Texto por Marco Fialho A melhor forma de encarar Memórias de um Verão é abraçar desde as primeiras imagens a sua proposta contemplativa. O diretor Charlie McDowell realiza um filme com altas doses poéticas e nos convida a fazer uma viagem sensorial embalada por uma paisagem deslumbrante e única de uma família que vive em uma pequena casa de madeira em verão quase gélido, em uma região afastada na Finlândia. O ritmo de Memórias de um Verão beira o subversivo, por nos obrigar a nos despir da agitação na qual vivemos, nesse mundo acelerado que aceitamos a pressa do viver a mil. Confesso que estava sentindo falta de filmes como esse, cujo o ambiente em si nos force como espectador a adentrar em outra vivência do tempo. É cinema em seu estado bruto, diretamente ligado à natureza e deixando que ela dite o nosso ritmo com sua desaceleração. O cinema não só como sintoma da aceleração do mundo contemporâneo, mas capaz de instaurar outras dinâmicas do tempo, calcadas pela lógica do ciclo da...
Texto por Marco Fialho Através do Fluxo é mais uma obra enigmática e repleta de buracos, em que o diretor sul-coreano Hong Sang-soo dialoga o tempo todo com uma sensação de que alguma coisa está para além do quadro. Sempre temos uma impressão de que falta alguma informação ou algum resíduo de acontecimentos, ou até mesmo que algo de inesperado acontecerá em breve. Logo verificamos que a base de Através do Fluxo é o fluxo das conversas, de como elas vão desenhando novas situações e reflexões. Afinal, essa é a arte de Sang-soo, transformar o banal em preciosidade e algo extremamente humano. O maior barato do cinema de Sang-soo é a constante busca na sua maneira de filmar e narrar, aparentemente tão igual, mas que marca um diferencial, pois apesar de alguns fatos se repetirem, como as cenas de bebedeiras em volta de uma mesa, os seus filmes revelam sutilezas e detalhes surpreendentes. Para o diretor, o ato de beber é um momento em que abrimos nossas emoções mais verdadeiras. ...