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LAN, O CARICATURISTA (2025) Dir. Pedro Vinícius

Texto por Marco Fialho Lan, O Cartunista é um documentário intimista, um retrato sensível de um dos grandes desenhistas e cartunistas em atividade no Brasil. A proposta do diretor Pedro Vinícius valoriza tanto o artista quanto a personalidade desse italiano da Toscana que adotou o Rio de Janeiro como sua residência. O diretor centraliza sua narrativa na casa bucólica do artista e na vida tranquila que levava ao lado de Olivia, sua esposa. Por mais que o filme traga algumas imagens de arquivo, a narrativa prioriza imagens de Lan em sua vida cotidiana em sua bucólica fazenda. Tudo flui de maneira bem lenta, vemos Lan em sua poltrona curtindo um vinho e relembrando de fatos de sua vida pessoal e profissional, ou em sua mesa de trabalho esboçando um desenho e discursando sobre a vida. O tema da memória é central nessa história contada de maneira serena e sem pressa. Várias causos pitorescos são lembrados, em especial os relacionados à carreira que desenvolveu tanto no Uruguai quanto no Bra...
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SRA. PRESIDENTE (2024) Dir. Marek Sulik

  Texto por Marco Fialho Tem diretores que tem uma joia em mãos, mas deixa escapar a boa oportunidade ao ficar na superfície dos fatos, ou melhor, não consegue ir além dos fatos. É o caso de Marek Sulik com seu documentário Sra. Presidente . Mas o que falta ao filme para ele ser visto como um filmaço? Ao meu ver, falta uma contextualização melhor fundamentada. Talvez para quem more na Eslováquia, ou República da Eslováquia como alguns preferem chamar, o material possa dizer algo a mais, já para quem não conhece aquela realidade, tudo soa muito personalista e descritivo demais.  O documentário Sra. Presidente começa com o final do pleito presidencial, em que vemos Zuzana Caputová prestes a se eleger a primeira mulher presidente do país para o mandato de 2019-23. Não se sabe muito bem quem é essa mulher, de onde ela vem, como ela vê a política e qual o seu perfil ideológico, embora perceba-se um traço mais liberal dela em meio a uma extrema direita avassaladora e misógina. É es...

COBERTURA CINE FIALHO DO FESTIVAL "É TUDO VERDADE" 2025

Cobertura do Festival É Tudo Verdade 2025.  Críticas: VIVA MARÍLIA  Dir. Zelito Viana e Esperança Motta Crítica:  VIVA MARÍLIA (2024) Dir. Zelito Viana   ___________ RETROSPECTIVA HUMPHREY JENNINGS Crítica:   HUMPHREY JENNINGS NO "É TUDO VERDADE" 2025 __________ SRA. PRESIDENTE Dir. Marek Sulik  Crítica:  SRA. PRESIDENTE (2024) Dir. Marek Sulik __________

VIVA MARÍLIA (2025) Dir. Zelito Viana

Texto por Marco Fialho Uma delícia! Essa é uma primeira impressão que temos ao deixar a sala de exibição após assistirmos ao radioso documentário  Viva Marília , dirigido por Zelito Viana, com a codireção de Esperança Motta e roteiro de Nelson Motta. É, sem dúvida, uma homenagem à altura do talento de Marília Pêra, uma das grandes artistas de nosso país. Um filme que conta com a participação do filho e das filhas, mas cujo maior atrativo é repassar a vida dela por meio de sua voz, trabalhos e depoimentos.  É muito difícil retratar uma personagem que possui uma trajetória longa e de imensa expressão artística, reconhecida pelo destacado talento. Essa multiplicidade de possibilidades é o maior adversário do documentarista. Entretanto, Zelito Viana acerta em cheio ao construir um filme ao mesmo tempo solto, sem amarras cronológicas, o que engessaria a proposta, e preciso ao deixar a própria personagem narrar fatos de sua vida.  A montagem de Jordana Berg é de uma sensibilida...

HUMPHREY JENNINGS NO "É TUDO VERDADE" 2025

Texto por Marco Fialho Humphrey Jennings é um cineasta desconhecido no Brasil, infelizmente. A importância de um festival do porte de um É Tudo Verdade é esse, poder trazer à baila uma obra historicamente determinante, mesmo que pouquíssimo conhecida de nós.     As escolas de cinema muito falam de John Grierson, o escocês que foi o grande mentor da escola inglesa de documentários e responsável por instaurar uma forma de pensar o gênero documental no cinema como autônomo ao ficcional. Essa maneira de conceber o cinema ficou reconhecido como clássico de se fazer filmes não ficcionais, com cunho educativos, vinculados a uma estratégia de propaganda do governo inglês. Grierson criou então a GPO (General Post Oficce), produtora que viabilizou diversos filmes basilares para a história do documentário mundial.  Humphrey Jennings começou a sua carreira no cinema na GPO, mas o mais curioso é que com o tempo, sua abordagem de filmar se diferenciou da defendida por Grierson. O...

PRESENÇA (2025) Dir. Steven Soderbergh

Texto por Marco Fialho Não deixa de ser interessante ver Steven Soderbergh passeando pelo terror psicológico em seu mais novo filme chamado Presença . Fica evidente a pouca familiaridade do diretor por esse gênero , já que o filme estruturalmente se arquiteta mais como um drama do que como um suspense. Mas esse detalhe não deixa de trazer um aspecto mais sóbrio a Presença  e isso é notório logo na primeira cena em que a câmera está colocada na parte de dentro da janela, como se alguém olhasse a chegada de uma pessoa à casa. Esse fantasma já está ali, portanto, bastante naturalizado no campo diegético. Ele fantasma não promove maldades ou algo do tipo, o que faz a gente crer que o mal estaria no mundo, não ali no interior da casa.  Presença foi inspirado em uma casa em que a família de Soderbergh morou, que no passado havia acontecido um assassinato, em que a mãe foi morta pela filha. Embora tudo pareça ser ameaçador ou instaurar uma tensão, o que vemos é uma atmosfera familiar...

OESTE OUTRA VEZ (2024) Dir. Érico Rassi

Texto por Marco Fialho As primeiras imagens de Oeste Outra Vez são emblemáticas e elas expressam uma aridez fora do comum para um país como o nosso. Mas essa aridez passa longe do gratuito, ela é um marco de identidade dos personagens que acompanharemos logo a seguir, numa briga a mão, com claro caráter cômico, por conta de uma mulher. E diga-se de passagem que essa é a única e rápida vez que uma mulher aparece no filme.  A maior marca de Oeste Outra Vez  está na transposição dessa paisagem para uma interiorização dos personagens. É um filme de fora para dentro, onde a paisagem e o distanciamento do território se desloca para dentro do filme com uma força impressionante, esse é o dispositivo que vemos o diretor Érico Rassi aplicar com tremenda eficácia em sua obra. A exploração da aridez do território traz Oeste Outra Vez  para o ambiente do faroeste, para a masculinidade desse universo cinematográfico que tanta história fez na cinematografia clássica dos Estados Unidos e...

CÂNCER COM ASCENDENTE EM VIRGEM (2025) Dir. Rosane Svartman

Texto por Marco Fialho  Confesso que fui entusiasmado assistir a Câncer Com Ascendente com Virgem , de Rosane Svartman, depois de ouvir muitos depoimentos favoráveis e críticas efusivas, mas realmente fiquei pasmo com o que assisti. E não estou aqui para discutir o imenso carisma do filme e a temática super envolvente e até providencial de se falar de um assunto melindroso. Requer muita empatia e comprometimento com o tema, e isso o filme tem de sobra.  Porém, para além dessa relevância temática, tem um filme para se analisar, e nesse prisma, creio até ser difícil de comentar. Para mim, não há ali exatamente um filme, e sim uma peça publicitária institucional sobre um processo de tratamento médico altamente invasivo e penoso. O roteiro segue exatamente essa lógica de diálogo com o público, de como expor um tema delicado com o máximo de leveza, para não ferir a suscetibilidade das pessoas, inclusive as que já foram afetadas por essa terrível doença ou de familiares que já passa...

A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA (2023) Dir. Vera Egito

Texto por Marco Fialho Se Ainda Estou Aqui ampliou a necessidade de se rever o absurdo da violência da ditadura a partir de um ambiente de uma família abastada, A Batalha da Rua Maria Antônia , leva essa violência para dentro de uma instituição pública de ensino superior, no caso, da Faculdade de Filosofia da USP. E a diretora e roteirista Vera Egito realiza um filme com imensa pungência ao sublinhar a necessidade da luta contra os regimes de exceção, atualidade essa que também se afinal com o filme de Walter Salles. O filme narra as 21 horas que antecederam um conflito entre estudantes e o exército durante o regime militar e que culminou em uma tragédia histórica para o país. A diretora arremessa os espectadores para dentro de um ambiente de grande tensão, movido por 21 planos-sequências de tirar o fôlego. Aqui, os planos-sequências mostram as várias perspectivas da história, examinado o pensamento de professores e alunos, suas atitudes e decisões tomadas no calor da hora, no ápice da...

SEMPRE GAROTAS (2024) Dir. Shuchi Talati

Texto por Marco Fialho Sempre Garotas , dirigido pela diretora Shuchi Talati,   trata de um dos temas mais comuns do cinema indiano: o da repressão sexual sobre as mulheres e o que o filme nos oferece é uma rara visão de uma mulher, o que de certo valoriza a abordagem e nos faz ficar mais atento ainda ao fato narrado.  As reflexões de Shuchi Talati partem da história de Mira (Preeti Panigrahi), uma jovem do ensino médio de um internato que se defronta com dois desafios gigantes: se manter como a melhor aluna da turma, sendo a monitora-chefe e lidar com a sexualidade cada vez mais se aflora fisicamente, que se acentua com a chegada de Sri (Kesav Binoy Kiron), um jovem disposto a conquista-la com firmes propósitos de sedução. Mas no meio do caminho de Mira tem Anila (Kani Kusruti), a mãe, uma jovem senhora carente, que também faz seus jogos de sedução com o jovem pretendente.  A partir dessa história que Shuchi Talati constrói momentos de permanente tensão entre os personag...