Texto de Marco Fialho
O maior mérito de "Godzilla - Minus One" está na maneira como o diretor Takeshi Yamazaki conjuga a história narrada com o contexto histórico do Japão pós segunda guerra. O monstro Godzilla é fruto direto do efeito nuclear provocado pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos.
O filme funciona como uma resposta à vergonha japonesa ao difícil processo de reconstrução do país, como algo ainda a ser superado internamente pela população. A partir desse fato, há um hábil manejo no roteiro para que a história funcione a contento, com uma boa fluência narrativa.
Aqui o monstro é revelado desde o início, não havendo nenhuma valorização narrativa, ou mistério, sobre a sua aparição. Mas se repararmos com atenção, "Godzilla - Minus One" é um filme de monstro, embora se sustente tendo na base um melodrama de dar inveja até aos mais radicais da safra mexicana dos anos 1950. A história parte de Koichi, um piloto kamikaze que se recusa a executar uma ordem para jogar o seu avião em cima de um alvo. O drama de consciência dele é que guiará toda a história de Godzilla, que será decisivo para o salvamento de uma mulher desamparada com um bebê e da decisão de livrar o país da invasão do monstro. Há cenas em que o melodrama atinge o ápice, como o desespero ao perder a mulher que sequer era uma namorada de Koichi. A música do filme também alimenta o melodrama, sendo na maioria das vezes exagerada ao salientar as emoções existentes na trama.
Como thriller e como filme de ação, "Godzilla - Minus One" possui belas cenas como as da destruição de Tóquio pelo monstro, além da cena com vários navios de guerra, inclusive, as melhores cenas são as realizadas no mar, melhores até do que as de Godzilla invadindo Tóquio. Visualmente, "Godzilla - Minus One" é um luxo, com efeitos especiais bem feitos e acabados.
Do ponto de vista ideológico, "Godzilla - Minus One" se utiliza da ação para camuflar o espírito ufanista fortemente presente na trama, além do clima de exaltação do heroismo individual inserido pelo diretor para o piloto Koichi. "Godzilla - Minus One" pretende ser visto como uma metáfora da reconstrução moral e física de um Japão destruído pela Segunda Guerra Mundial, que precisa vencer um monstro radioativo que se alastrou após a hecatombe nuclear.
Mas no todo, não dá para disfarçar que o filme não passa de um thriller de ação e aventura bem filmado, embora soe rançoso por valorizar um enfoque moralista, nacionalista, decadente, melodramático e pronto para ser esquecido assim que viramos o primeiro quarteirão, após a nossa saída do cinema.
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