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MÚSICAS QUE HABITAM EM MIM - Nº 4 - Pergunte ao João - Clementina de Jesus: convidado especial Carlos Cachaça





Músicas que habitam em mim, n° 4


Um quintal furta-cor em Irajá ao som de Quelé

Dizem que a memória costuma nos trair. Pode até ser, mas quando penso na casa dos meus avós maternos, que hoje já não existe mais, me vem à cabeça imagens muito precisas e fortes. Passava muitos dos dias das minhas férias escolares por lá, fora todos os finais de semana da minha infância. Domingo era sinônimo de casa de vó e vô, e esses momentos eram ansiosamente aguardados. Lá aprendi a jogar bola para poder chegar na escola e impressionar a galera. Lá o almoço com carne assada, batatas coradas, arroz e feijão era sagrado, não tinha erro. E não se pode esquecer da enorme peça de goiabada da sobremesa. Sim, porque meu avô comprava a quilo no Centro uma peça inteira que vinha embrulhada em um papel pardo rústico. Esse papel era comum em qualquer mercearia, que chamávamos então de vendinha, muito comum no subúrbio carioca nos anos 1960 e 1970.

Jamais morei perto dos meus avós e isso acarretava sempre uma viagem longa de ônibus, com pelo menos uma baldeação. O difícil era eu ou meu irmão terminarmos a viagem sem botar literalmente os bofes pra fora e ter que ir até o fim da viagem com aquele cheirinho bom de sorvete ou leite estragado. Até a minha adolescência meus pais não tinham dinheiro para comprar sequer um fusquinha, então o jeito era encarar o forte odor de óleo diesel queimado e aquele motor quente que ficava ao lado do motorista e emanava uma brisa pelante em nossa cara. Mas todo esse esforço valia à pena, era só avistar a casa dos velhos no horizonte que o sorrisão de felicidade logo se estampava no rosto. Meu avô era muito festeiro e todas as datas eram motivo para grandes comemorações. Eu tinha muitos primos e embora eles não fossem na casa dos avós com a mesma regularidade que meus pais, nos víamos bastante e nos divertíamos adoidado. 


Meus avós possuíam uma vitrola de armário da Telefunken, que eu achava mais interessante do que a minha da Phillips. Era um trambolho lindo. Depois eles veio a era do CD e o aparelho ficava na varanda e tornou mais fácil carregar a música para os vários ambientes da casa. Ouvia-se muita música na casa deles e minha vó era fascinada por Roberto Carlos que era figurinha fácil nas tardes abafadas. E quando se tratava de Natal, o especial do rei era obrigatório e ai de alguém que se atrevesse a pensar em mudar de canal para se iniciar, de súbito, a terceira guerra mundial. Nos anos 1980, com a idade avançada dos meus avós, minha tia e marido foram morar com eles, o que também trouxe novas dinâmicas interessantes e deixando que permanecesse algumas coisas iguais, além de permitir que o espaço de memória se prolongasse mais um pouco, afinal, ali continuava sendo a casa dos velhos, onde tantas histórias foram vividas e compartilhadas.

Mas um dos momentos que guardo com mais entusiasmo dessa casa foi um certo Carnaval. Se não me falha a memória, deve ter sido o carnaval de 1977 e as razões para o meu não esquecimento são várias, entre elas a presença de um disco que tocou muito na vitrola: "Clementina de Jesus, convidado especial Carlos Cachaça" (1975). Eu só tenho uma certeza sobre tudo o que aconteceu naquele ano: que esse carnaval levarei comigo até o sempre. Havia uma alegria genuína ali, um quê de magnânimo foi possível porque até aquele momento não havia grana para dividir, para se ambicionar ou invejar. Todos estavam em um patamar econômico que os igualava e isso trazia uma comunhão verdadeira, que pouco tempo depois veio a se perder. Meus pais e um dos meus tios melhoraram de vida economicamente falando, e hoje pensando já como adulto, vejo como isso fez mudar as relações de antes. 


Ainda hoje quando eu escuto esse disco da Clementina associo de imediato aquele momento sublime, onde víamos insones os desfiles das Escolas de Samba na recém comprada televisão colorida. Entretanto, antes das escolas de samba entrarem na avenida, todos na casa dos meus avós participavam de uma roda de samba pra lá de improvisada, cantando desafinadamente (um autêntico bebadosamba, para citar o mestre Paulinho da Viola rsrs), batucando em baldes de plástico e bacias, porque não havia dinheiro para se comprar instrumentos de percussão. Até hoje identifico aquela casa, situada no Bairro de Vista Alegre e que dava de fundos para o Cemitério de Irajá, com o samba. Vários discos de samba que marcaram minha vida foram ouvidos insistentemente por lá. Martinho da Vila (Tá delícia tá gostoso, 1995), Emílio Santiago (quase todos os Aquarelas, 1988 - 94), Beth Carvalho (De pé no chão, 1978), quase todos do Zeca Pagodinho. 

Muito do que o samba e a cultura negra representaram para a minha vida foi graças a esse disco de Clementina de Jesus. Como definir aquela voz que pairava sobre tudo quando emitida. Para mim ficava claro que ela carregava muita história, era antes de tudo afirmação de uma beleza, de uma alegria inconteste, mas que não deixava de trazer intrinsicamente uma tristeza arraigada, histórica. Mas também pode-se dizer que esse sentimento de melancolia alegre define o samba em si, como Caetano e Gil já sedimentaram em "Desde que o samba é samba": "a tristeza é Senhora, desde que o samba é samba é assim. A lágrima clara sobre a pele escura", que poeticamente se encerra com "cantado eu mando a tristeza embora". A primeira faixa do LP de Clementina ratifica a máxima proferida pela dupla baiana, "Pergunte ao João" é uma espécie de convite ao LP, mas também à cultura popular e a potência do samba: "quem quiser ver é só subir o morro, o samba mora no meu barracão". E eu, menino que era, queria saber quem era esse João, conhecedor desse lugar onde o melhor do samba carioca seria ouvido. Depois de aceitar ao convite radioso e empolgante dessa faixa de abertura, só nos resta cair dentro desse LP que nos leva longe em nossa cultura.


Um dos grandes méritos desse LP de Clementina é o de nos aproximar de uma história que ainda não foi contada (pelo menos para quem era jovem nos anos 1970). Em uma só lapada, Clementina nos resgata cinco cantos de trabalho e dois jongos, formas de expressão artística e cultural totalmente desprezadas e invisibilizadas pela status quo vigente à época, não só pelos representantes oficiais do poder, mas também por muitos que queriam transformar a sociedade e ignoravam a força subterrânea dos que foram escravizados. Clementina de Jesus, assim como a escritora Carolina de Jesus (Ainda invibilizada nos anos 1970), soava como resistência, e até mais do que isso, traduzia para o Brasil uma faceta viva e rica, embora desconhecida da maioria. Clementina era uma espécie de luta contra o apagamento histórico e o atropelamento cultural que simplesmente tentou esvaziar um pote e encher outros. 

Assim como ocorreu nos Estados Unidos, onde o blues, o jazz ecoavam em porões nos anos 1920, 30 e 40, antes do reconhecimento e da assimilação social, aqui também algo semelhante ocorreu. Enquanto Noel Rosa subia os morros cariocas em busca de conhecimento para consagrar o samba para os brancos (os maiores consumidores de arte nos anos 1930 no Brasil), a tradição dos pretos se acumulava e fervilhava não só nos morros como também nas áreas suburbanas, desde que os desprovidos de riqueza (os trabalhadores urbanos) foram deslocados pela reforma urbana no Centro do Rio à época da administração de Pereira Passos, no início do Século 20, que cumpriu eficientemente a demanda de uma burguesia nascente que via a capital francesa como um modelo de modernização e almejavam por isso mesmo emula-la aqui em terras tropicais. Os deslocados do Centro, isto é, os então novos periféricos, eram em sua maioria os pretos, os mesmos que haviam sido escravizados poucos anos antes e que agora continuavam a reproduzir e produzir a riquíssima música e dança que os ancestrais trouxeram da África há séculos. Quantos séculos se precisou até que pudéssemos ouvir, apenas em 1975, os adormecidos "cantos de trabalho" e os "jongos" que Clementina ecoou nesse lindo trabalho, porque nunca é tarde para lembrar que foi somente lá em 1965 que essa artista formidável (já uma senhora) foi revelada pelas mãos do pesquisador e poeta Hermínio Bello de Carvalho, com o antológico show "Rosa de Ouro". Vale registrar os LPs preciosos de Clementina gravados antes desse que estamos a resgatar aqui, um com Pixinguinha e João da Baiana, em 1968 (Gente da antiga); e outro solo, em 1973, chamado de 'Marinheiro só". ambos pérolas que merecem ser ouvidos por todos, uma aula de arte musical afrobrasileira.


Digo tudo isso para dizer que foi somente a partir de meados dos anos 1960 que esses músicos e cantores pretos estupendos (Pixinguinha, João da Baiana, Dona Ivone Lara, Cartola, Nelson) puderam não só revelados mas também registrados em gravações antológicas, salvando todo um processo artístico do esquecimento, e mais ainda, do soterramento cultural. Essa aqui é uma coluna dedicada à memória e a razão dela existir é uma forma de resistência. Para mim, a memória é uma estratégia de luta, pois vivemos um atropelamento sistemático, onde os lugares de memória vão se transformando em espaços novos e a insistência pela novidade traduz o movimento violento do apagamento de onde viemos. Não que todo o passado precise continuar a existir, mas creio que não cabe aos poderosos (os que mandam pelo poder econômico e político) essa decisão. O que Pereira Passos fez foi enterrar nos escombros da modernização capitalista a diversidade cultural e popular, desterritorizando hábitos que flutuavam pelo Centro e tornar a região, na época, em local de desfile de uma burguesia que queria apagar o passado escravagista opressor se europeizando, como se pudesse passar um pano na história para se começar tudo do zero. 

Quando escutei Clementina lá na casa suburbana dos meus avós eu estava inconscientemente me conectando com algo bem maior do que eu e que me atravessava ferozmente tal como uma lança de São Jorge. Estranhamente, tudo que Clementina cantava representava tudo que eu vivia naquele quintal rústico da rua Pedro Teixeira 325. Em um verão tépido, no coração do Irajá, naquele exato momento, a história do Brasil me alcançava e arrebatava, tal como um livro que nos esclarece e analisa fatos, aquela voz portentosa da Clementina me ensinava com uma força vital descomunal que o mundo estava para além de mim. Hoje eu sei que a cultura e a história são processos muito mais ampliados, que a tradição oral possui tanta força quanto qualquer suporte físico e essa música que ali eu ouvia havia sobrevivido dessa forma, sendo passada de pai para filho, e que só ali anos depois para a nossa sorte e privilégio fora registrado em uma mídia física.


Esse LP de Clementina foi mais do que já falei aqui. Para além da tradição, esse álbum trouxe ainda uma versão, a mais maravilhosa até hoje, da genial canção "Incompatibilidade de gênio", de João Bosco e Aldir Blanc, um primor que junta poesia, humor e crônica social como poucas vezes foi visto neste país. Clementina consegue valorizar os toques de humor, com ênfases precisas e mostrando que para além da importância histórica que tinha, ainda era uma interprete impecável, inteligente, perspicaz e antenada com uma produção mais urbana e contemporânea. Clementina traz uma verdade para essa canção, traduzindo conflitos domésticos bem cotidianos com brilho: "coou, meu café nas calças pra me segurar", onde uma cuíca e um trombone pontuam os momentos mais tragicômicos da bela letra do genial Aldir Blanc. 

Outra surpresa desse álbum está no resgate das músicas do compositor mangueirense Carlos Cachaça, que somente viria a gravar o seu único disco solo em 1976, logo após a homenagem que Clementina fez pra ele nesse disco de 1975. O lado B do disco já inicia com uma música que viraria um dos seus clássicos: "Não quero mais amar a ninguém", uma música linda que fala da desilusão de um primeiro amor. A poesia de Cachaça dizia, "morreu como uma flor, ainda em botão, deixando espinhos que dilaceram meu coração". Outra joia de Cachaça é o samba "Lacrimário" cuja a poesia repleta de lirismo insinua: "Quando às vezes quero lembrar sorrindo a minha dor, abro o relicário onde guardei tudo que sofri...". O canto de Cachaça é de uma beleza à parte, a divisão que oferece à canção oferece um tempero diferente, muito gostoso de apreciar. 


Posso escrever muitas linhas e parágrafos sobre esse disco especial de Clementina de Jesus, pois cada faixa nos faz viajar para um lugar onde reside um sentimento entre a saudade e o eterno. Há um aspecto nele hoje que muito chama a minha atenção. Como são surpreendentes os arranjos, como a percussão combina maravilhosamente com os instrumentos mais harmônicos como o violão e os instrumentos de sopro (em especial o trombone e a flauta). A todo o momento, parece haver uma evocação sutil ora de um solo que faz lembrar as grandes orquestras de jazz, ora há um resquício de um som que lembra regionais de choro. Esses elementos não ficam às claras, eles estão ali disfarçados, postos com elegância e graça. Ouvir o disco com essas nuances nos instrumentos torna tudo muito mais lindo do que já é. Incrível como ao ouvi-lo hoje, cada detalhe ainda o faz atual e potente musicalmente.

E por falar em beleza do conjunto, ainda tinha a capa esplendorosa do Mello Menezes, um dos grandes criadores de capas da música brasileira, sem esquecer de outro artista espetacular como o recém falecido Elifas Andreato. Essa capa em particular, em tons azuis, mostra uma Clementina poderosa, majestosa, tendo ao lado em menor tamanho o compositor Carlos Cachaça. Essa imagem de uma mulher negra e idosa em destaque, contrastava diretamente com o status quo machista e racista da época, existente não só na sociedade, mas igualmente na música popular. Clementina representava muita coisa de uma só vez. A força artística motriz e matriz de um continente, dos cantos de trabalho e religiosos. Creio que Clementina emanava tudo isso apenas com a sua presença magnânima, e quando soltava a voz inconfundível a atração era espontânea e arrebatadora. Clementina, Milton e Elza possuem essa magia telúrica de absorver algo que vem do solo, da terra. Se quer se energizar, escute Clementina, pois ali reside uma força vital poucas vezes vista no mundo. 

E por falar em energia e revigoramento precisamos continuar a falar não só desse mas dos outros discos da Quelé. Hoje e sempre. Isso fará nos identificarmos mais com o nosso país e a nossa ancestralidade. E o que isso quer exatamente dizer? Sinceramente, não sei, mas é esse misterioso sentimento que me toma quando eu a escuto. As recordações da mais preciosa casa que já existiu, a dos meus avós, agora somente viva na memória de quem passou por lá, por seus corredores, seu quintal arborizado, seu cajazeiro, seu barraco, sua sala, sua varanda, seu frontispício com aquele ladrilho de São João (santo adorado pelo meu avô), aquele coqueiro como cartão de visita perto do portão principal. A alma dessa casa habita em mim e a voz de Clementina tem o poder de evoca-la. Se sorrir é pecado, eu quero ser condenado a viver nessa memória prazenteira. E aguarde, porque essa casa ainda irá aparecer em muitos outros textos. 

Comentários

  1. Meu filho ,gostei muito me deu saudades dessa época....Tem muitas historias ainda ora contar...👏👏👏👏

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    1. Sim mãe, saudades imensas dessa casa e desse tempo. Só nos restam agora as fotos e as memórias de cada um que passou por lá. Eu lembro de muitas coisas que vivi lá, uma casa sempre cheia de pessoas e vida.

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  2. Por vezes , o esquecimento é, ainda que contraditório, Marcos, o jeito de lembrar. As vozes e imagens vividos resistem e se fazem presentes na saudade do que foi e do que estar por vir. O ano, a memória esqueceu; o sentimentos, ficou: eu , minha mãe no Maracanãzinho. O show, Milton Nascimento, participação especial ... Clementina de Jesus!! Lembro dela vestida de branco, saia de renda rodada, pulseiras, o passo e o compasso de Circo Marimbondo ecoando ainda hoje em mim. Bom domingo!

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    1. Então Adriana, é tão bom reviver esses momentos, por mais que eles sejam enevoados pelo tempo, reconhecemos neles um brilho, por guardarmos deles algo que reafirma a beleza de viver. Como conhecedor e admirador de "Circo marimbondo" fico aqui a imaginar o quanto lindo foi esse momento de encontro entre você Adriana, sua mãe e o público que lá estava sentindo Clementina e Milton (duas entidades maravilhadas) cantando juntas no palco. Que emoção deve ter sido. Eu fico emocionado só de ler seu depoimento, imagina você que viveu e traz isso como formação do seu caráter e sensibilidade. Obrigado querida amiga por relatar aqui essa experiência iluminada de vida.

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  3. Este texto traz uma história na qual me incluso também por memória pois naquela casa entrei, tal como entrou a minha forma de sobreviver, até encontrar, pelo amor profundo que senti por uma jovem criatura que defendeu meu direito de viver e desenvolver toda a emoção de reencontrar-me plenamente, reabilitar meus conceitos, e formar um ramo da família que deu-me apoio para realizar a maior parte de meus sonhos. Ali vivi, como tu, meu filho êsse mundo ora revivido em mim pelo maravilhoso texto que ora nos traz, a mim e a tua mãe tantas emocionantes lembranças. .

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    1. Querido pai, creio que aquela casa foi central na vida de tantos. Pena que a deformaram por completo. Dá uma dó passar por lá e não mais a reconhecer, é como tentassem apagar imagens do meu passado. Mas felizmente ela ainda vive em cada um de nós e isso ninguém pode apagar. Obrigado pela leitura e pelo depoimento.

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  4. Os seus textos são sempre convidativos desde as primeiras frases criadas. Em cada um há a profundidade de uma mensagem de esperança, como uma flor
    Que se vai abrindo para um futuro com a clareza que buscamos.. seu pai, amigo e companheiro que se vai abrindo para um futuro que almejamos para minfo melhor.

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