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A CÉU ABERTO (2023) Dir. Mariana Arriaga e Santiago Arriaga


Texto de Marco Fialho

Confesso que fui atraído por "A Céu Aberto", dirigido por Mariana e Santiago Arriaga, por ele ser um filme de estrada, uma das paisagens preferidas no cinema, o sentido de liberdade que esses filmes normalmente inspiram. Mas realmente essa obra me decepcionou ao extremo. Primeiro, porque esse sentido maior dos filmes de estrada não está presente, pelo menos não plenamente. 

O maior problema desse filme talvez seja a premissa que ele parte. A espinha dorsal da história é sedimentada por um espírito de vingança. Dois irmãos partem para o norte do México em um carro no encalço do motorista de caminhão que causou o acidente que vitimou fatalmente o seu pai. Exatamente isso, o filme fala de uma vingança devido a um acidente automobilístico. 

A partir desse fato sem propósito, tudo o que vem é frustrante, ainda que tecnicamente o filme seja bem feito, bem interpretado e com uma boa direção. Mas o que fazer quando o roteiro está inteiramente furado, sem algo para realmente sustentá-lo? 

"A Céu Aberto" tenta fazer de sua história um momento de aprendizagem e amadurecimento para os seus personagens centrais, os dois irmãos e a filha do atual marido de sua mãe. A grana é curta, mas a viagem é sempre salva pela grana surpresa de algum dos personagens, o que soa sempre muito forçado. Depois de muitas aventuras e infortúnios, eles chegam ao destino para enfim matar o tal caminhoneiro.

O pior do filme acontece justamente nesse momento. Primeiro, eles desfilam com seu belo carro (emprestado pelo padrasto) por uma cidade minúscula sem serem notados, depois executam um sequestro barulhento à luz do dia, levam o caminhoneiro para uma estrada de terra deserta, o amarram em uma árvore e ficam com ele duas noites seguidas, sem ninguém aparecer, a não ser um coiote a procura de comida. 

Sem um roteiro que leve o filme para algum lugar mais coerente, "A Céu Aberto" tropeça em suas próprias pernas sem conseguir convencer ao público que sua história se sustenta em pé, uma vingança de três adolescentes de classe média torturando um homem que vive do seu trabalho. Quando o caminhoneiro diz que no dia do acidente dormiu no volante depois de trabalhar três dias seguidos, tudo desmorona tanto na história como no próprio filme, incapaz de ver que o ponto de vista escolhido não era o mais interessante.      

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