Texto por Marco Fialho Se o livro de Milton Hatoum esbanja pelas múltiplas vozes que imprime em seu livro Relato de um Certo Oriente , Marcelo Gomes em Retrato de um Certo Oriente , aposta apenas na centralidade de uma das histórias do livro, a de Emilie (Wafa'a Celine Halawi), desde o Líbano até fixar residência em Manaus. O filme marcado pelo singeleza, com interpretações que fogem da eloquência, onde o menos torna-se mais. Uma obra ditada pelos olhares e pelos pequenos indícios deixados por gestos sutis, porém firmes de seus personagens. Essa é uma história de desterro, em que dois irmãos, Emilie e Emir (Zakaria Kaakour), fogem do Líbano para não serem mortos pela guerra que domina o país. Retrato de um Certo Oriente encara o multiculturalismo no qual as guerras são grandes motores. Desenraizar é uma forma de defesa encontrada como um caminho de sobrevivência. O que mais encanta em Retrato de um Certo Oriente é a capacidade de Marcelo Gomes criar imagens simples e potentes, com
Texto por Marco Fialho 171 , dirigido por Rodrigo Siqueira, traz para o cerne de sua obra a discussão sobre discursividade e o teor de verdade e mentira existentes tanto na vida quanto no cinema. Contudo, não se deve esperar de 171 um viés convencional ou didático, ainda mais que a matéria-prima escolhida para tal feito são as vozes e os corpos de seis pessoas presas por estelionato. A maior inspiração de Rodrigo Siqueira para edificação do filme é simplesmente Seis Personagens à Procura de um Autor , um clássico da dramaturgia teatral de Luigi Pirandello e um marco fundamental para se pensar a natureza do ato da representação artística. A proposta de 171 consiste em desafios, ora para a dramaturgia ora para a espectatorialidade. A dramaturgia do filme coloca de frente a questão da representação, encarada fundamentalmente como um pressuposto metodológico. Existe a verdade ou a encenação dela? Mais importante do que ser é aparentar ser. Somos todos atores perante a encenação da vida?