Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho
O filme Maria Callas é uma cinebiografia que tem como protagonista Angelina Jolie. A opção do diretor Pablo Larraín foi construir uma narrativa a partir da última semana de vida da famosa soprano greco-americana, que arrebatou fãs para as suas apresentações de ópera pelo mundo. A escolha em retratar a personagem no final de sua vida traz algumas questões que merecem destaque como a perda da sua potente voz, a dependência a medicamentos e momentos de alucinações.
A interpretação de Angelina Jolie oscila entre a postura de uma diva arrogante, que desconta no seu mordomo os traumas da perda da voz e consequentemente da sua fama, e uma mulher depressiva cheia de angústias e lembranças dolorosas, principalmente do fracassado relacionamento com o milionário grego Aristóteles Onassis. O foco principal do filme recai mais nesse desastroso relacionamento, como se Maria Callas nunca tivesse sido feliz. Os momentos de glamour ficaram reservados apenas às apresentações das famosas óperas, que Angelina Jolie dubla com competência.
O caminho escolhido pelo diretor chileno Pablo Larraín na construção da personagem retira boa parte da sua potência artística ao priorizar somente as questões existenciais do final dramático e traumático da vida de Maria Callas. Na maioria das vezes prefere enfocar em suas angústias através de lembranças misturadas com alucinações e pouco aborda o seu talento e a época áurea de seu sucesso, que foi estrondoso.
Vale registrar inclusive, a duvidosa abertura de Maria Callas. Larraín realiza como um preâmbulo, um videoclipe criado por ele para retratar Callas como uma diva do passado, tanto que enquanto ouvimos uma ópera de Verdi, interpretada por ela, vemos imagens trabalhadas artificialmente com texturas para dar a impressão de envelhecimento, de Callas vivendo o esplendor da carreira em iates, viagens e espetáculos grandiosos. Constrói-se aqui uma visão de um glamour de outrora, sendo que não será isso que será visto no decorrer de Maria Callas.
O apartamento luxuoso que serve de cenário, apenas acentua um caráter decadente da cantora, que se mostra sempre indecisa e sem forças. Angelina Jolie edifica uma Callas superficial, repleta de trejeitos, com caras e bocas, como se fosse uma simples dondoca mimada, quando Callas foi uma força da natureza. Larraín preferiu imprimir um tom sensacionalista à sua história, apelando para o romance da diva com Onassis, como estivesse filmando para um revista de fofocas.
A maneira como Maria Callas edificou a sua carreira não é abordada no filme, o que fragiliza por demais a personagem. Saímos do cinema com a sensação de que o diretor não conseguiu dar conta da complexidade dessa mulher de personalidade forte que construiu uma sólida carreira artística. O diretor salienta em sua narrativa um discurso em que só enxerga essa mulher a partir de suas fragilidades. O que Larraín queria com seu filme? Mostrar que até grandes artistas podem decair, já que Callas perdeu a capacidade de cantar? Mas qual seria o propósito de filmar Callas apenas nesse momento sombrio e de angústia? E o que dizer do filme começar e terminar com o corpo de Callas no chão do apartamento?
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