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UM LUGAR SILENCIOSO: DIA UM (2024) Dir. Michael Sarnoski


Texto de Marco Fialho

Se olharmos para os maiores lançamentos do cinema dos últimos anos, a maioria absoluta é de franquias. É um tipo de epidemia de sucessos quase garantidos, mas que denota uma imensa insegurança em novos projetos, de temer arriscar algo que não esteja formatado em uma fórmula. Um Lugar Silencioso: Dia Um é o terceiro filme dessa franquia de terror Sci-Fi, que assume aqui uma vertente do chamado cinema  catástrofe. 

Um Lugar Silencioso: Dia Um mantem um bom ritmo dentro de um roteiro enxuto, sem grandes malabarismos ou explicações que tornam esses filmes enfadonhos. Outro elemento que garante o mínimo para o filme é ter Lupita Nyong'o (no papel de Sam) como protagonista, uma atriz que esbanja sempre um talento inquestionável. Ela e Joseph Quinn (no papel de Eric) seguram o aspecto dramático da obra, transformando seus personagens em críveis e verdadeiros, mesmo que a situação seja dominada pelo imponderável e o imprevisível.

Esse terceiro filme da franquia quer abordar o início da história, de como os alienígenas que atacam mediante a percepção sonora, dominaram a situação e impuseram o terror à Nova York, a maior cidade dos Estados Unidos. A razão do ataque não se ambiciona explicar, apenas a ferocidade na qual a agressão é feita. Logo nos créditos iniciais, o diretor expõe, sem que se tenha grandes consequências, os altos decibéis que a cidade de NY emite em seu dia-a-dia. Instaura-se de imediato a seguinte pergunta: será que NY conseguiria viver em silêncio? 

Entretanto é surpreendente como Hollywood instaura uma ambiência altamente estrondosa quando o tema é justamente o silêncio. E outro registro que beira o inacreditável é como Hollywood transforma em espetáculo qualquer tema, inclusive o do silêncio. É algo inerente, idiossincrático do próprio caráter cinematográfico, a capacidade de criar explosões e de amplificar sons impossíveis de serem tão impactantes, como os da pisada dos alienígenas, que fazem as estruturas de concreto de NY tremer vertiginosamente. 

Já comentei aqui sobre o talento de Lupita Nyong'o, mas esqueci de mencionar um coadjuvante que rouba a cena em Um Lugar Silencioso: Um Dia: Frodo, o gato ideal para se ter numa invasão alienígena. Quando o vi em cena (na verdade são dois gatos que fazem o Frodo) já intuí que em algum momento do filme ele miaria, em especial quando enormes alienígenas pisam o chão com uma brutalidade de deixar louco qualquer ser vivo, mas não, Frodo não mia uma só vez, se mantém mudo e desfila pelas ruas destruídas sem promover um só barulho. São os milagres da verossimilhança que só Hollywood é capaz de filmar, sem o menor constrangimento. 

Outro elemento no campo do inacreditável é o desejo incontido de Sam querer comer uma pizza antes que o mundo acabe. Fácil de acreditar mesmo só a vocação de Hollywood para o over e para a destruição de suas cidades por seres alienígenas, o que já virou até um lugar-comum. E o que dizer do encontro inusitado de Sam, uma poeta e paciente terminal de câncer, com Eric, um advogado inglês solitário, que vai estudar em NY bancado pelos pais e que se vê seguindo Sam e o seu gato Frodo. Como quase todo filme hollywoodiano, o puritanismo prevalece, assim como a faceta assexuada dos protagonistas. Se o diretor Michael Sarnoski evita o melodrama em todo o filme, no final ele dá aquela escorregada ao fazer Eric ler a carta melosa de Sam. Mas devemos reconhecer que para Hollywood, ter apenas uma cena apelativa é até um milagre e digno de nota.   

Mas cabe assinalar, que Um Lugar Silencioso: Dia Um, é mais um filme de Hollywood estritamente voltado para o entretenimento, daqueles que cumprem o seu papel de desligar o público durante uma hora e meia, e olha que nesse caso tivemos até sorte, pois o filme não chega nem a alcançar esse tempo. Bem que poderia ser um bom exemplo para tantos outros filmes, que sem necessidade alguma, estão próximos de torturantes 3 horas de duração. E outro aspecto interessante, é o pouco diálogo devido ao silêncio reinante, apesar de que, foi justamente o som não diegético o que mais me incomodou durante a projeção, além daquelas manjadas cenas barulhentas de perseguição e ação. Chega a ser até intrigante se ter tanto som em um filme que deveria primar pelo silêncio.                            
                

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