Texto de Marco Fialho
Um dos grandes equívocos de "Maestro", filme dirigido por Bradley Cooper está no roteiro e na direção, ambos confusos, repletos de indecisões acerca de qual ângulo se quer narrar a história de Leonard Bernstein (Bradley Cooper) e da esposa Felícia (Carey Mulligan). A própria escolha de misturar o colorido com o P&B é pobre dramaturgicamente, o auge do amor é filmado em P&B. Já a decadência da relação em colorido. A mensagem é claramente decodificada, simplificadora, sugere uma divisão da história entre felicidade e ruína, resume ao nível da imagem a própria problematização do filme. Os personagens mereciam bem mais do que isso.
Os excessos de direção são visíveis e revelam o lado histriônico e egocêntrico de Bradley Cooper como diretor, que pesa a mão em muitas cenas, inclusive ao inserir músicas ora compostas ora regidas pelo maestro. Essas inserções musicais soam forçadas e deslocadas, o que compromete o equilíbrio de vários planos. Há um peso também na interpretação que o próprio Bradley Cooper faz de Bernstein, verdadeiras tintas expostas que estão para além de uma prótese nasal.
O roteiro igualmente não consegue concatenar bem as cenas e as transições temporais, o que faz de "Maestro" um certo monstrengo mal montado e às vezes sem muito sentido e difícil de acompanhar. Cooper mostra o músico como um homem ególatra que relega a mulher para escanteio para viver as suas relações homoafetivas, inclusive na frente dela. Mas quando a mulher fica doente ele se torna o homem mais dedicado do mundo e passa a agir como se sempre tivessem vivido em harmonia como casal. Carey Mulligan, como sempre, faz grande atuação e esforça-se ao cubo para tentar salvar um roteiro muito mal estruturado, mas a ausência de foco narrativo leva o filme para o abismo, assim como o próprio esforço da atriz, que precisa compor uma personagem que vai sendo diminuída pela vida, e Bradley Cooper prioriza enfocar a dor de uma mulher abandonada em vida pelo marido, mostrando ela mesma a procurar uma reconciliação por ama-lo cegamente.
O filme parece ser mais sobre as dores de Felícia do que o próprio Bernstein. Mas uma pergunta precisa ser feita: afinal, o filme é sobre Felícia, uma atriz de talento reconhecido que abre mão de tudo pela família e carreira do marido, ou sobre um artista brilhante e marido controverso? Bradley fica sempre no meio do caminho disso tudo e não consegue fazer um desenho muito claro da história que quer contar. Fica preso e encalacrado entre a carreira e a vida íntima dos dois personagens.
No final das contas, mesmo com todas as contradições possíveis da personalidade de Bernstein, ele acaba como um macho amoroso e arrependido. "Maestro", assim, acaba como uma obra melodramática e apelativa, que busca na emoção fácil se redimir perante um conjunto narrativo frágil que salta aos olhos de todos nós, uma obra sem coesão entre as partes, cansativa e arrastada.
Penso que filme é como fotografia, cada um vê com os olhos de sua experiência de vida. Parece que assistimos a um filme diferente.
ResponderExcluirAlguns problemas no roteiro, concordo com você mas eu gostei do foco dado ao relacionamento dele com sua mulher e a importância que ela exerceu na vida e carreira de alguém tão brilhante e controverso. Para mim algo novo porque conhecia o grande maestro e sua obra admirável mas desconhecia o outro lado, que ao meu ver foi demonstrado como um ser humano como todos nós, com seus defeitos e qualidades.