra Amanda (Andrea Carpenzano), que representa uma lufada de esperança e liberdade. Acontece que Benedetta conhece pouco da vida e menos ainda sobre o amor, e as novas descobertas serão importantes para ela saber que tudo na vida tem a hora certa. Atenção para a metáfora do carrossel, quando Benedetta experimenta uma sensação indescritível de liberdade e da ausência do peso do mundo.
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OS GIGANTES
Dir. Bonifacio Angius
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 4
Impressão: "Os Gigantes" aborda o difícil reencontro de um grupo de amigos numa casa no meio do nada. A narrativa caminha a passos lentos aparentemente rumo a lugar nenhum, quando de repente tudo se encaminha previsivelmente para uma jornada de autodestruição. Drogas pesadas, bebidas, rancores e muita violência já indicavam para o um desenlace regado a um fatalismo. Um filme que não poupa seus personagens nem tampouco a si mesmo. A destruição dos personagens acaba sinalizando a completa inexistência de um mínimo de fé e esperança na humanidade e do próprio filme. É um pessimismo que não cabe em si nem no espectador e desagua no desperdício de uma ideia que poderia nos levar a alguma reflexão profícua sobre a vida.      
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COMEDIANTES
Dir. Gabriele Savatores
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7
Impressão: O que "Comediantes" tenta fazer é desvendar os mistérios por trás de uma piada, ou mostrar como é o mundo desses profissionais por trás das cortinas. Em 'Comediantes" temos uma turma que durante três meses estudou com um profissional esse difícil ofício de fazer os outros rirem por meio das palavras em um Stand Up. A certa altura o professor diz uma máxima sobre esse penoso ofício: "a comédia é um remédio". Mas o interessante do filme de Gabriele Salvatores é o mergulho nos bastidores de uma última aula que acontece minutos antes de um teste que poderá levar alguns deles para um programa de televisão. O drama aqui é o mesmo do velho e bom clown, que muitas vezes precisa se desligar de seu mundo opaco para fabricar um riso no espectador. Mas qual é o tom e sobre o que se pode rir e como? Deve-se satisfazer o mercado com o riso fácil ou buscar o complicado caminho do humor refinado? Apenas há uma certeza: de que fazer piada é tão difícil quanto viver. Um filme amargo sobre o ilusório e divertido mundo dos comediantes, mesmo que em alguns momentos esse drama ralente em algumas partes, no todo ele consegue manter sua força dramática.
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TOILET
Dir. Gabriele Pignota
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 3
Impressão: Quase tudo nesse filme é desinteressante. Pra começar um argumento frágil, mas os problemas de "Toilet" não param por aí. Toda a falta de criatividade de tema apoiado em um homem que só pensa no trabalho acima de tudo encaminha para um final com mensagens edificantes e banais de um pai que precisa dar mais atenção à filha. Clichês que se sucedem, sem criatividade: o chefe ambicioso, a secretária apaixonada, a ex-esposa rancorosa, a filha esperançosa e um detetive esforçado e incompetente. Um homem que vive uma vida para o trabalho e que depois de ficar preso em um banheiro resolve rever radicalmente sua vida. Um filme que antes de tudo é um total desperdício de tempo e dinheiro. 
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OS IRMÃOS DE FILIPPO
Dir. Sergio Rubini
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Uma belíssima homenagem ao teatro popular italiano, em especial o napolitano, "Os Irmãos De Filippo", dirigido com paixão e maestria por Sergio Rubini, mostra a dificuldade de se fazer arte em qualquer lugar do mundo. Um ótimo exemplo de uma narrativa clássica bem-sucedida, com um uso de um flashback bem pontuado para alavancar a narrativa. Um elenco afiadíssimo e uma produção esmerada tanto visualmente quanto na dramaturgia. Tudo está tão em seu lugar que podemos dizer que essa é, ao mesmo tempo, a maior fortaleza e fragilidade do filme. A obra trabalha exemplarmente o quanto o teatro italiano possui uma forte tradição, sendo as famílias as responsáveis por perpetuar essa arte, mesmo que por dentro os rachas fossem imensos e as famílias mais polissêmicas do que poderíamos supor. A atuação de Giancarlo Giannini é estupenda, apesar de sua breve aparição. Há um único senão no que tange ao silêncio da obra ao regime fascista de Mussolini. Essa despolitização do filme em um ambiente profundamente contaminado pela política chamou negativamente a minha atenção.
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ÁGUA E ANIS
Dir. Corrado Ceron
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7
Impressão: "Água e anis" é sobre o tempo, um tempo que compreende a vida com seus sucessos e decrepitudes. Há sim uma dureza nesse argumento, embora o diretor Corrado Ceron tente a todo o momento abrandar e até cair em um tom meloso, que por vezes incomoda e muito. Mas há um quê de extraordinário que cada cena deslumbra, ora pela atuação magistral de Stefania Sandrelli ora pela delicadeza interpretativa de Silvia D'Amico. Um filme também sobre a solidão, de pequenos encontros e grandes desencontros. Não deixa de ser um filme cativante onde a compreensão humana nem sempre prevalece. Essa mostra está a exibir o quanto o cinema italiano atual sublinha aspectos como a solidão contemporânea. 
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SECA
Dir. Paolo Virzì
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 8
Impressão: Paolo Virzì é um dos cineastas mais profícuos do cinema italiano e "Seca" é um dos filmes mais ousados do diretor. Apesar de ser um filme bem realista, "Seca" lembra mais uma distopia e parte de uma ideia de que Roma não chove há mais de um ano e que vive uma seca interminável e terrível, abalando a vida e o emocional de seus habitantes, dos mais ilustres aos mais comuns. Virzì opta por um mosaico de personagens caóticos, marcados por crises profundas de identidade, uma espécie de "Shorts Cuts", de Robert Altman, quando diversos personagens aparentemente desconexos vão se ligando e revelando as contradições das sociedade italiana. Interessante como as baratas tornam-se uma metáfora desta obra, onde o abandono se torna uma síntese de uma Itália decadente e vazia. Uma obra perturbadora. 
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SETEMBRO
Dir. Giulia Louise Steigerwalt
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 6
Impressão: Em "Setembro", a jovem roteirista e diretora Giulia Louise Steigerwalt aborda temas interessantes como a descoberta da experiência sexual na adolescência e na fase adulta, a solidão (inclusive no casamento) e o isolamento humano na sociedade contemporânea tecnológica. O mais interessante é a prevalência do ponto das mulheres em cada situação encenada. O mais decepcionante em "Setembro" é a explícita escolha narrativa em privilegiar o modelo das chamadas "comédias românticas" de Hollywood, tão habituais ali nos anos 1990 e 2000, já deveras desgastado hoje, o que impacta negativamente nessa abordagem em 2022. A apresentação dos problemas na primeira parte do filme, combinada com os finais inusitados das tramas paralelas, confirmam a impressão de falta de originalidade, mesmo reconhecendo que na maior parte do tempo tudo funcione por meio de um roteiro enxuto, ágil e sem grandes furos, embora a sensação de déjà vu esteja presente até o final da obra. Há prenúncio de talento na direção sensível de Giulia Louise Steigerwalt, em especial no carinho que nutre por algumas personagens.       
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O GAROTO ESCONDIDO
Dir. Roberto Andó
Onde: Plataforma Festival do Cinema Italiano
COTAÇÃO: 7 
Impressão: O filme de Andó vai plano a plano crescendo, sem nunca abrir mão de um intimismo, preservado pela atuação precisa de Silvio Orlando como um professor homossexual e solitário que se aproveita da história triste do menino Ciro para dar um sentido também a sua vida. "O garoto escondido" é um filme de máfia diferente, onde vemos apenas o seu eco, já que os mafiosos são coadjuvantes na história. A música, a periferia e a infância roubada de Ciro estão inseridas na trama, o que dá um brilho a mais para essa interessante obra italiana, em que a tensão está permanentemente presente na tecitura do filme, embora o afeto também acabe por se esparramar pela tela.                 
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MALI TWIST
Dir. Robert Guédiguian
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6 
Impressão: "Mali Twist" é mais um daqueles filmes que se passam em países africanos e que são dirigidos por diretores europeus, o que faz com que o filme traga muita da linguagem cinematográfica mais clássica e um enredo sem atenção profunda às nuances culturais do local. O consagrado diretor Robert Guédiguian se esforça em alinhavar as forças políticas e sociais envolvidas nos conflitos que acontecem logo após ao movimento de independência da França, em 1960. Os conflitos giram em torno das tradições culturais de grupos tribais, dos adeptos da revolução socialista em curso, os pequenos comerciantes que se beneficiaram das políticas coloniais e os jovens que frequentam clubes onde dançavam o twist. A radicalização do governo socialista funciona como o motor das crises sociais, enquanto a protagonista, uma menina muito jovem, tenta escapar do seu destino de casar por conveniência familiar. Um dos destaques de "Mali Twist" é mostrar que um processo de independência política vai muito além de expulsar os invasores, se dá também em se libertar das vícios criados e enraizados pelo colonizador. Fora ter que lidar com as contradições sociais intrínsecas que ainda podem gerar outros caos no futuro, como a revolução islâmica que destruiu escolas, hospitais e proibiu a dança do twist. Tudo pode sempre piorar mais um pouco.   
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A CONFERÊNCIA
Dir. Matti Geschonneck
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: Sabe aquela reunião vazada do Governo Bolsonaro em que os ministros discutiam a melhor maneira de passar a boiada nas terras indígenas e outros assuntos polêmicos enquanto os jornais apenas falavam da pandemia? Pois é, o que acontece em "A conferência", dirigido por Matti Geschonneck, é algo muito similar. Trata-se de uma reunião ocorrida em Berlim, em 1942, onde os nazistas discutiram a melhor maneira de matar mais judeus. O filme é dividido basicamente em duas etapas, sendo a segunda melhor do que a primeira, quando a discussão sobre quais judeus mereciam morrer e quais deveriam ser poupados dá a tônica das conversas. Cinematograficamente, "A Conferência" é em grande parte entediante, com judeus querendo se promover, ou levar alguma vantagem política, durante uma reunião de um general com diversos comandantes dos países ocupados. Os enquadramentos utilizados são sempre os mais óbvios e nunca surpreendem minimamente o espectador. Mas para não se cair no esquecimento é sempre importante se discutir as ideias assassinas do nazismo e esse é o único atrativo desse filme.                           
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RACIONAIS: DAS RUAS DE SÃO PAULO PRO MUNDO
Dir. Juliana Vicente
Onde: Netflix
COTAÇÃO: 7
Impressão: "Racionais" é um documentário bem convencional, os depoimentos são todos captados com os Racionais MC's falando direto para a câmera, sem nenhuma pretensão de ousadia. Mas o filme dá o seu recado, indo sempre direto aos principais temas que fizeram deles o maior grupo de rapper do Brasil. E essa é a grande importância do documentário, oferecer ao público histórias forte vindas diretamente da periferia paulistana. Além de cada um dos quatro integrantes contarem suas histórias e influências, eles também narram fatos que ocorreram com a banda na carreira. O filme se utiliza de algumas imagens de arquivo de shows, e o que mais chama a atenção, cenas que revelam uma perseguição deliberada da polícia ao grupo. Mesmo que a diretora Juliana Vicente não ouse na forma, "Racionais" possui uma relevância incontestável ao nos proporcionar um aprofundamento acerca do grupo, do contexto de seu aparecimento e consequentemente, também do Brasil e de suas regiões mais desprotegidas pelo poder público, que elegeram as periferias como um mal a ser extirpado e combatido pelas forças policiais.  
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NADA DE NOVO NO FRONT
Dir. Edward Berger
Onde: Netflix
COTAÇÃO: 5 
Impressão: O filme "Nada de novo no front", de Edward Berger, é baseado no importante livro de Erich Maria Remarque, de 1928, um marco da cultura antibelicista mundial, escrito em uma época em que a ideia da guerra como solução dos problemas era largamente aceitável. Cinematograficamente, o filme de Berger não acrescenta muitas novidades, nem estilísticas nem estéticas. Vale lembrar a quantidade existente de obras que refletiram com muito mais criatividade do que esta que está tendo muita visibilidade por conta das indicações que deverá ter ao Oscar de 2023. Um dos pontos interessantes é o de vermos a história contada pelo ponto de vista alemão, embora várias circunstâncias do filme soem forçadas em demasia ao acompanhar a história do soldado Paul Baumer (Felix Kammerer). Mas a obra tem lá seus atrativos, como o desenho de som angustiante e repetitivo a martelar nossas ideias, além de boas interpretações dos diversos atores em cena. A todo o instante fiquei com a forte sensação de que aquelas cenas de denúncia contra a guerra eram um grande déjà vu, que algo ali carecia de inventividade e frescor. Fica ainda uma outra sensação, a de que a violência da guerra sirva para um espetáculo realista, frio e cruel da guerra pelo cinema, como se mais importante do que refletir sobre o absurdo da guerra fosse mostrar imagens impactantes, estetizadas e bem realizadas das mortes em série que a 1ª Guerra Mundial proporcionou, ao matar mais de 17 milhões de jovens entre 1914 e 1918. 
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UM PEQUENO GRANDE PLANO
Dir. Louis Garrel
COTAÇÃO: 2
Impressão: Esse é daqueles filmes que podem ser classificados como um embuste. Só se salva pelas cenas iniciais, quando um casal descobre que o filho vendeu vários roupas e objetos de valor deles para participar de um plano que está sendo urdido secretamente por diversas crianças do mundo. O que poderia ser interessante a partir dessa ideia fascinante se torna um imenso xaropão sem graça e potência. Um desperdício de energia e tempo (para o nosso alívio, o filme só tem uma hora de duração). É o famoso era só para ser uma piada, mas virou filme. A nota dois é pela piada inicial, que não deixa de ser boa, apesar de todo desastre que vem logo a seguir. Beira o constrangimento.  
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NOITES DE PARIS
Dir. Mikhaël Hers
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6 
Impressão: Mais uma atuação sensível da atriz Charlotte Gainsbourg, como Elizabeth, em um filme quase sempre morno do ótimo diretor Mikhaël Hers (do maravilhoso Amanda), porém que inspira a todo momento empatia e afeto com os personagens. O nome original resume melhor o que o filme quer tratar: "Os passageiros da noite", que nada mais é do que o nome de um programa de rádio para os insones e solitários noturnos. Elizabeth acaba trabalhando como assistente no programa, depois que o marido sai de casa para viver com uma mulher mais jovem. O programa funciona na trama como um contraponto e uma espécie de síntese de todos os personagens, que se encontram perdidos na vida. Outro personagem importante é a jovem Talulah, que de entrevistada do programa vira moradora temporária na casa de Elizabeth, chegando a fazer parte da família. A menina sem rumo, cujo passado ela mesma pretende anular, se envolve com o filho de Elizabeth, que também busca um sentido na vida, já que a poesia é o seu maior vínculo com o mundo. O filme procura se equilibrar entre a necessidade dos personagens de se reinventar e a dura realidade do mundo contemporâneo. Simpático, mas não consegue se aprofundar nos temas e personagens. 
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PALOMA 
Dir. Marcelo Gomes
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 9
Impressão: Leia a crítica completa no link abaixo:

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A MÃE
Dir. Cristiano Burlan
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 9
Impressão: Leia a crítica completa no link abaixo:

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CARVÃO
Dir. Carolina Markowicz
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 8 
  
Impressão: leia a crítica completa no link abaixo:


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O CLUBE DOS ANJOS
Dir. Angelo Defanti
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 6 
Impressão: "O Clube dos anjos", baseado em um livro de Luis Fernando Verissimo, mostra um grupo de amigos de longa data que se reúnem para um banquete mensal. Eles são burgueses decadentes e o diretor Defanti pensa o filme como uma metáfora acerca da capacidade autodestrutiva e classista desse grupo. Apesar de lembrar muito as séries televisivas, "O clube dos anjos" tem o seu maior mérito na escolha do casting, com grande atores sustentando a qualidade dos diálogos, com destaque para as interpretações seguras e carismáticas de Otávio Muller e Matheus Nachtergaele. O filme tem momentos cômicos bem-sucedidos e peca no aprofundamento dramático dos personagens, ficando sempre nas generalizações do caráter de cada um e os reduzindo numa tipificação simplificadora e rasteira: um esquerdista, um bon-vivant, um chocólatra, um viciado em sexo, entre outros. "O clube dos anjos" é ideal para quem busca o cinema como diversão, mas com algum conteúdo. Reparem a música "Eles" nos créditos finais, a letra dela funciona como uma síntese do filme.       
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A ACUSAÇÃO
Dir. Yvan Attal
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: Se observarmos com atenção veremos que "A acusação" é um falso filme de tribunal, pois o mesmo serve apenas de pretexto para a ampliar a discussão sobre o machismo estrutural na sociedade contemporânea, em especial nas elites, nesse caso específico, na francesa. "A acusação" é quase um caso de família levado ao tribunal, uma espécie de movimento #MeToo levado ao extremo. Na forma, trata-se de um filme clássico de tribunal, onde fatos e julgamentos vão se contrapondo cena a cena. Mas não resta dúvida de que ao final da projeção todos sairão discutindo os pormenores desse drama sobre estupro, já que as contradições e hipocrisias dos personagens afloram de todos os lados. Um mérito a obra consegue, o de mostrar que o machismo está mais enraizado do que normalmente supomos, embora considere o ponto de partida muito forçado e extremado, a de um rapaz logo no primeiro momento em que conhece a filha do novo namorado da mãe partir para uma investida sexual tão intensa e prematura devido a uma aposta com os colegas. Há um quê de sensacionalismo nesse enredo, ainda mais que até determinado ponto do filme achamos que o central no enredo não era o estupro em si, mas o quanto manchada ficaria a imagem dos famosos pais do menino. 
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PEARL 
Dir. Ti West
Onde: Cinema
COTAÇÃO: 8

Impressão: Segundo filme da trilogia de terror que iniciou com "X - a marca da morte" (2022), "Pearl" traz cenas no melhor estilo gore ao resgatar o slasher para a sua trama. "Pearl" trabalha de forma enviesada com um cinema que cultua a fantasia como uma visão de mundo possível. Tudo filmado com elegância, se esforçando por desviar de uma estética trash. O filme trata da crescente insatisfação da personagem Pearl (com interpretação inebriante e eu diria até possuída de Mia Goth), uma moça muito jovem cujo marido está servindo na guerra e cujo sonho de vida é a de se tornar uma estrela de cinema, em especial um filme com dança. Mas a vida austera na fazenda, com o pai doente e a mãe conservadora a explorar sua mão de obra, parecem a deixar muito longe de seus maiores desejos, fatos que vão transformando a personalidade da jovem. A relação dela com um projecionista sedutor a incita mergulhar ainda mais nos seus sonhos e pesadelos. "Pearl" traz uma metáfora poderosa sobre o efeito da guerra (no caso a 1ª Guerra Mundial) como uma das maiores anomalias humanas, como um assassinato consentido de milhares de pessoas, ainda tendo uma pandemia de gripe espanhola como pano de fundo, lembrando que o filme foi filmado em plena pandemia da Covid-19.

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ESPECIAL MOSTRA DE SÃO PAULO 2022

O GAROTO MAIS BONITO DO MUNDO
Dir. Kristina Lindström e Kristian Petri
Onde: Mostra de SP (reprise)
COTAÇÃO: 8
Impressão: A beleza como maldição. Assim pode ser definida a vida de Björn Andrésen, o jovem ator que viveu Tadzio, no célebre filme "Morte em Veneza", de Luchino Visconti. O documentário parte da imagem atual do ator, hoje com mais de 60 anos de idade, que busca entender seu passado nebuloso, como o desaparecimento da mãe e a ausência do pai, assim como a morte inesperada do filho e o distanciamento da filha. São tragédias que vão se contrapondo com a carreira que se respaldou pelo sucesso em "Morte em Veneza". Um documentário duro e angustiante, que revela a imagem triste de Andrésen, suas dores e tentativas de se reconectar com a vida. Impactante, tocante e verdadeiro demais.
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LOUIS ARMSTRONG BLACK BLUES
Dir. Sacha Jenkins
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 9
Impressão: Um documentário rico em imagens, depoimentos e interpretações brilhantes de Louis Armstrong e seus diversos parceiros de vida e arte. ´Salienta-se a maneira como o diretor Jenkins vai amarrando os conturbados contextos históricos, sempre pontuando como Armstrong lidava com essas situações. Há um esforço por compreender como Armstrong conseguiu sobreviver ao forte racismo com sua personalidade conciliadora que muitos viam como de submissão à ideologia supremacista em voga no sul dos estados Unidos. Ao entender as nuances históricas do personagem, Jenkins dignifica a abordagem ao respeitar as limitações de Armstrong perante as conjunturas racistas que enfrentou na vida.    
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AFTERSUN
Dir. Charlotte Wells
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um dos pontos altos dessa história relativamente simples é a enorme sensibilidade com que a diretora Charlotte Wells trata os personagens. Um filme sobre um raro encontro entre pai e filha que não moram no mesmo país. A memória detonada por meio de um filme de férias registrado pela menina em uma câmera Mini-DV. Mais do que o presente, mergulhamos não só nessas imagens, muitas vezes destorcidas e pixeladas, mas também nos acontecimentos do passado que marcaram o encontro entre pai e filha, em um hotel de luxo decadente. O carinho entre eles é revelado por pequenos gestos. O espectador encontra nesse filme a força e o prazer da sutileza pelo cinema, o toque feminino da diretora está posto em vários momentos e isso é encantador. A vida está além de uma VHS, felizmente.  
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COM AMOR E FÚRIA
Dir. Claire Denis
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 5
Impressão: O filme de Denis retrata Sara, uma mulher dividida entre o amor de dois homens do seu passado, Jean e François. Denis se perde entre os três protagonistas e quando decide enfim priorizar Sara o filme já desandou. As emoções confusas de Sara parece escorrer para o filme e o tornando difícil na maior parte do tempo. A ausência de ritmo nos afasta sistematicamente da história. Infelizmente, não é uma Denis em seu melhor momento, mesmo que a sempre estupenda Juliette Binoche se esforce para que tudo dê certo. Vincent Lindon está no mesmo termômetro de outros projetos anteriores, sem brilho algum, como na maioria das vezes. O desfecho libertário do final salva o filme da catástrofe total.   
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ALCARRÀS 
Dir. Carla Símon
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Carla Símon articula, por meio da história de uma família, as contradições de uma sociedade cruel. A diretora começa o filme em banho-maria e aos poucos vai apresentando os personagens e fazendo nos apegar a eles, sempre em um tom que beira o documental, de tão descritivo que é do cotidiano dessa família. O ponto de vista da família lentamente vai se afirmando e isso cria um fato interessante na mudança das relações no campo. Há anos atrás, o patriarca da família negociou de boca o uso da terra, agora, o que se impõe é a ausência de direitos desses trabalhadores rurais e o uso da força e do autoritarismo para se estabelecer novos interesses comerciais. Carla Símon cola sua câmera nesses trabalhadores e ignora por completo os donos da terra, deixando claro a sua visão sobre o conflito que está desenhado na trama. 
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VOCÊ PRECISA VIR E VER 
Dir. Jónas Trueba
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 6
Impressão: A música não é a mesma para cada um de nós. É o que parece dizer a primeira sequência do filme. Essa talvez seja uma boa síntese para "Você precisa vir e ver", uma película impressionista de Jónas Trueba. O diretor trabalha com sensibilidade o momento da pandemia do Coronavírus, por meio de dois casais amigos que se encontram para depois logo a seguir marcarem um segundo encontro. Pouco é dito nesse filme onde a placidez e uma atmosfera melancólica dão a tônica da obra. Mais do que ser entendido, esse é um filme para ser sentido nas entrelinhas e nas suas lacunas, que são muitas. Trueba permite que as emoções fluam, mesmo que por vezes elas se evaporem no ar.      
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BENEDICTION
Dir. Terence Davies 
Onde: Mostra SP
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Um filme delicado e com tons melancólicos. Davies presta uma homenagem à geração que participou da Primeira Guerra Mundial. A história gira em torno do escritor Siegfried Sassoon, um autêntico revoltado contra a guerra que se estendeu por demais e matou muito mais do que o necessário. Davies demonstra toda a sua sensibilidade e refinamento habituais para tratar de temas delicados para os anos 1910 e 1920 com muita sutileza e elegância formal a sexualidade de Sassoon. Mais uma fotografia primorosa e um capricho narrativo sempre permeado tanto por belas poesias quanto por músicas encantadoras e com interpretações precisas e contidas, bem afeitas ao universo de Davies.   
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INVENTÁRIO
Dir. Darko Sinko
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um filme seco, e estranho, vindo da Eslovênia sobre um homem que sem aparente motivação sofre um mal sucedido atentado de morte. A cada nova cena, a dúvida vai se instalando nele e em nós. Afinal, quem iria querer matá-lo, um homem comum e sem inimigos aparentes? Todos a sua volta tornam-se suspeitos e Bóris se vê mergulhando em si mesmo e tentando observar a sua vida de fora, para quem sabe poder descobrir o autor ou autora dos disparos. Um filme enigmático até a última cena, pois de repente nos tornamos cúmplices de suas desconfianças. A trama traz impactantes questionamentos sobre a paranoia de viver sem certezas e nos provoca um estranhamento por não sabermos em quem confiar. Em uma palavra: desconcertante.
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O FILME DA ESCRITORA
Dir. Hong Sang-soo
Plataforma: Mostra SP
COTAÇÃO: 8
Impressão: Nem na pandemia o profícuo Hong Sang-soo deu trégua aos fãs. "O filme da escritora" é mais um em que ele exercita o seu estilo cinematográfico, onde mesas de comida, bebida e conversas infinitas estão presentes. Apesar de tudo parecer mais do mesmo, a trama é muito curiosa ao brincar tanto com a crise criativa quanto com a pulsão criativa dos artistas. Interessante como em poucos e longos planos-sequências, Sang-soo vai nos empurrando de uma situação para outra, em movimentos que lembram muito  o próprio pêndulo da vida a nos impressionar com curvas sinuosas quando pensamos estar em plena reta. Os atores estão incríveis e a presença da musa de Sang-soo, Kim Min Hee é luminosa como sempre e garante um charme a mais ao filme, e o final ardiloso, nos deixa sem chão.        
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ARGENTINA, 1985
Dir. Santiago Mitre
Plataforma: Amazon Prime
COTAÇÃO: 8 
Impressão: "Argentina, 1985" mostra a importância da memória para a vida de um país. Como brasileiros ficamos a nos perguntar, envergonhados, porque não fizemos o mesmo em relação aos nossos ditadores: colocá-los no banco de réus e julgá-los como criminosos que realmente foram. Ricardo Darín está excelente como o promotor Strassera. Se não fosse por uma pequena derrapada no uso melodramático da música em dois momentos cruciais do filme, "Argentina, 1985" seria uma obra de impecável, um perfeito e irretocável filme de tribunal. A limpidez da narrativa clássica do filme de Mitre se sobressai pela competência que o cinema argentino tão bem sabe realizar, em especial quando o tema político está a guiar a trama.          
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O PERDÃO
Dir. Maryam Moqadam e Behtash Sanaeeha
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 9
Impressão: Um filme realmente impressionante, de grande força dramática, onde o tema está sempre colocado além das imagens e dos diálogos. A opção de manter planos fixos também sublinha a estagnação do Estado islâmico. Há, no início e no fim, uma imagem de uma vaca branca. A protagonista trabalha inicialmente numa fábrica de leite, assim como há uma sequência de envenenamento com leite. Sim, há aí um simbolismo opressor, visto que um dos grandes personagens do filme é o aparelho de Estado, que sempre aparece como burocrático, corrupto e injusto. A cada nova cena, "O perdão" vai sublinhando uma situação de grande injustiça e vai imperando uma convicção de que há uma estrutura social carcomida por ideias defasadas e opressoras. Ao final, o tanto de perdões a serem pedidos e concedidos revelam a fragilidade do sistema machista iraniano. Um filme para não piscar um só minuto sequer.
         
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MORTO NÃO FALA (Mostra Terrível - Estação Botafogo)
Dir. Dennison Ramalho
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8 
Impressão: Com uma produção esmerada , um roteiro bem desenvolvido e estruturado (méritos para o diretor Dennison e Claudia Jouvin), "Morto não fala" é um filme diferente no panorama das produções brasileiras, diga-se de passagem, pouquíssima afeita ao gênero terror. O filme possui uma avalanche de emoções (mais do que de sustos, que também são muitos) e consegue extrair o seu melhor por retratar um drama profundamente brasileiro, assentado na realidade violenta e injusta como poucas obras conseguem penetrar nesse mundo cotidiano humilde e periférico, comum a tantos dos nossos conterrâneos. Apesar da premissa ser totalmente vulnerável, pois o protagonista fala com os mortos sem filtro algum e com uma facilidade extrema, tudo o que o cerca é tão real e nosso que assusta muito. 
Pois é isso, nada assusta mais do que a nossa realidade. Há um mérito da direção de arte e da fotografia em descrever pelas imagens o ambiente tão propício para se emergir o terror, em especial a casa do protagonista Stênio (um Daniel Oliveira, como sempre, convincente e admirável). Destaque ainda para a ótima interpretação de Fabiula Nascimento como a esposa infiel.
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NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO (Festival Terrível - Estação Botafogo)
Dir. Cavi Borges e Patricia Niedermeier
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 9
Impressão: leia a crítica abaixo:

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ESPECIAL FESTIVAL DO RIO 2022

PIGGY
Dir. Carlota Martínez-Pereda
Onde: Festival do Rio
COTAÇÃO: 7
Impressão: "Piggy" aborda com tintas fortes o bullying gordofóbico. O filme não abre mão do ponto de vista de Sara, uma Laura Galán em uma interpretação vigorosa. Desde a primeira imagem sublinha-se a carne (no caso a do porco, que também é o apelido de Sara entre as colegas) como um aspecto que será explorado pela diretora. "Piggy" não deixa de ser uma fábula às avessas, que mistura um serial killer, cenas de gore, filmes de adolescente, e em certos momentos, quase esbarra em um filme romântico. Embora nem sempre consiga, "Piggy" se esforça em aprofundar no difícil drama de ser Sara nesse mundo que impõe sistematicamente os padrões estéticos da magreza. Pelo tema que retrata, "Piggy" vai além das fronteiras espanholas, pois parte da premissa que a gordofobia é em si altamente violenta, onde quer que ela se apresente.                          
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EO
Dir. Jerzy Skolimowski
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: Esse é um filme inteiramente calcado na história de um burrinho chamado EO, uma fábula tristonha, romântica, com uma crítica social contundente. A fábula é reforçada por uma estilização estética da imagem, às vezes até hiperbólica demais, com o vermelho e azul dominando enfaticamente o visual das cenas, fora um som potencializado pela música ora imponente e ora com incômodos ruídos. É inevitável comparar "EO" de Skolimowski com "Au hasard Baltazar" de Robert Bresson. Em ambos, vemos a crueldade humana como central da história, embora quando passamos para a análise da forma fílmica, eles se distanciam drasticamente na estética. Enquanto Bresson abusa do minimalismo, Skolimowski abusa dos malabarismos técnicos, com a utilização de gruas, drones e movimentos de câmera radicais. Pois é, as aparências quase sempre são enganosas.              
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PADRE PIO 
Dir. Abel Ferrara
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Abel Ferrara sai um pouco do seu cinema autoral, mais enevoado na forma, para pleitear um cinema com uma linguagem mais acessível. Mas isso não quer dizer que "Padre Pio" seja tão fácil assim. A história tem duas facetas, uma mais realista e outra mais simbólica. Numa, temos os trabalhadores rurais lutando contra a opressão dos proprietários de terra que dominam a economia e a política de uma pequena cidade na Itália. Na outra, vemos uma igreja conservadora que apoia as elites, mas que contraditoriamente tem um personagem conflituado psicologicamente, o Padre Pio, uma espécie de elemento que contradiz o próprio comportamento majoritário da igreja. "Padre Pio" é um filme político, que retrata asperamente a realidade social no pós primeira guerra mundial em uma pequena cidade, tomando partido abertamente dos trabalhadores contra os poderosos.
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WALK UP
Dir. Hong Sang-soo
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8 
Impressão: "Walk Up" é mais típico filme do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, recheado de diálogos inteligentes, bebedeiras numa mesa e um cineasta como protagonista. Há uma cena fantástica em que o diretor de cinema ouve uma declaração elogiosa de uma fã sobre os seus filmes, sendo que as características elencadas por ela são as mesmas dos filmes de Sang-soo, um exemplo que extrapola a própria ideia de metalinguagem ao promover uma inusitada e cômica autopropaganda de Sang-soo. "Walk Up" é uma obra que lida cronicamente com a vida cotidiana, sem esquecer da poesia intrínseca na arte da convivência entre as pessoas e como o mundo contemporâneo se relaciona com os seus famosos.
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BLUE JEAN 
Dir. Georgia Oakley
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8 
Impressão: Um dos grandes méritos da diretora Georgia Oakley é conseguir juntar pano de fundo e temática principal com grande eficiência. De um lado, as ações do governo conservador de Margareth Thatcher contra a população LGBTQIA+, de outro Jean uma jovem professora lésbica lutando para afirmar sua identidade, tendo que esconder da família e dos colegas de trabalho sua sexualidade. Um filme de personagem que aborda com sensibilidade e humanidade uma mulher tentando sobreviver em um mundo adverso que nega a transformação. Uma interpretação marcante da atriz Rosy McEwen e um roteiro afiado, que explora com competência os núcleos principais como a escola, a família, o bar gay, além de saber mexer com as diversas peças disponíveis no tabuleiro dramatúrgico e histórico. Interessante e simbólica uma das primeiras cenas do filme, em que Jean aparece com o rosto dividido no espelho do banheiro.
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1976: UM SEGREDO NA DITADURA
Dir. Manuela Martelli
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: Um bom thriller político que se passa no auge da ditadura chilena do General Pinochet. O filme oscila entre bons momentos de suspense e outros mais mornos. O ponto alto do filme é a intepretação da atriz Aline Kuppenheim como a burguesa Carmen, casada com um médico conservador, e que acaba ajudando o movimento de resistência a esconder um fugitivo do regime antidemocrático dos militares. O que a princípio parecer ser uma ingênua atitude contra o tédio, logo se torna algo perigoso e ameaçador para a sua pacata e sem graça vida de mulher casada.
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NIGHTSIREN
Dir. Tereza Nvotová
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 2 
Impressão: Um filme que tinha tudo para ser um contundente libelo feminista, mas se perde em um roteiro raso, onde as partes não se encontram e que prioriza a ação em detrimento do aprofundamento. Os rituais de bruxaria ficam soltos e sem contexto cultural, o que esvazia a potência do filme. A denúncia da agressão à mulher numa sociedade fortemente machista e atrasada, se deixa levar por cenas de agressividade gratuitas e diálogos que levam o nada para o lugar nenhum. A tradição cinematográfica tcheca e eslovaca merecia um filme à altura de diretores e diretoras como Milos Forman, Jan Svankmajer, Jírí Menzel e Vera Chytilová.           
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CASAL: SOPHIA E TOLSTÓI 
Dir. Frederick Wiseman
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8










Impressão: "Casal: Sophia e Tolstói" poderia apenas ser mais um filme de ficção, mas não é justamente porque seu diretor é um dos maiores documentaristas vivos. Isso torna o filme uma espécie de experimento, é Wiseman realizando um documentário sobre a palavra, que pulsa a partir das cartas de Sophia Tolstói. Wiseman quebra a quarta parede e institui uma relação direta com o espectador, eliminando a música do filme e trabalhando desde a primeira cena com o som vindo diretamente da natureza. Wiseman resgata o ponto de vista de uma mulher da segunda metade do século XIX, e não é qualquer mulher, é a esposa de um dos maiores escritores da história. O filme mostra a dedicação dela ao marido e a família, salientando o aspecto opressor dessa vida. A ausência da imagem e da voz de Tolstói é aqui um fato significativo. Um aviso: o formato narrativo aparentemente monocórdico de Sophia pode ser cansativo para os não iniciados.
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TRANSITION: PRESENÇA INVISÍVEL
Dir. Alejandro Torres Kennedy
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 4
Impressão: O filme se divide em duas partes. Na primeira, a protagonista vive isolada na marina de uma ilha da África do Sul, onde ela perambula e vive essa solidão, o que não é nada de mais. Embora lento, o filme faz algum sentido ao mostrar o quanto conseguimos superar o terror que pode ser conviver com a solidão. Só que quando vem uma segunda parte, tudo degringola de vez, no momento que o diretor insere na trama uma forçadíssima e inequívoca história de fantasma.  
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REVELANDO EADWEARD MUYBRIDGE
Dir. Marc Shaffer
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8 
Impressão: Apesar do documentário "Revelando Eadweard Muybrigde" ter um formato convencional chama a atenção em como é belamente fotografado, rico em detalhes e informações sobre esse importante personagem da época do primeiro cinema (final do século XIX). O diretor Marc Shaffer mostra o quanto detalhista era Muybridge em suas fotos e o quanto ele possuía um olhar diferente para o mundo, típico dos grandes inventores e artistas. O filme se constrói através de depoimentos de estudiosos e admiradores de Muybridge, com destaque para o carisma incontestável do ator inglês Gary Oldman. Um documentário imperdível não só pelo viés histórico que resgata, mas também pela beleza que captura em cada imagem. Reparem a bonita homenagem que está presente do primeiro até o último crédito do filme.  
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A MENINA SILENCIOSA
Dir. Colm Bairéad
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 10 
Impressão: "A menina silenciosa" é uma pérola inesperada vinda da Irlanda. É uma história sobre a imprevisibilidade da beleza, de como do lodo pode nascer uma flor. Um dos mais belos filmes do Festival do Rio 2022. Uma ode ao encontro entre almas sensíveis e nascidas para o amor. O diretor Colm Bairéad realiza uma obra detalhista, silenciosa e cuidadosa no tratamento dos personagens. O filme transcorre a partir do ponto de vista da menina Cáit (excepcional atuação da jovem Catherine Clinch), o que instaura um certo suspense nas relações dela com os outros personagens. Tudo que descobrimos é a partir da sua vivência, do seu olhar lançado ao mundo. A família que aceita cuidar dela pelas dificuldades financeiras de seus pais, seria respeitosa mesmo? A realidade dura de seus pais, nos fazem duvidar até o fim da bondade dessa família que a acolhe com amor. As nossas descobertas são as dela. Descobrimos o amor junto com ela e vamos para casa com ele. Uma joia rara.
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A PRAGA
Dir. José Mojica Marins
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Filme de Mojica Marins, com roteiro do consagrado R. F. Lucchetti, iniciado em 1980, mas que ficou perdido por algum tempo, redescoberto em 2007 e finalizado em 2021. Mais um filme animalesco de Mojica, cru, insano, sexual, carnívoro e com a marca udigrudi do cinema de horror tipicamente brasileiro, como o próprio Mojica gostava de falar. Vale pelas risadas soltas e pela possibilidade de rever um filme inédito do nosso mestre maior do horror, mesmo que o resultado final não esteja à altura das grandes obras de Mojica, como "Esta noite encarnarei em seu cadáver" (1967) e "O despertar da besta (1970).        
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A HISTÓRIA DA GUERRA CIVIL
Dir. Dziga Vertov
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 5 
Impressão: Às vezes, um título de filme pode ser enganador e esse do mestre Dziga Vertov é um bom exemplo. Não há nesse documentário exatamente uma narração sobre a história da guerra civil na Rússia, ainda no processo revolucionário, em 1918, quando foi filmado. O que Vertov faz é um misto de registro do movimento militar do exército vermelho com uma elegia aos heróis da revolução russa, entre eles, Leon Trotsky. Não deixa de ser decepcionante assistir a esse filme de propaganda, que não instaura justamente uma narrativa coerente, assim como não funciona como uma montagem criativa, ao exemplo de "Um homem com uma câmera", cuja velocidade e ritmo davam um sentido ao material filmado. O resultado é um material difuso e de pouco interesse cinematográfico, que hoje vale apenas como um registro histórico de uma época, uma pena em se tratando de um dos mais inventivos documentarista do cinema.
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LOVE LIVE
Dir. K Ji Fukada
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7 
Impressão: O tema da morte é um dos mais frequentes do cinema japonês. "Love live" discute o tema com uma estranha leveza, enfatizando a distância e a frieza entre as pessoas no Japão. Uma metáfora interessante de como se dá o compromisso entre as pessoas e o quanto não conhecemos os que estão ao nosso lado. Isso, até que uma morte inesperada aconteça para desabar e desmascarar o mundo supostamente ideal de uma família, tal como um dominó perfeitamente enfileirado. O filme me reportou como a um Ozu tardio, em especial na discussão de como a tradição no Japão foi sendo destruída e suprimida pela lógica capitalista, inclusive a ponto de tornar-se socialmente deslocada.
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O JULGAMENTO DOS NAZISTAS DE KIEV
Dir. Sergei Loznitsa
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 10 
Impressão: Um documentário impressionante, nenhuma ficção consegue alcançar a tensão intrínseca a esse julgamento, moralmente crucial para a humanidade. O material de arquivo do governo soviético é filmado de maneira excepcional. A montagem de Loznitsa impõe não só um ritmo impecável como alonga e acelera as cenas na medida certa. É criada uma expectativa para como será o desfecho desse julgamento, que é inteiramente correspondida pelo diretor. Uma aula de cinema documental com uso integral de imagens de arquivo. Destaque para o emocionante depoimento de uma sobrevivente de um massacre nazista em uma aldeia na Ucrânia. Filme fundamental para a memória social da humanidade. 
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O BRANCO
Dir. Alejandro Andújar
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: Ter um filme da República Domenicana sendo exibido já é um luxo. Felizmente, "O Branco" vai além desse festejo. Um filme em que a fotografia por si já diz muito sobre ele, uma fábula sombria sobre a masculinidade tóxica, calcado numa mulher determinada a não se dobrar à tirania masculina. A opressão pode se manifestar na realidade, mas também no âmbito do fantasmagórico.
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CHEGARAM À NOITE
Dir. Imanol Uribe
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Quantos filmes sobre El Salvador já foram exibidos no Brasil? Essa coprodução espanhola e colombiana pode ser enquadrado como o típico filme político latino-americano, tão conhecido na clássica obra de Costa-Gravas ("Missing", "Z" e outros filmes). "Chegaram à noite" mostra o quanto cruel uma ditadura militar pode ser, quando nem os padres estão livres de perseguição política e de serem assassinados. Um filme em busca de justiça e que não esconde suas posições políticas. 
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LYNCH/OZ
Dir. Alexandre O. Philippe
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 5
Impressão: O documentário de Alexandre O. Philippe nos lança uma avalanche de imagens, ideias, analogias diversas e teorias sobre a influência do clássico "O Mágico de Oz" na obra de Lynch, embora não se contente só com ela, se utilizando de outros filmes, que mais desviam o foco do que aprofundam o tema. Muitas das informações se perdem no caminho, dado a celeridade com que tudo transcorre na tela. Fica uma dúvida: o filme estaria a camuflar sua fragilidade temática ou teria tanto a dizer que nos metralha com informações que muitas vezes soam desencontradas e em excesso. Vale mais pela pesquisa de imagem e pelo esforço de tentar melhor decifrar a complexa obra de Lynch, mas também mostra que ousadia e boas ideias nem sempre são garantias de bons resultados.
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JANE CAMPION: A MULHER CINEMA
Dir. Julie Bertuccelli
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: A diretora Julie Bertuccelli soube pensar um documentário onde há uma ênfase no aprofundamento acerca da obra, sempre amarrando com questões da vida da cineasta neozelandesa Jane Campion, a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro em Cannes e ganhar dois Oscar. Os filmes são analisados seguindo a ordem temporal, tendo o protagonismo feminino como base temática das obras.   
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UMA NOITE EM HAIFA
Dir. Amos Gitai
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: No ambiente rico de um bar, que também abriga uma galeria de artes, Gitai explora a polaridade entre palestinos e judeus, abusando do plano-sequência para trabalhar comportamentos dúbios dos personagens. O diretor retrata em uma noite, o quanto essa polaridade política leva os personagens à infelicidade e à desconfiança entre si. Uma obra difícil, um pouco árida, que aborda o quanto o terreno está minado pela discórdia e intolerância.       
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MEU LUGAR NO MUNDO 
Dir. Adrián Silvestre
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8 
Impressão: Desde a primeira cena, "Meu lugar no mundo" delimita qual será tanto a temática quanto a abordagem adotada pelo diretor Adrián Silvestre: a da crise de identidade de Raphi ou Raphaelle. A colaboração de própria Raphaelle no roteiro, assim como sua atuação de grande intensidade garantem uma verdade à história. Um filme consistente e profundo que coloca em discussão a difícil missão de ser transexual numa sociedade que ainda insiste em enquadrar as pessoas em caixinhas que hoje pouco servem para alguma coisa, a não ser para impor tristeza, infelicidade e frustrações. Uma obra que ao mesmo tempo indaga e afirma, que coloca o espectador na perspectiva da personagem.     
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AMANDO PATRÍCIA HIGHSMITH
Dir. Eva Vitija
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: O documentário de Eva Vitija não se propõe ser inovador na forma, mas narra com uma grande dose de afeto aspectos importantes da vida de Highsmith, dosando bem intimidade e carreira, além de mostrar trechos de filmes baseados em sua profícua obra. Na segunda metade, o filme tem uma queda no ritmo, que não chega a tirar o brilho do documentário que mantém sempre aceso o carinho pela grande mulher e escritora que Patrícia Highsmith foi.    
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PETER VON KANT
Dir. François Ozon
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: Livremente inspirado em "Petra Von Kant", de Rainer Werner Fassbinder, Ozon realiza um misto de filme-homenagem e subversivo ao original. O filme dá forma a um conteúdo denso que ora esbarra visualmente em Almodóvar ora no melodrama do próprio Fassbinder. O elenco, comandado brilhantemente por Denis Ménochet, tem ainda uma ainda exuberante Isabelle Adjani, o carisma de Hannah Schygulla, a incrível expressividade de Stefan Crepon, além da beleza juvenil de Khalil Ben Gharbia.                 
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NOSSA SENHORA DA LOJA DO CHINÊS
Dir. Ery Claver
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 4
Impressão: A trama é complexa, envolve misticismo espírita, crença católica e simbolismos familiares e culturais de Angola, um país dominado pela pobreza de muitos e a riqueza de poucos que no teatro da vida encenam enganosos rituais políticos. Apesar da grande potencialidade do tema, a realização escorrega no roteiro, no ritmo imposto pela montagem, em algumas intepretações do elenco e de uma direção instável e imprecisa.
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VORTEX
Dir. Gaspar Noé
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 8
Impressão: Sem perder a contundência de seu cinema, Gaspar Noé investe em um drama intimista sobre um velho casal que vive o ocaso de suas vidas, tendo no elenco, a participação inusitada do diretor italiano Dario Argento, em um raro e interessante momento como ator. Um filme que vem salvar a recente filmografia medíocre de Noé, calcada no mau-gosto, no egocentrismo e no exibicionismo. Noé divide a tela em duas para revelar as angústias do casal que a um só tempo dividem tanto o espaço físico quanto a mente caótica. Noé (assim como Haneke em "Amor") usa tintas fortes para pintar seu retrato sobre o conturbado final de vida do casal e para mostrar a difícil tarefa que é encarar o Mal de Alzheimer.            

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BLONDE
Dir. Andrew Dominik
Plataforma: Netflix
COTAÇÃO: 2
Impressão: Até o sensacionalismo, o mau-gosto e o desrespeito precisam de limite. Um absurdo constatar o quanto Dominik compactua, como diretor, da violência sobre o corpo de uma mulher.

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MI IUBITA, MEU AMOR
Dir. Noémie Merlant
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Um drama romântico simples que aborda uma história de amor improvável entre uma jovem francesa prestes a se casar e um jovem menino cigano romeno de 17 anos. A câmera passeia ora sutil ora com tensão por entre os personagens, embora busque estar mais perto do promissor casal. Os costumes e os problemas financeiros dos ciganos fazem um pano de fundo interessante a permear a trama desse inusitado romance.
                                
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O APICULTOR
Dir. Theodorus Angelopoulos
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 9
Impressão: Filme sensível que aborda de maneira melancólica e poética o momento de declínio de um apicultor, que se descobre um deslocado em um mundo que tornou-se irreconhecível para ele. A direção de Angelopoulos é como sempre profunda e reflexiva. Marcello Mastroianni quase sem dizer diálogos consegue expressar muito por meio do olhar e do silêncio. Segundo filme da trilogia do silêncio.  
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O TELEFONE PRETO
Dir. Scott Derrickson
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um terror que sabe ser também uma reflexão surpreendente sobre a masculinidade e a passagem da pré-adolescência para a adolescência.   
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A CASA GUCCI 
Dir. Ridley Scott
Plataforma: Amazon Prime
COTAÇÃO: 4
Impressão: Um filme insosso que se perde por entre as intrigas palacianas da família Gucci e que permite pouquíssimos lampejos graças as presenças de Gaga e Al Pacino. Adam Drive, irreconhecível.       

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MULHER REI 
Dir. Gina Prince-Bythewood
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
Impressão: leia a crítica completa

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O LIVRO DOS PRAZERES
Dir. Marcela Lordy
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: ver crítica completa no link abaixo.

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SANGRE ou BLOOD
Dir. Amat Escalante
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 7 
Impressão: Uma produção de estreia impactante e que desperta um estranhamento no espectador. A direção de atores econômica e a câmera estática são elementos centrais na construção fílmica de Escalante. A frieza da narrativa deixa sempre margem para que esperemos que algo de surpreendente aconteça a qualquer momento.            
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OS BASTARDOS
Dir. Amat Escalante
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 9
Impressão: Mais uma vez, Escalante nos brinda com um filme seco e certeiro sobre a vida dos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos. Há uma precisão no ritmo da montagem e na concepção da mise-en-scène. Diferente de "Sangre", esse se explicita mais a mensagem forte que o diretor quer passar. 
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MEN - AS FACES DO MEDO
Dir. Alex Garland
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 2
Impressão: O acabamento refinado da obra não esconde o massacre misógino sobre o corpo de uma mulher. O clichê final apenas reforça essa ideia.  
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MOONAGE DAYDREAM
Dir. Brett Morgen
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 5
Impressão: Às vezes, a paixão do realizador pelo seu objeto impede um recorte coerente e bem delimitado. Brett Morgen se perde no turbilhão colorido de Bowie ao atirar para todos os lados, ficando no meio do caminho. 

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IVAN, O TERRIRVEL
Dir. Mario Abbade
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: crítica completa no link

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CONTO DE VERÃO
Dir. Éric Rohmer
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 8
Impressão: Um conto luminoso de um Rohmer inspirado, com um humor refinado e um painel consistente dos costumes franceses. Uma delícia de filme, com atuações magníficas.
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AMANTES
Dir. Nicole Garcia
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 4
Impressão: Se tem algo que incomoda em um filme é a sua falta de originalidade e frescor. "Amantes" enfileira clichês banais e se transforma em um mero pastiche dos filmes médios norte-americanos.    
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CURTAS JORNADAS NOITE ADENTRO
Dir. Thiago B. Mendonça
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
Impressão: Leia a crítica completa no link abaixo.
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ÓRFÃO 2: A ORIGEM
Dir. William Brent Bell
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 5
Impressão: Como um todo, a primeira parte dessa continuação é muito forçada, o que compensa é a surpresa reservada para a segunda parte. Personagens mais aprofundados fariam muito bem ao filme, por isso a superficialidade acaba por prevalecer e tornam os sustos vazios.   
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CABARÉ BIBLIOTECA PASCAL
Dir. Szabolcs Hadju
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 7
Impressão: Um filme que aposta no estranhamento e na literatura para falar de uma dura realidade social. Vale a pena por ser uma produção da Hungria e da Romênia, cinematografias que raramente chegam no circuito comercial brasileiro.
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ENCONTROS
Dir. Hong Sang-Soo
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 8
Impressão: Crítica completa no link abaixo.

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CRIMES OF THE FUTURE
Dir. David Cronenberg
Plataforma: MUBI 
COTAÇÃO: 6
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MARTE UM
Dir. Gabriel Martins
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 9
Impressão: Ler crítica completa no link abaixo.
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A VIAGEM DE PEDRO
Dir. Lais Bodanski
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
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MEMÓRIA
Dir. Apichatpong Weerasethakul
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 9
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NÃO! NÃO OLHE! 
Dir. Jordan Peele
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 7
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BOA SORTE, LEO GRANDE
Dir. Sophie Hyde
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 5
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THE HUMANS
Dir. Stephen Karam
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 7
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ELVIS 
Dir. Baz Luhrmann
Plataforma: Cinema
COTAÇÃO: 6
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A CHIARA
Dir. Jonas Carpignano
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 7
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CIGANOS DE CIAMBRA 
Dir. Jonas Carpignano
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 9
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MEDITERRÂNEA
Dir. Jonas Carpignano
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 8
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RENDEZ-VOUS EM PARIS
Dir. Éric Rohmer
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 7
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O ÚLTIMO TURNO
Dir. Andrew Cohn
Plataforma: Amazon Prime
COTAÇÃO: 7
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VÍCIO FRENÉTICO
Dir. Werner Herzog
Plataforma: MUBI
COTAÇÃO: 6
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STALKER 
Dir. Andrei Tarkovski
Plataforma: Cinema em casa do SESC SP
COTAÇÃO: 10

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Uma jovem mulher e seus percalços numa França decadente Texto de Marco Fialho Como é bom poder assistir a um filme de Mia Hansen-Love, essa jovem cineasta já com uma carreira sólida e profícua, e vendo ela voltar para os filmes com a sua marca indelével: os dramas românticos arranhados pela dureza da vida cotidiana, de um realismo que caminha entre a vontade de viver e sonhar e a difícil realidade de um mundo que impõe doenças e relacionamentos amorosos complicados.  Um dos pontos a destacar em "Uma bela manhã", esse drama intimista e extremamente sensível, são as atuações dos atores, em especial o belíssimo trabalho de Léa Seydoux como Sandra e a arrebatadora interpretação do experiente ator Pascal Greggory como o pai, um professor e intelectual brilhante que sofre de uma doença neurodegenerativa rara, onde perde a noção espacial e a visão. A câmera de Mia não desgruda a câmera de Sandra e mais do que seu olhar sobre as coisas, acompanhamos o comportamento dela perante às ag

GODZILLA - MINUS ONE

Texto de Marco Fialho O maior mérito de "Godzilla - Minus One" está na maneira como o diretor Takeshi Yamazaki conjuga a história narrada com o contexto histórico do Japão pós segunda guerra. O monstro Godzilla é fruto direto do efeito nuclear provocado pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos.  O filme funciona como uma resposta à vergonha japonesa ao difícil processo de reconstrução do país, como algo ainda a ser superado internamente pela população. A partir desse fato, há um hábil manejo no roteiro para que a história funcione a contento, com uma boa fluência narrativa.  Aqui o monstro é revelado desde o início, não havendo nenhuma valorização narrativa, ou mistério, sobre a sua aparição. Mas se repararmos com atenção, "Godzilla - Minus One" é  um filme de monstro, embora se sustente tendo na base um melodrama de dar inveja até aos mais radicais da safra mexicana dos anos 1950. A história parte de Koichi, um piloto kamikaze que se recusa a executar uma or