Pular para o conteúdo principal

Postagens

PLANETA DOS MACACOS: O REINADO

Texto de Marco Fialho Planeta dos Macacos: O Reinado é um dos melhores filmes, senão o melhor, da nova fase dessa franquia que sempre rende bons trabalhos. A trama revela muitas camadas e discussões interessantes acerca das relações sociais construídas historicamente pelos homens, tendo aqui os macacos como seres modificados geneticamente pelos humanos, o que lhes garantiu adquirir fala, mais inteligência e maior habilidade motora em um mundo distópico, totalmente destruído pelos humanos e dominado pelos macacos.       O filme se passa a muitas gerações à frente de Cesar, um líder mitológico desconhecido por muitos no presente, já que os macacos vivem dispersos, divididos por tribos, cada qual com uma organização própria. Noa (Owen Teague) é um macaco que vive com a Tribo das Águias, comunidade de chimpanzés que vive alienada do que acontece após um túnel que leva para um mundo proibido, que eles acreditam ser habitado pelos Ecos (que é como eles chamam os humanos). Mas o grande barato
Postagens recentes

RIVAIS (2023) Dir. Luca Guadagnino

  Texto de Marco Fialho O primeiro ponto que gostaria de ressaltar em Rivais  é o quanto o diretor Luca Guadagnino se revela um grande artesão cinematográfico. Creio que o forte do filme seja a direção, a construção dos planos, a câmera e a concepção narrativa consciente que Luca faz quando executa uma cena. Isso independe se o resultado me satisfaz ou não, é apenas um reconhecimento honesto de uma habilidade. Para mim, foi difícil pensar Rivais  fora de uma ideia de produto. Isto porque há um acabamento impressionante, um cuidado delicado com cada cena. Rivais não deixa de ser um produto bem embalado, como um comercial de TV bem produzido, apelativo e feito com o propósito de provocar sensações variadas. É um filme típico da atual indústria cinematográfica: caprichar no invólucro para que não se pense tanto no conteúdo.  Creio que um dos elementos mais charmosos de Rivais  seja a sua câmera, a valorização da estética do movimento. Encantar pelo olhar, pelo cuidado publicitário que cad

O SIGNO DO CAOS (2005) Dir. Rogério Sganzerla

Texto de Marco Fialho O cinema de Sganzerla é um cinema de rupturas e  O signo do caos de certa maneira e por esse viés, pode ser considerado o filme mais radical de Rogério Sganzerla. O seu último filme lançado segue um tendência do diretor em lutar contra o academicismo e a preguiça intelectual encruada no Brasil. Sganzerla volta a Orson Welles e define o seu filme na abertura como anticinema. O signo do caos pode ser considerada ainda como uma anticomédia à grosseria representada pelo ato insano da censura. Mas antes de tudo, o filme é mais um experimento de Sganzerla acerca da ruptura que ele tanto realizou em sua trajetória. O cinema como um espelho do Brasil, como uma peça crítica sobre a nossa cultura. Devorá-la antropofagicamente e pelo popular, sendo fiel ao pensamento oswaldiano. Sganzerla inicia o filme com a apreensão da obra filmada por Welles no Brasil ( It's All True ) por um censor com um nome muito assintomático, Sr. Amnésio, acompanhado por diversos assessores, qu

DIÁLOGOS COM RUTH DE SOUZA (2022) Dir. Juliana Vicente

Texto de Marco Fialho Há muito tempo que Ruth de Souza, uma das nossas mais importantes atrizes brasileiras, merecia ter um documentário para explorar a riqueza de sua trajetória no cinema, no teatro e na televisão. Ruth foi a primeira atriz negra a ter uma carreira sólida nas artes dramáticas e isso por si só garante a relevância de Diálogos dom Ruth de Souza , dirigido por Juliana Vicente.  Se por um lado,  Diálogos com Ruth de Souza  é um filme obrigatório, cabe também assinalar o quanto ele também é   irregular em sua construção, em especial pela montagem que não consegue costurar uma bela história. Um dos elementos que mais atrapalha o ritmo são as imagens ficcionais realizadas pela diretora, que por serem muito imprecisas pouco acrescentam aos depoimentos e imagens de arquivos. Essas imagens impedem sistematicamente o envolvimento do público com as histórias relevantes de Ruth de Souza. Outro elemento que dificulta a atenção do espectador, é a pouca fluência entre as imagens do p

A FILHA DO PALHAÇO (2022) Dir. Pedro Diógenes

Texto de Marco Fialho A Filha do Palhaço , novo filme do cearense Pedro Diógenes, um egresso do criativo ajuntamento cinematográfico Alumbramento, reafirma a temática interpessoal como a mais forte de sua recente filmografia solo. A busca por uma narrativa terna marca uma abordagem que antevê as relações humanas dentro de um espectro contemporâneo marcado pela diversidade de gêneros.  Pai e filha estão no centro da narrativa e da mise-en-scène de A Filha do Palhaço , Joana (Lis Sutter) e Renato (Démick Lopes). Pedro Diógenes constrói um filme sobre a aproximação desses dois personagens que anseiam resgatar um tempo perdido pela ausência forçada pelos caminhos imprevisíveis e tortuosos da vida. Na reconexão entre pai e filha está a beleza de uma narrativa fluente que Diógenes impõe ao seu filme. Como já havia feito em Inferninho (2019), Diógenes faz uso de uma fotografia que por vários momentos é impregnada por um universo que beira o onírico e muito realiza isso por meio de Silvanelly,

O MAL NÃO EXISTE (2023) Dir. Ryusuke Hamaguchi

Texto de Marco Fialho O Mal Não Existe é o filme mais engajado politicamente do diretor japonês Ryusuke Hamaguchi. Depois de obras mais filosóficas e existenciais como Roda do Destino (2021),  Drive My Car (2021),  Asako I & II (2018), o diretor aterriza na denúncia contra o ambicioso mundo da impessoalidade e arrivismo capitalistas. O que Hamaguchi imprime uma narrativa exponencial amparada em um misto de encanto e revolta.  Em O Mal Não Existe vemos um diretor em franco processo de amadurecimento técnico, apegado à simplicidade e disposto a colocar as cartas na mesa. A história narra a vida de uma pequena comunidade que vive à margem de uma floresta próxima a Tóquio, moradores conscientes dos benefícios de se ter uma vida com acesso a uma água límpida, todos usuários sustentáveis dos bens naturais que o cercam. Takumi (Hitoshi Omika) é o personagem central, que vive isolado com sua jovem filha de 12 anos e o maior conhecedor da natureza do local. A implantação de um grande hotel

LUZ NOS TRÓPICOS (2020) Dir. Paula Gaitán

Texto de Marco Fialho O primeiro comentário que cabe a Luz nos Trópicos  é que essa é estruturalmente uma obra anti-épica. Há um elemento diacrônico presente, mas jamais utilizado com o intuito causal, pois a relação tempo-história é proficuamente aberta, passível de leituras diversas e amplas. Não se esgota jamais, nem antropologicamente, nem por qualquer outro viés de análise. As suas quase 4 horas e meia de duração são na verdade ilusórias, pois o tempo estendido sentido no filme nos convida a passear por tempos esparsos e culturas díspares, o que faz o tempo parecer mais dilatado ainda, tornando a tentativa de sua mensuração algo estéril e ineficaz.   Sem dúvida, a maior de todas as viagens de Luz nos Trópicos  é a sensorial. Somos convidados a simplesmente fruir, sentir sensações que as imagens e sons (sim, eles são muito vibrantes aqui) estão a provocar. Logo nas primeiras imagens do filme somos entregues às texturas. Imagens de uma Nova York distante, impregnada por um filtro av

LA CHIMERA (2023) Dir. Alice Rohrwacher

Texto de Marco Fialho A diretora Alice Rohrwacher tem se revelado uma artista criativa, que caminha em um terreno instável entre a realidade, o onírico e a história. Antes de La Chimera, filmou dois longas consistentes: Lazzaro Felice (2018)   e As Maravilhas (2014). Considero Alice uma herdeira cinematográfica profícua de Federico Fellini, por essa capacidade fantástica de falar da Itália por meio de imagens vindas do universo popular, juntando fábula com um realismo.  La Chimera  já se contamina pelo onírico logo na cena de abertura, onde Arthur (Josh O'Connor) é transpassado por uma dupla imagem de um sol inatingível, um que está tatuado nas costas de sua amada Beniamina (que encontra-se desaparecida ou morta) e um que ele vê se perdendo em um pôr-do-sol numa viagem de trem que o leva de volta à Toscana em busca desse amor perdido. Ele esteve preso por violar túmulos etruscos no passado, junto com um grupo de bandidos ordinários, e agora vai continuar a vagar entre o passado e o

DORIVAL CAYMMI - UM HOMEM DE AFETOS

Texto de Marco Fialho O filme de Daniela Broitman parte de uma conversa inédita de Caymmi na casa de um amigo. Mas não se detém só a isso, explora ainda a visão de familiares, empregada e principais amigos sobre ele, além de alguns registros em vídeos mais antigos.  Apesar de recentemente se ter filmado filmes sobre o compositor baiano, o documentário de Broitman revela particularidades interessantes de Caymmi, sem idolatria de sua personalidade e até questionando ideias sempre partilhadas de que ele era muito calmo. Vários relatos de familiares escapam um Dorival difícil de lidar no cotidiano, fora dos holofotes.  Caymmi também é retratado por todos como um mulherengo incurável, o que desagradava Stela, sua esposa. Inclusive é curioso não se ter uma fala de Stela, apesar de que muito se fala no documentário da presença forte dela na vida do compositor. Entretanto, essas revelações em nada suprimem o afeto como marca principal de sua personalidade tanto musical quanto pessoal.  Mesmo q

AUMENTA QUE É ROCK'N ROLL

Texto de Marco Fialho Aumenta que é Rock'n Roll , dirigido por Tomás Portella, é um filme sobre os sonhos de um homem que tornam-se rapidamente o de uma geração. A história é tão envolta de casos surpreendentes que ficamos na dúvida de quanto ali é inventado ou aumentado, o que me remeteu de imediato à maxima e célebre frase "quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda", extraída de O homem que matou o facínora , de John Ford.  A história de Aumenta que é Rock'n Roll  é baseada no livro de seu principal protagonista, Luis Antônio Mello, no filme interpretado com muito empenho por Johnny Massaro. O diretor Tomás Portella salienta na narrativa muito do tom bem- humorado e imprime um ritmo avassalador à obra cinematográfica. Às vezes chega a ser difícil respirar pela intensidade rítmica que nos atravessa com muita força. Alguns respiros seriam muito bem-vindos, o que realmente não acontece.    Os absurdos desse enredo são tantos que ficamos sempre de olho na possibi