"Um fardo" é um filme raro, vindo do Iêmen, é uma típica produção que cai como uma luva na programação de um festival como o do Rio, marcado pela diversidade étnica, de países, de sexualidade e de narrativas.
O enredo do filme se desenvolve na cidade de Aden, em um Iêmen mergulhado em protestos políticos contra o governo e uma guerra civil, além de uma crise econômica ascendente. O casal Ahmad e Isra'a não consegue manter uma situação social de classe média conquistada a duras penas, pois a inflação os castiga duramente. Eles já possuem três filhos e Isra'a está grávida do quarto rebento.
"Um fardo" narra justamente a história dessa gravidez de Isra'a, em um contexto cultural dominado pela religião islâmica e sua conhecida rigidez nos costumes, com suas burcas e outras restrições sociais. Permanentemente há um clima contraditório pois em meio à sociedade capitalista contemporânea, com smartphones e carros vemos uma vida urbana imersa em leis tradicionais que não dão mais conta dessa realidade.
O maior desejo do marido é livrar-se do filho que está na barriga da esposa, já que a grana é diminuta e se esvai, mesmo que ele se esforce no seu trabalho no transporte de passageiros com sua van. "Um fardo" denuncia algumas atitudes violentas dele com a esposa, que reclama das contínuas agressões sofridas.
Em meio a crise, a família de Ahmad precisa procurar um apartamento com um aluguel mais módico e precisam dormir todos no mesmo ambiente, numa casa dominada por rachaduras e pelos canos expostos nas paredes.
O diretor Amr Gamal opta por planos mais gerais e médios, para não perder o poderoso registro do contexto da casa, das ruas parcialmente destruídas por bombas e do hospital precário. As interpretações dos atores não consegue avançar para além da caracterização realista que a história do filme inspira. Mas devemos salientar o quanto o interessante é descobrir um filme iemenita e poder compara-lo com a cultura de outros países mais conhecidos do Oriente Médio.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário. Quero saber o que você achou do meu texto. Obrigado!