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COBERTURA DO FESTIVAL "É TUDO VERDADE" - EDIÇÃO 2024

COBERTURA É TUDO VERDADE - EDIÇÃO 2024

UM FILME PARA BEATRICE (2024) Dir. Helena Solberg

COTAÇÃO: 8


Comentário: A escritora Beatrice Andreose, depois de assistir ao documentário "A entrevista", de 1966, dirigido por Helena Solberg, lança uma pergunta à diretora brasileira: Como estão hoje as mulheres brasileiras? A partir dessa interrogação Solberg vai a campo tentar, se não responder, pelo menos jogar uma luz sobre o tema. Assim, a diretora assume a narração do filme para a partir de questões postas em seus filmes antigos até chegar aos nossos dias, onde em conversa com a professora Heloísa Buarque de Hollanda se esforça por entender a complexidade do feminismo dos nossos tempos. Fica evidente, que precisamos hoje expandir o campo do feminino, com vozes, negras, trans e não binárias. Conclui-se ainda que a discussão acerca do gênero precisa ser expandida para ser melhor compreendida. Um filme imprescindível, que parte de uma pergunta para chegar a tantas outras, o que faz dele um importante veículo de discussão sobre o feminino em nosso mundo atual.      

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FERNANDA YOUNG - FOGE-ME AO CONTROLE (2024) Dir. Susanna Lira

COTAÇÃO: 7


Comentário: Ao filmar uma biografia os caminhos são os mais variados e Susanna Lira opta em "Fernanda Young - Foge-me ao controle" em focar mais na relação coerente entre obra escrita e a vida da escritora. Esse enfoque garante um olhar consequente ao documentário de Lira, dando voz à escritora por meio das palavras de Maria Ribeiro. Mas confesso que no plano das imagens o filme me incomodou pelo excesso (talvez numa tentativa de capturar o da própria personagem), não só pela quantidade, mas pela insistente intervenções nas texturas. O ponto alto está quando vemos Young tanto nos programas e entrevistas que participou como convidada (como Saia Justa, Marília Gabriela e Antonio Abujamra) quanto nos famosos programas que escreveu (Os Normais e Os Aspones). Lira consegue nesses momentos resgatar o cerne do pensamento de Young, questionadora implacável do papel das mulheres na sociedade brasileira contemporânea.              

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O CINEMA TEM SIDO O MEU VERDADEIRO AMOR: O TRABALHO E A VIDA DE LYNDA MYLES (2023) Dir. Mark Cousins

COTAÇÃO: 7 

Comentário: O cineasta/crítico Mark Cousins se utiliza de seu já conhecido estilo de filmar com voz em off recortando a narração com imagens dos filmes citados, mas aqui a visão de cinema é da produtora Lynda Myles, famosa por produzir cineastas como Alan Parker, Stephen Frears e Chen Kaige. Me chamou a atenção a maneira como Cousins filma Lynda se utilizando do close do seu rosto, o que revela a inquietude e a paixão dela pelo cinema. Lynda fala da influência de cineastas mulheres como Larissa Chepitko e Dorothy Arzner. É surpreendente as tomadas em que as projeções dos filmes engolem Lynda e por tabela nos arremessa em uma viagem no som e na imagem. O lema "ver filmes e fazer filmes" funciona como um mantra de amor ao cinema e promove uma identificação da produtora com o público.

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VERÍSSIMO (2023) Dir. Angelo Defanti

COTAÇÃO: 9


Crítica: VERISSIMO (2023) Dir. Angelo Defanti (cinefialho.blogspot.com)

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O MEU NOME É ALFRED HITCHCOCK (2023) Dir. Mark Cousins

COTAÇÃO: 9


Comentário: O mais impressionante de "O meu nome é Alfred Hitchcock" é a maneira criativa como Mark Cousins aporta no universo múltiplo do diretor inglês. Cousins escolhe 6 temas (fuga, desejo, solidões, tempo, realização e altura) para durante duas horas brincar com os filme do mestre inglês, propondo pensamentos inusitados e originais, sem esquecer do humor cáustico e leve que o consagrou. Outra surpresa maravilhosa é a impecável narração em off realizada no presente, pelo próprio diretor, na voz do ator Alister McGowan, que emula Hitchcock com uma rara precisão. Cheguei a pensar que era uma voz vinda da IA. Se fosse um pouco mais enxuto (como vários filmes de Cousins), seria uma obra-prima. 

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BRIZOLA (2023) Dir. Marco Abujamra

COTAÇÃO: 7


Comentário: "Brizola" é um documentário que narra com competência a vida de um dos maiores líderes políticos da história do Brasil. O filme começa na volta do exílio durante o período de abertura política nos anos 1980. O diretor Marco Abujamra narra os momentos mais decisivos de sua trajetória, como suas ideias sobre a educação e justiça social, além de sublinhar nos discursos políticos a sua tão famosa verve como orador. O único senão do filme está em não centrar em uma época, mostrando uma sede de abarcar todas as épocas, o que torna o seu resultado muito generalista, o que leva a omissão de alguns contextos importantes como o discurso na Central do Brasil e a luta pela reforma agrária no período do Governo de João Goulart.           

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IGUALADA (2024) Dir. Juan Mejia Botero

COTAÇÃO: 8 


Comentário: "Igualada" é um filme colombiano que trata da campanha de Francia Márquez, uma ativista mineira que chegou à vice-presidência da Colômbia, numa frente de esquerda. O filme mostra as ideias de Francia em favor dos trabalhadores, dos afrodescendentes, dos LGBTs e outros grupos sociais excluídos secularmente na Colômbia. É um documentário forte, que mostra bem o engajamento dela na sociedade e a sua coragem em enfrentar os grupos paramilitares assassinos. O filme ainda mostra Francia em 2009, jovem e já se iniciando na luta política pelos direitos dos excluídos.

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ANTONIO CANDIDO - ANOTAÇÕES FINAIS

COTAÇÃO: 10


Crítica: ANTONIO CANDIDO, ANOTAÇÕES FINAIS (2023) Dir. Eduardo Escorel (cinefialho.blogspot.com)

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MARCHA SOBRE ROMA (2022) Dir. Mark Cousins

COTAÇÃO: 6


Comentário: O crítico de cinema Mark Cousins realiza mais um ensaio cinematográfico, agora, sobre a ascensão fascista de Benito Mussolini, analisando pormenores do filme "A Noi", destacando detalhes que passaram despercebidos. O diretor ainda cria uns contrastes com filmes que ressaltam a dança em contraposição à marcha fascista, como o clássico "Um dia especial", de Ettore Scola; "O conformista", de Bernardo Bertolucci. Entretanto, mesmo que divida sua obra em 5 partes, numa tentativa de organização, o todo revela-se irregular, e de certo modo cansativo, e às vezes repetitivo. Vale por colocar em suspenso as estratégias fascistas de poder pelas imagens e a sua volta desastrosa em nossos tempos.

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OS MÉDICOS DE NIETZSCHE (2023) Dir. Jorge Leandro Colas

COTAÇÃO: 2


Comentário: Tem filmes que enganam pela sinopse, "Os médicos de Nietzsche" é um deles. Durante os 70 minutos da projeção não conseguimos captar a relação do filósofo alemão à proposta do diretor Jorge Leandro Colas. Tudo é tão solto e superficial, além de mal filmado, que não  conecta o espectador à proposta. O médico protagonista não chega a impressionar, nem como médico e tão pouco como filósofo. Sem realmente vender um método de tratamento, o filme fica a flutuar, sem dizer para que veio. 

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