Texto de Marco Fialho
O filme de Daniela Broitman parte de uma conversa inédita de Caymmi na casa de um amigo. Mas não se detém só a isso, explora ainda a visão de familiares, empregada e principais amigos sobre ele, além de alguns registros em vídeos mais antigos.
Apesar de recentemente se ter filmado filmes sobre o compositor baiano, o documentário de Broitman revela particularidades interessantes de Caymmi, sem idolatria de sua personalidade e até questionando ideias sempre partilhadas de que ele era muito calmo. Vários relatos de familiares escapam um Dorival difícil de lidar no cotidiano, fora dos holofotes.
Caymmi também é retratado por todos como um mulherengo incurável, o que desagradava Stela, sua esposa. Inclusive é curioso não se ter uma fala de Stela, apesar de que muito se fala no documentário da presença forte dela na vida do compositor. Entretanto, essas revelações em nada suprimem o afeto como marca principal de sua personalidade tanto musical quanto pessoal.
Mesmo que Daniela Broitman busque construir uma visão própria do músico baiano em alguns aspectos, a estrutura do documentário não difere de tantos outros já realizados sobre ele, como um esforço em organizar músicas e depoimentos em torno de sua personalidade para lá de afirmativa. Com sua fala econômica, Dorival Caymmi dizia muito e isso fica sempre evidentes nos filmes sobre ele. O jeito baiano, eu diria muito sintético da imagem que temos hoje do que é ser baiano, é reforçado pelas músicas que traduzem a paisagem e os hábitos culturais com maestria. E isso Dorival Caymmi - um homem de afetos não só abunda quanto consegue consolidar.
Para quem curte Dorival Caymmi há tempos, o filme vai ajudar a matar a saudade e quem sabe pinçar umas novidades aqui e acolá, além de admirar com os depoimentos sempre poéticos de Gil e Caetano. Os mais tenros na idade poderão conhecer melhor um artista que além de ter um reconhecimento no Brasil, também atingiu o sucesso internacional com a ascensão meteórica de Carmen Miranda nos States, a propagar os mistérios que envolvem a baiana. Os depoimentos dos filhos também são preciosos, em especial os de Dori (que revela a predileção do pai pelo caçula Danilo) e de Nana, com sua oratória permeada de ousadia e coragem ao falar do pai.
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