Texto por Marco Fialho
Sabe aquele filme repleto de boas intenções, mas que desconhece que o inferno é justamente o lugar onde elas mais se proliferam? Esse é o caso de Irmãos, dirigido por Greta Scarano, que trata de um tema atualíssimo, mas da maneira mais ineficiente possível, com os eternos vícios dos caminhos fáceis e apelativos. E resta ainda mencionar, que de italiano, o filme só tem a língua, pois parece ser muito mais um subproduto hollywoodiano do que um filme realmente italiano.
Irmãos aborda fundamentalmente a relação familiar entre dois irmãos, Irene (Matilda De Angelis) e Omar (Yuri Tuci), ele um homem de quase 40 anos, autista (somado com deficiência intelectual leve) e super protegido pelos pais, e ela, uma jovem bem-sucedida na carreira, mas que traz muitas frustrações do que queria ser na vida. Eles estão separados por duas cidades, ele mora com os pais, tia e avó em Rimini, ela em Roma. Os pais vão viajar, e precisam que Irene retorne a Rimini para cuidar do irmão mais velho, que vive ainda como uma criança indefesa e dependente.
É impressionante como tudo em Irmãos descamba para o previsível e para o banal. O filme tinha tudo para abrir ótimas discussões sobre o espectro autista, mas os diálogos por demais expositivos torna o caminho da história algo por demais tolo. Por isso, sequer deu para estranhar quando ao final entrou que a obra era uma coprodução da Netflix, pois a narrativa palatável e genérica já apontavam para uma padronização bastante encontrável comumente nas produções da gigante do streaming mundial.
Irmãos tem lá alguns momentos que nos enchem de esperança, de que algo vai ser discutido com seriedade, mas logo ela é desfeita em nome das facilidades e da necessidade de se querer agradar a um público médio, sedento por um habitual dejà vu narrativo e dramatúrgico. As interpretações são emotivas por demais e vem sempre acompanhadas daquela música que sublinha a emoção do momento, seja ele mais cômico ou mais dramático.
Assistimos Irmãos no 20º Festival de Cinema Italiano e dentre os 12 filmes inéditos, ele é o único a desequilibrar a balança, com sua pegada bastante comercial. O grande equívoco da direção em Irmãos é ceder diante a um abordagem edificante, de tratar as pessoas autistas do ponto de vista mais superficial, a de que elas precisam de carinho, encorajamento e fazerem o que gostam para serem felizes. Essas pretensões podem ser importantes, mas reduzir o problema somente a isso nos parece de pouca ambição, além de abrir mão de discussões mais aprofundadas em nome de dar relevo às emoções.

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