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VERÃO NA SICÍLIA (2025) Dir. Marguerita Spampinato


Texto por Marco Fialho

Verão na Sicília, dirigido por Marguerita Spampinato, é antes de tudo um filme carismático e leve, embora trate de temas agudos e existenciais. A trama se resume a Nico (Marco Fiore), um garoto por volta de 8 anos que entra de férias escolares e a sua babá não poderá cuidar dele, pois precisa viajar para casar, e ele é obrigado a passar um mês na casa de uma tia solteirona (Aurora Quattrocchio) na afastada Ilha da Sicília. 

Interessante como os tempos se cruzam no decorrer da narrativa de Verão na Sicília. O tempo ralentado da tradição siciliana ditado pela personagem da tia solteirona, com suas imagens desgastadas de Cristo, se confronta com a vivacidade urbana de Nico, um menino espevitado criado no norte da Itália, numa ambiência ditada pela tecnologia contemporânea, cujo o celular é o maior símbolo dessas diferenças de ritmo de vida.

Mas o melhor de Verão na Sicília é o quanto o filme vai além desses contrastes, o quanto ele mostra que a vida é permanentemente dinâmica e imprevisível em seu tempo ininterrupto. É maravilhoso como a diretora Marguerita Spampinato constrói uma mise-en-scène fluida e elegante. Não há espalhafato nem grandes surpresas no campo técnico, tudo está a serviço de uma narrativa onde os atores estão condicionados pelo ambiente rústico da Sicília. 

É nesse delicado contraste que as cenas vão se edificando e nos prendendo a cada plano filmado. Tudo aqui se equilibra por meio de um carinho com que cada personagem é abraçado pelas interpretações afetuosas e verdadeiras. A câmera gravita com elegância, como se não precisasse se esforçar em capturar a essência do que está sendo filmado. Os olhares de cada um diz tanto e até o cão Frank parece ter entendido a organicidade das cenas, tal como ele se integra quando está de frente para as câmeras. O filme ganha um ar mais terno ainda, depois que Nico descobre por trás da rudeza da tia, existe fatos românticos e traumáticos em seu passado, em que preconceitos não permitiram que ela vivesse momentos mais felizes. 

Marguerita Spampinato sabe temperar a trama principal da relação entre tia e sobrinho com a participação das crianças do local, especialmente Rosa (Camille Dugay), que logo estabelece uma ligação profunda pelas trocas sedutoras de olhares. Mas ainda tem as senhoras, que reafirmam o lugar da tradição católica da Sicília e os hábitos culturais muito específicos, como as sardinhas fritas e as berinjelas empanadas. Não há, por parte da direção, uma procura por estabelecer quem está certo ou errado nos conflitos culturais entre o norte e o sul da Itália. Ao invés disso, se estabelece uma troca, um entendimento entre as diferenças, por mais que isso seja por meio de estranhamentos e aprendizados mais duros.

O afeto e a sensibilidade de Nico é bem visível desde a cena inicial, onde a sua babá Violeta lhe conta uma bela história da relação entre um menino e o mar. A ternura e a delicadeza está posta desde esse instante e nos prepara para o tom que o filme assumirá a partir de então. É encantador como Verão na Sicília se passa no presente, mas guarda algo de nostálgico nele, como se fosse uma memória de uma infância perdida no tempo e isso instaura uma atmosfera poética. E convenhamos, poesia, delicadeza, ternura e sensibilidade nunca é demais.     


Comentários

  1. Gostei muito.fiquei surpresa em como o filme me tocou Tanto com tristeza como por felicidade e reconhecer aspectos em mim ora muito diferentes .hora com algumas semelhancas .o q me surpreendeu.Tenho origem sicilianaa.mas nasci no Brasil e quase em nada me identico com o.modo mais antigo.religioso e tradicional da tia ..sou conectada.moderna.namorei ate outro dia.No entanto me emociono perceber o quanto. Tenho vontade decter tempo ainda com meu netone neta .o que existencislmente tras uma certa ansiedade de que sera poucotempo.pois somos finitos..
    E vejo q quero ser legal.sproveitando do tempo com eles
    com eles .Ao mesmo tempo " invejo" a vida das idosas da Sicilia que parece passar lentamente e e estão diante do mar azul da Sicilia,( e litoral da italia)que há décadas gostaria de poder desfrutar qdo aposentada .mas Wueria que eles os netos e filhas estivessem.juntos .

    Em que os fias pasassem sem.oressa.sem medo de assaltos ou de allgo que os faça mal.como infelizmente é a realidade no Brasil.
    Enfim.como.essencia ficarão carinho.o amor os erros de abordagem que os pais das criancas acham que .ocorrem quando vejo que estão tendo una rotina com.muita responsabilidade E por outro lado com muito controle do q pode comer ou fo que não podem ver de entretenimento na TV Sei que os filhos são deles. Mas justamente por já ter vivido e trabalhado .muito.a vontade é de eternizar momentos sem q compromissos das crianças tomassem tanto tempo atrasas Gostaris decwue além da escola só tivessem.o mar da Sicilia e vizinhos pra brincarem no espaço de praia ou dentro das casas coisas q nao nocorre mesmo.morando numa cidade de praia como.o Rio de Janeiro.
    Enfim o resumo é que me conta de como o tempo e não está na mão da gente prolongar essa nossa vida ZE a vontade seria que o tempo passasse muito devagar VAI SER DIFICIL E TRISTE LARGAR TUDO ISDO AQUI
    E CONSTATAR WUE NAO CINSEGUI QUE ME SVOMPAJRM.ORA UM.PAIS QUE SMO ( ITSLIA) E que por mais problemas q possam.haver ( nesse momento nao me sgrada,) mas é infinitamente mais solidário.seguro é com relações mais humanas do que onde vivemos

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