Texto por Marco Fialho
Ary, é um documentário em tom de homenagem. E como o Brasil demorou a realizar uma obra sobre esse que foi o primeiro brasileiro a fazer um sucesso astronômico nos Estados Unidos, numa época em que o cinema deles ganhava plateias no mundo inteiro. A abertura de Ary é uma bela homenagem à Era do Rádio, com Dira Paes e Stepan Necerssian emulando esse tempo onde o rádio foi uma febre no Brasil, numa rara cena onde a ficção invade o documentário.
Andre Weller realiza sua estreia em longas esbanjando sensibilidade e cuidado ao abordar a carreira de um dos grandes nomes da música brasileira, que também foi radialista e locutor de futebol. A montagem de imagens é conduzida pelas narrações de Lima Duarte como Ary Barroso, salientando o viés poético dos escritos deixados por Ary.
Há em Ary uma pesquisa muito esmerada, com imagens de arquivo muito bem selecionadas, conseguem dialogar com a narração. As imagens de carnaval de rua são fantásticas e permitem uma verdadeira viagem no tempo, além de mostrar as mudanças de espírito dos anos 1940 e 1950 em relação aos nossos dias. Até os desfiles das escolas de samba vistos no filme também evidenciam uma clivagem perante aos nossos dias.
Um dos aspectos mais interessantes de Ary é a utilização das gravações originais da época em que Ary Barroso fez sucesso. O documentário traz relíquias em sua maioria das décadas de 1940 e 1950, com cantores da Era do rádio, como Nora Ney, Dorival Caymmi, Trio Irakitan, e claro, Carmen Miranda, a pequena notável.
Mas as imagens mais significativas de Ary são as que o compositor vai morar em Hollywood para fazer compor músicas para os grandes musicais que marcaram os anos de ouro do cinema dos Estados Unidos. Ary Barroso narra com orgulho essa fase em que era bem remunerado e reconhecido por seu trabalho na música. Andre Weller resgata imagens de vários filmes dessa época, além de criar em IA uma rua de Hollywood dos anos 1940.
O sucesso de Ary Barroso não se restringiu ao estrangeiro, mas também no Brasil, com uma fama fora do comum. O que dizer sobre o sucesso do super clássico Aquarela do Brasil, que trouxe uma nova visão sobre o país, uma representação da exaltação da nossa cultura festeira e mestiça (o que hoje evidentemente já tem questionamentos contrários).
Apesar de seu pouco tempo, 70 minutos, Ary prevalece pela leveza de sua narrativa, banhada pela beleza de músicas como Camisa Amarela, Risque, No Rancho Fundo, Isto Aqui, o Que é?, Na Baixa do Sapateiro, Na Batucada da Vida, No Tabuleiro da Baiana, entre outros grandes sucessos. A música de Ary se identificou com o nacionalismo da época e serviu para criar uma nova visão acerca do Brasil, com a exaltação do samba e a da alegria do povo.
A estratégia de construir a narrativa em torno da narração de Ary Barroso é um dos pontos mais interessantes, já que assim, o filme se desenrola pelo ponto de vista do próprio Ary Barroso. O humor refinado de Ary Barroso está presente em todo o filme, mais uma obra para valorizar o talento e a nossa cultura, além de ser uma delícia de assistir, com músicas maravilhosas que nos proporciona uma empolgante viagem ao nosso passado.

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