Documentários sobre cineastas sempre encantam as plateias que buscam saber mais dos artistas que acompanham e admiram. Porém, há também um desafio de quem realiza esses filmes de entregar tudo o que esperam de um filme com essas premissas. "Dario Argento Pânico", dirigido por Simone Scafidi, fica justamente nesse meio do caminho em abordar Argento, um dos grandes estilistas do cinema.
A tarefa não é mesmo fácil, ainda mais que o forte dos filmes de Argento são a junção do impacto visual (do requinte que contorna o kitsch) com a parafernália sonora e progressiva da banda Goblin. O maior problema que envolve o filme de Simone Scafidi é o tentar cobrir toda a obra de Argento, um diretor com um trabalho profícuo, denso e inovador. Em determinado momento as informações se acavalam ou vão ficando pelo caminho na ânsia de se abordar o todo.
O filme se divide em 4 blocos: 1) do início da carreira; 2) do primeiro sucesso e consolidação; 3) do auge estilístico; 4) da interferência da televisão no cinema. Esses blocos revelam o quanto esse filme almejava em pretensão. O diretor Simone Scafidi leva Argento para um hotel arquitetonicamente inspirador, na tentativa de fazer o mestre falar segredos de sua vida e filmes. Francamente, não sei se essa estrutura de entrevista funciona plenamente, pois jamais consegue tirar Argento do desconforto de ser um entrevistado. O diretor ainda entrevista personagens e cineastas que tiveram Argento como referência. Quanto aos filmes e as análises deles, fica a sensação de pouco aprofundamento, ainda mais que alguns filmes de Argento dariam em si um filme completo dedicado a eles. "Profondo Rosso" (1975) e "Suspiria" (1977) são um exemplo disso, por serem obras bastante complexas, inovadoras e intrigantes, que não se fecham em si, e podem ser analisadas por ângulos diversos. Mas pode-se citar outras, como "Tenebre" (1982) e "Phenômena" (1985).
Dá para sentir ainda em "Dario Argento Pânico" a falta de muitas imagens do mestre durante a projeção. Se os filmes de Argento são marcantes pelo impacto visual, essa característica precisa estar marcante também em uma obra que pleiteia abarca-la. As esquisitices de Argento aparecem e tem uma cenas precisas que pontuam muito bem a personalidade excêntrica do diretor, assim como mostra o quanto se sentia à vontade no set de filmagem dirigindo todos os detalhes de suas produções. O filme tem uns relances desnecessários, como às vezes, ficar preocupado em demasia em tentar compreender a relação do diretor com o mercado (em especial por ele não ser um norte-americano), relacionando sobretudo à filiação paterna que era um influente distribuidor de cinema. O documentário toma esses rumos desinteressantes em alguns momentos.
Mas "Dario Argento Pânico" tem suas qualidades, lógico, e algumas surpresas reservadas. É interessante a relação do diretor com a atriz Cristina Marsillach durante as filmagens de "Ópera" (1987), nota-se um certo clima constrangedor que a atriz se esforça para não citar acerca da relação problemática com Argento. Outra questão importante é a da relação de Argento com as filhas, em especial com Asia, que transita entre a admiração mútua e a desconfiança, já que ambos ficaram sem se falar durante um tempo. Dario, entretanto, afirma que Asia era a sua atriz favorita.
Muitos apontam os anos 1990 em diante como uma fase descendente de Argento. O diretor Simone Scafidi resgata a influência da televisão para poder analisar melhor essa época, o quanto essa mídia criou embaraços para os filmes de Argento, que ficou impossibilitado de incluir em suas obras do período cenas com muita violência. O filme aborda ainda as fases do diretor, a sua entrada no cinema Giallo, subgênero do terror, a sua caminha autoral para afirmar sua autoria, sua volta ao giallo e assim por diante.
O filme não tenta colocar Argento em um patamar superior, embora reconheça o papel fundamental do diretor na história do cinema, preocupando-se em não só vê-lo como um mestre do terror, mas que merece ser analisado como um diretor importante para o cinema. "Dario Argento Pânico" resgata o diretor como não só um artista do terror, mas sobretudo do pânico, de querer registrar o que acontece antes do terror, do pânico vindo da certeza que o terror está próximo a acontecer. O sublinhar dessa ideia é um dos melhores momentos de "Dario Argento Pânico".
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