Texto por Marco Fialho
Um dos pontos fortes de Amada, filme dirigido por Elisa Amoruso, é a sua montagem muito bem articulada com o desenvolvimento de duas histórias em paralelo que jamais se cruzam, apesar de estarem completamente conectadas por um único fato, que aos poucos o filme vai revelando.
De um lado temos Nunzia (Tecla Insolia), uma jovem universitária que vive uma gravidez indesejada. De outro, temos Maddalena (Miriam Leone), uma mulher com mais de 40 anos de idade, que vem tendo reincidentes abortos involuntários. A diretora Elisa Amoruso une essas duas mulheres com todo o cuidado e sensibilidade possíveis, em um trabalho delicado, onde vamos conhecendo os contextos de vida de cada uma dessas mulheres.
Muitas vezes, o uso da montagem paralela define as angústias e dramas de Nunzia e Maddalena, numa confrontação de vida que determinarão seus futuros. Amada aborda um tema eivado pela fragilidade, o da maternidade desejada e a não desejada e Elisa Amoruso busca com sua história um desfecho quase educativo, baseado em uma lei italiana que permite mães abandonarem a maternidade em prol de casais que a desejam e são impossibilitados por suas naturezas orgânicas. Essa intenção política da diretora soa estranha e enfraquece sua abordagem, já que há uma necessidade de conclusão da história, restando poucas perguntas para o espectador e um direcionamento com um propósito político explícito.
A diretora Elisa Amoruso abusa de planos próximos com a intenção de penetrar na intimidade dessas personagens e alcançar o sofrimento que cada uma experimenta com suas gravidezes. A tristeza de Maddalena é bastante notória, salta da tela uma melancolia cortante quando ela está em cena. Sua vontade de ser mãe é bem substantiva e atrapalha a sua relação matrimonial.
Como a diretora Elisa Amoruso tem uma definição bem clara em termos de ideias a serem construídas para Amada, as cenas são pensadas de modo a contemplar uma emulação da vida cotidiana de um casal por um lado, e de uma mulher solteira por outro lado. Mas a verdade é que as cenas se mostram homogêneas e tudo vai caminhando de maneira previsível, em especial, depois que entendemos o que está em jogo para essas duas mulheres.
Falta à Amada algo que o tire do que é esperado e o jogue para algum precipício dramático. Os dramas alinhavados desde o início evoluem tais como qualquer gravidez e assim apenas esperamos o parto e a concretização do óbvio, e acreditem, os fatos vêm exatamente como esperávamos que viessem. Se a montagem retira o filme da linearidade clássica em relação a unidade de tempo e espaço, a história em si de cada uma das mulheres não apresenta muitas alterações internas, o que resulta no comprometimento do final de Amada. É um cinema honesto, mas de médio porte, carente de ousadia no roteiro e direção, como se fora apenas um bom projeto de encomenda.

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