Texto por Marco Fialho
Hellboy e o Homem Torto, quarto filme da franquia Hellboy, dirigido por Brian Taylor, é uma adaptação de um HQ com o mesmo título de Mike Mignola, talvez o mais sinistro de todos realizados até agora, que parte de uma história de terror, uma mescla de filme de fantasma com de demônio.
O elemento fantástico também está bastante presente desde o início da trama, quando Hellboy, agora interpretado por Jack Kesy, e uma novata cientista da BPDP (Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal), Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph) se deparam com uma estranha aranha gigante dentro de um trem numa região de florestas das Montanhas Apalaches. Essa parte do filme é bem estranha, porque há o incidente do trem e logo a seguir eles estão dentro de uma floresta se deparando com forças malignas ligadas à bruxaria. No meio dessa confusão a dupla encontra Tom Ferrell (Jefferson White), um homem órfão e enfeitiçado por um pequeno osso.
Tudo soa sinistro em Hellboy e o Homem Torto, até mesmo o personagem título, que adentra na história assombrado com seus fantasmas, em especial a de sua mãe, a qual possui uma relação conturbada de amor e abandono. O local das Montanhas Apaches parece ser o ideal para a manifestação de fenômenos paranormais, com uma mina subterrânea que alimenta o ambiente sombrio da superfície tomada por bruxas mal encaradas e prontas para a ação. Talvez o filme falhe por alimentar essa ideia de bruxaria como algo a ser perseguido e destruído. Se pensarmos na história e o quanto às práticas religiosas não católicas foram ameaçadas em sua existência por preconceito e intolerância.
Embora façamos essa ponderação na camada que edifica a própria ideia de Hellboy e o Homem Torto, salientamos que a fotografia expressionista do filme se coaduna com a proposta demoníaca e sinistra que embasa essa fiel adaptação. O diretor Brian Taylor chegou a declarar que fez o filme para o autor do HQ, Mike Mignola. Outro destaque é a direção de arte que constrói ambientes abandonados, apavorantes e decrépitos. O próprio templo no qual boa parte da história se passa, está de acordo com a atmosfera tenebrosa do filme. O Reverendo Watts (Joseph Marcell, uma das interpretações mais envolventes do filme) completa esse espaço com a sua aparência soturna, como um homem cego e determinado a enfrentar os demônios que o cercam.
A câmera de Brian Taylor se esmera em mostrar o terror em planos próximos e closes de todos os personagens, aquele belo artifício de não deixar o público ciente do que está próximo aos personagens, como se o ataque eminente fosse acontecer a qualquer momento. Esse Hellboy me pareceu mais vulnerável e com menos vitalidade do que em outras versões, aqui penso sobretudo na primeira versão de 2004, dirigida por Guillermo Del Toro. Não tenho certeza acerca da efetividade do vilão, o tal do homem torto, uma figura que não chega a ser tão assustadora assim. Entretanto, não deixa de ser interessante vermos um personagem esboçar traços de conflitos internos e subjetividade, já que Hollywood peca sempre por trabalhar apenas na objetividade dos personagens, escondendo muitas vezes as fragilidades.
Sempre pontuo muitas críticas às franquias no cinema, mas aqui creio que ela está mais amena, já que essa é uma história adaptada de um HQ, não é somente mais uma invenção de produtor a querer faturar com o sucesso da franquia. Inclusive, Hellboy sequer pode ser visto como um sucesso de público, haja visto que o filme atual entrou em um número de salas bem reduzido e os anteriores não renderam os milhões esperados. Esse aspecto da falta de expectativa faz mais bem do que mal para Hellboy, que não precisa forçar uma história para justificar uma bilheteria ascendente. Se o filme está longe de ser um filmaço para entrar para a história, tem os seus méritos por criar uma ambiência interessante e até corajosa, mesmo que parta de ideias políticas e sociais que me parecem bastante duvidosas, conforme já descrevi acima.
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