Texto por Marco Fialho
Diamantes é uma grande homenagem ao cinema, mas não como habitualmente vemos, aqui o diretor ítalo-turco Ferzan Özpetek presta um tributo de maneira muito original ao mostrar por dentro o trabalho de um ateliê de figurinos cinematográficos. Diamantes inicia em uma reunião de um diretor de cinema (representado pelo próprio Özpetek) com 18 atrizes que ele quer reunir para realizarem um filme que mostre a dinâmica do trabalho de figurinista e de todos os profissionais que o envolvem.
O filme desse diretor, se passa nos anos 1970 e mostra o trabalho de duas irmãs, Alberta (Luisa Ranieri) e Gabriella (Jasmine Trinca) frente a um ateliê de figurinos. Diamantes alterna trechos dos anos 1970 com a atualidade, que nada mais é do que a reunião da equipe de filmagem. É impressionante o ritmo que Özpetek injeta no seu projeto, inteiramente tomado pela paixão e pelo entusiasmo da equipe.
Özpetek constrói uma história em torno do ateliê, de suas funcionárias, seus problemas e propõe um painel sobre as relações das mulheres na sociedade dos anos 1970. Com extrema audácia narrativa, o diretor trabalha com a vida de um grupo de mulheres. Uma, sofre violência e abuso do marido, outra, tem problema com um filho recluso e depressivo, e assim as histórias vão se amontoando.
Contudo, há um protagonismo mais acentuado de Alberta e Gabriella, ambas igualmente convivem com fantasmas do passado. Alberta tem uma história estranha com um homem que não via há mais de 15 anos, enquanto Gabriella é alcoolista, pois não consegue lidar com uma tragédia que passou há 5 anos atrás. Para dar conta de tantas histórias, Ferzan Özpetek trabalha muito a montagem, picotando as cenas com habilidade e agilidade para transmitir os efeitos das relações das personagens que se entrecruzam, tendo o ateliê como espaço central de conciliações e conflitos.
Se Özpetek perde um pouco na profusão de tantos personagens, ele ganha no painel que consegue edificar no decorrer das cenas. Trata-se de um trabalho de profunda artesania, cuidado e delicadeza, pois o tempo inteiro temos a sensação que o filme está sob o seu controle. O problema do excesso de personagens é o quanto ele termina por não se aprofundar neles a contento, muito embora seu interesse seja realmente criar uma visão da complexidade que é gerir e tocar um ateliê.
Essa visão por dentro é poderosa, e não podemos esquecer o papel das mulheres nesse contexto de filme. Há sim, um tipo de inventário do comportamento feminino dentro do ambiente dos anos 1970. Diamantes mostra os obstáculos desse trabalho que envolve corrida contra o tempo, cuidado com os detalhes, além das dificuldades de lidar com o autoritarismo de muitos diretores, os egos das atrizes e atores. Diamantes é uma produção extremamente luxuosa e de bom gosto, leve sem ser superficial, uma obra de grandes interpretações e um drama de costumes bem azeitado e inteligente em sua execução.

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