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AMADA (2025) Dir. Elisa Amoruso

Texto por Marco Fialho Um dos pontos fortes de Amada , filme dirigido por Elisa Amoruso, é a sua montagem muito bem articulada com o desenvolvimento de duas histórias em paralelo que jamais se cruzam, apesar de estarem completamente conectadas por um único fato, que aos poucos o filme vai revelando.  De um lado temos Nunzia (Tecla Insolia), uma jovem universitária que vive uma gravidez indesejada. De outro, temos Maddalena (Miriam Leone), uma mulher com mais de 40 anos de idade, que vem tendo reincidentes abortos involuntários. A diretora Elisa Amoruso une essas duas mulheres com todo o cuidado e sensibilidade possíveis, em um trabalho delicado, onde vamos conhecendo os contextos de vida de cada uma dessas mulheres.  Muitas vezes, o uso da montagem paralela define as angústias e dramas de Nunzia e Maddalena, numa confrontação de vida que determinarão seus futuros. Amada aborda um tema eivado pela fragilidade, o da maternidade desejada e a não desejada e Elisa Amoruso busca com...
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COBERTURA FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO 2025

  CRÍTICAS DO FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO 2025 AS PROVADORAS DE HITLER Dir. Silvio Soldini AS PROVADORAS DE HITLER (2025) Dir. Silvio Soldini VERÃO NA SICÍLIA Dir. Marguerita Spampinato VERÃO NA SICÍLIA (2025) Dir. Marguerita Spampinato DIAMANTES  Dir. Ferzan Özpetek DIAMANTES (2024) Dir. Ferzan Özpetek ROBERTO ROSSELLINI, MAIS DO QUE UMA VIDA Dir. Ilaria de Laurentis, Andrea Paolo Massara e Raffaele Brunetti ROBERTO ROSSELLINI, MAIS DO QUE UMA VIDA (2025) Dir. Ilaria de Laurentiis, Rafaele Brunetti e Andrea Paolo Massara AMADA Dir. Elisa Amoruso AMADA (2025) Dir. Elisa Amoruso NAPOLI-NEW YORK Dir. Gabriele Salvatores NAPOLI-NEW YORK (2024) Dir. Gabriele Salvatores

DIAMANTES (2024) Dir. Ferzan Özpetek

Texto por Marco Fialho Diamantes é uma grande homenagem ao cinema, mas não como habitualmente vemos, aqui o diretor ítalo-turco Ferzan Özpetek presta um tributo de maneira muito original ao mostrar por dentro o trabalho de um ateliê de figurinos cinematográficos. Diamantes inicia em uma reunião de um diretor de cinema (representado pelo próprio Özpetek) com 18 atrizes que ele quer reunir para realizarem um filme que mostre a dinâmica do trabalho de figurinista e de todos os profissionais que o envolvem.  O filme desse diretor, se passa nos anos 1970 e mostra o trabalho de duas irmãs, Alberta (Luisa Ranieri) e Gabriella (Jasmine Trinca) frente a um ateliê de figurinos. Diamantes alterna trechos dos anos 1970 com a atualidade, que nada mais é do que a reunião da equipe de filmagem. É impressionante o ritmo que Özpetek injeta no seu projeto, inteiramente tomado pela paixão e pelo entusiasmo da equipe.  Özpetek constrói uma história em torno do ateliê, de suas funcionárias, seus ...

AS PROVADORAS DE HITLER (2025) Dir. Silvio Soldini

Texto por Marco Fialho O diretor Silvio Soldini realiza com As Provadoras de Hitler o seu filme mais sombrio e pungente da carreira. E essa história, por pouco, não ficou para debaixo do sujo tapete nazista, já que foi uma das sobreviventes que deu origem a um livro escrito por Rosella Postorino, que trouxe à tona essa história canhestra e absurda, de jovens mulheres que provavam a comida de Hitler para que ele não fosse envenenado.  Soldini capricha no visual de As Provadoras de Hitler , com uma direção de arte esmerada, que colabora para que os atores, e nós espectadores, possam imergir nesse sombrio mundo do nazismo. Somos convidados então a penetrar na vida desse lugarejo do interior da Alemanha, vizinho ao bunker onde se esconde Hitler. Rosa (Elisa Scholott) é uma mulher berlinense cujo marido foi à guerra e que não tem mais pai e mãe, e por isso, vai morar com os pais de seu marido. Logo que chega lá, é recrutada, junta com mais outras 6 meninas, para ser provadora da co...

VERÃO NA SICÍLIA (2025) Dir. Marguerita Spampinato

Texto por Marco Fialho Verão na Sicília , dirigido por Marguerita Spampinato, é antes de tudo um filme carismático e leve, embora trate de temas agudos e existenciais. A trama se resume a Nico (Marco Fiore), um garoto por volta de 8 anos que entra de férias escolares e a sua babá não poderá cuidar dele, pois precisa viajar para casar, e ele é obrigado a passar um mês na casa de uma tia solteirona (Aurora Quattrocchio) na afastada Ilha da Sicília.  Interessante como os tempos se cruzam no decorrer da narrativa de Verão na Sicília . O tempo ralentado da tradição siciliana ditado pela personagem da tia solteirona, com suas imagens desgastadas de Cristo, se confronta com a vivacidade urbana de Nico, um menino espevitado criado no norte da Itália, numa ambiência ditada pela tecnologia contemporânea, cujo o celular é o maior símbolo dessas diferenças de ritmo de vida. Mas o melhor de Verão na Sicília é o quanto o filme vai além desses contrastes, o quanto ele mostra que a vida é permanen...

ROBERTO ROSSELLINI, MAIS DO QUE UMA VIDA (2025) Dir. Ilaria de Laurentiis, Rafaele Brunetti e Andrea Paolo Massara

Texto por Marco Fialho Roberto Rossellini, Mais do Que Uma Vida é um filme admirável. A tríade de diretores Ilaria de Laurentiis, Andrea Paolo Massara e Raffaele Brunetti realizam algo original em um formato muito usual, o de mostrar a vida de um artista, seja ele de qual arte ele está inserido. Isso porque esse documentário foi pensado afinado com o próprio objeto de pesquisa, o diretor italiano Roberto Rossellini, um dos mais controversos e corajosos cineastas da história. O próprio título dúbio de Roberto Rossellini, Mais do Que Uma Vida , já nos deixa uma pista sobre o seu processo criativo e de abordagem, o filme quer construir essa vida conturbada e intensa, de um artista apaixonado pelo que faz, mas igualmente determinado a não olhar para o que fez no passado e querer buscar sempre algo diferente que queira fazer no presente. Mas, ao mesmo tempo, tem o homem Roberto, que não ficou restrito a nada, múltiplo e ávido por se aventurar na vida e por ter mais conhecimento, um estudios...

NAPOLI-NEW YORK (2024) Dir. Gabriele Salvatores

Texto por Marco Fialho Napoli-New York tem como mote explorar traços da imigração italiana em Nova York, no período do pós-guerra, tendo Carmine (Antonio Guerra) e Celestine (Dea Lanzaro), um menino e uma menina, ambos ainda crianças, que adentram como clandestinos em um navio rumo a maior cidade do mundo e à terra que simbolizava a esperança de uma vida melhor. A história é inspirada em uma história original de Federico Fellini e Tulio Pinelli, mas é bom que se diga, que o filme não tem nenhum lastro de influência de sua obra.  A trama inicia com Celestine perdendo toda a família, depois que uma bomba atingiu sua casa, e a menina quer ir para Nova York encontrar a sua irmã mais velha, único membro de sua família que ainda está vivo. Essa aventura é narrada com grande dramaticidade, já que a incumbência das crianças é para lá de ousada. Não é fácil sobreviver em um navio como clandestino, entretanto, já embarcados, tem a sorte de esbarrar na ajuda do comissário de bordo Joseph Garo...

#SALVEROSA (2025) Dir. Susanna Lira

Texto por Marco Fialho A princípio, tudo em #SalveRosa lembra harmonia e felicidade. Mas bastam algumas cenas a mais para logo desconfiarmos que algo ali não bate. Uma menina vive o sucesso pelas redes sociais, seus vídeos tem muitos views e seus seguidores só aumentam. O novo trabalho de Susanna Lira aborda a difícil relação entre infância e redes sociais no mundo contemporâneo.  #SalveRosa inicia com Dora (Karine Teles) comunicando a filha, Rosa (Klara Castanho), supostamente de 13 anos, que o programa dela como influencer ganha 2 anos de patrocínio. Ambas estão saindo de uma cidade do interior de São Paulo e indo morar em um condomínio de luxo, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Logo, veremos uma situação para lá de abusiva entre Dora e Rosa, em que mãe subjuga a filha a trabalhar como influencer para ganhar dinheiro, inclusive manipulando o corpo da menina para que o seu crescimento fosse retardado por prescrições arbitrárias de hormônios.  Para além da história em si,...

O MEU NOME É ALFRED HITCHCOCK (2022) Dir. Mark Cousins

Texto por Marco Fialho O mais impressionante de O meu nome é Alfred Hitchcock é a maneira criativa como Mark Cousins aporta no universo múltiplo do diretor inglês. Cousins escolhe 6 temas (fuga, desejo, solidão, tempo, realização e altura) para durante duas horas brincar com os filmes do mestre inglês, propondo pensamentos inusitados e originais, sem esquecer do humor cáustico e leve que o consagrou. Por vezes, essa divisão por capítulos leva o resultado final para um certo engessamento e repetições que podiam ser evitáveis.    Outra surpresa maravilhosa é a impecável narração em off realizada no presente, escrita pelo próprio diretor, e realizada pela voz do ator Alister McGowan, que emula Hitchcock com rara precisão. Cheguei a pensar que era uma voz vinda da IA, o que seria até uma possibilidade viável e criativa para o tipo de documentário que Cousins se propõe a realizar. Cousins trabalha com um roteiro em que almeja explorar muitos significados supostamente originais da...

FRANKENSTEIN (2025) Dir. Guillermo Del Toro

Texto por Marco Fialho Depois de tantos filmes lançados, já podemos afirmar que Guillermo Del Toro é um cineasta afeito ao espetáculo e à fábula. Na refilmagem de Frankenstein , um sonho acalentado pelo diretor desde sempre, da importantíssima Mary Shelley, uma escritora fundamental e pilar da ideia de literatura de ficção científica. Entretanto, mais do que um filme de terror, Frankenstein de Del Toro ganha em dramaticidade pela forma que adapta Shelley.  Se  Frankenstein impressiona por um lado, em especial por demarcar bem as contradições e as ambiguidades do caráter humano, por outro, faz uso de um CGI (Imagens Geradas por Computador) que incomoda, como o da criação de animais que tornam esquisitas e artificiais determinadas imagens, assim como alguns cenários que fazem a atmosfera do filme parecer mais um ambiente de videogame do que uma locação de cinema, com alguma veracidade. São elementos que fazem o espectador imergir em uma realidade que denota artificialidade e atr...