Texto por Carmela Fialho
O documentário Sobreviventes do Pampa do diretor Rogério Rodrigues mergulha no bioma do Pampa optando por entrevistar indígenas, quilombolas, assentados, pequenos e grandes produtores rurais, um apicultor, músicos, moradores e estudiosos, sempre in loco, buscando traçar um panorama diverso e múltiplo desse território.
O objetivo do documentário é denunciar a destruição do Pampa pela expansão do agronegócio da soja e do arroz, além da plantação de eucalipto e do uso abusivo de agrotóxico que destrói o ecossistema e envenena a água, matando os seres vivos. Um mérito de Sobreviventes do Pampa é o seu farto material de pesquisa, que merecia um melhor decantamento para que o documentário não se dispersasse na profusão de informações que não amarram a narrativa. Na ânsia de querer dar voz a tantos segmentos, inclusive dos proprietários do agronegócio, o filme se perde por não conseguir fazer escolhas.
A abordagem escolhida no documentário é basicamente entrevistas diurnas, realizadas pelo diretor ao ar livre, priorizando a paisagem do Pampa como grande cenário e protagonista. Os entrevistados ficam sentados na cadeira de frente para o diretor que também se encontra sentado numa cadeira, o que torna o filme estático e repetitivo tanto na forma quanto no discurso. A escolha por narração em off por demais didática, realizada pelo próprio diretor, também colabora para tornar o filme cansativo. Faltou certo dinamismo na exploração da paisagem e seus atores. As poucas cenas de personagens na paisagem não trouxeram grande contribuição para a narrativa e por vezes eram apenas ilustrativas.
O tema do filme é bastante importante e necessário, pois no mês de janeiro estive na região e observei a grande destruição da paisagem do Pampa pelo agronegócio do arroz. A escolha do diretor de mutifacetar a narrativa por muitos personagens acabou pulverizando o documentário com uma quantidade excessiva de entrevistas que em várias ocasiões repetiam o mesmo discurso e mensagens.
Sobreviventes do Pampa acabou se tornando um inventário da diversidade do território Pampa, com um amontoado de entrevistas dispersas, onde faltou uma seleção de personagens que comporiam uma maior organicidade, que trariam melhor fluidez e compreensão da relevante proposta de denúncia que era o foco do documentário.
A crítica de Carmela Fialho destaca a relevância do tema de Sobreviventes do Pampa e reforça a urgência da preservação desse território em transformação. O documentário não partiu apenas de uma denúncia, mas de uma busca: não só por um bioma ameaçado, mas por um mosaico de existências que resistem à margem da narrativa oficial sobre o Pampa.
ResponderExcluirDiante disso, a escolha narrativa se impôs. Mais do que selecionar protagonistas e esculpir um percurso linear, era essencial preservar a multiplicidade dessas vozes. Não dar voz, pois voz elas sempre tiveram, mas amplificá-las e permitir que ressoassem. O que poderia parecer repetição, para nós, é eco. O eco de vidas que há tanto tempo gritam e que, agora, encontram espaço para serem ouvidas.
O cinema pode assumir muitas formas, e essa foi a escolhida para dar espaço a um território e a um pertencimento que se desfazem. Se o filme desperta debate, cumpre seu papel.