Texto de Marco Fialho
"Quarto 999", dirigido pela diretora Lubna Playoust, é um documentário ideal para quem gosta de discutir os caminhos do cinema, ontem, hoje e no futuro. O dispositivo é simples. Em uma sala com uma poltrona, alguns cineastas que participam do Festival de Cannes em 2022, respondem uma pergunta sobre o destino do cinema.
O filme resgata o mesmo formato de entrevista utilizado pelo cineasta Win Wenders em 1982, no filme "Quarto 666", igualmente no mesmo Festival de Cannes, só que há 40 anos atrás. O célebre cineasta alemão é também o primeiro entrevistado desta nova jornada de depoimentos e único remanescente do filme de 1982.
Evidente que o melhor desse filme simples, feito de depoimentos, são as reflexões de diversos cineastas que estão abrilhantando atualmente o universo do cinema, inclusive temos a presença do nosso Kleber Mendonça Filho, em um dos depoimentos mais interessantes e vibrantes, ao pontuar sobre o impacto que o domínio de uma narrativa no mercado de cinema desencadeia uma visão única do que é o cinema.
Curioso como dois depoimentos, um deles da cineasta Claire Denis, lembram da declaração de Jean-Luc Godard, em que ele disse que o cinema nasceu de pequenos filmes. Essa assertiva godardiana esbarra em algo fundamental para a história do cinema, o confronto entre as ideias e os grandes financiamentos.
Sobre a morte do cinema, Arnaud Desplechin afirmou que a morte é inerente ao cinema, pois ele sempre nasceu, morreu e renasceu. Para Win Wenders a revolução digital é letal e destrutiva para o cinema. Joachim Trier, de certa maneira complementou o brasileiro Kléber, ao proferir que a distribuição é o maior problema, não a produção.
Sem dúvida, "Quarto 999" é daqueles filmes em que as ideias proliferam e nos mostra que o cinema pode ser entendido a partir de diversas visões e perspectivas, mesmo que em alguns momentos o formato canse um pouco e alguns depoimentos soem repetitivos ou irrelevantes. Mesmo assim, assistir a fala dos diretores nos faz pensar acerca do que pode vir a ser ou não o cinema nas próximas décadas. Isso, se ele não morrer atropelado em alguma esquina da tecnologia.
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