Texto por Marco Fialho
Drácula - Uma História de Amor Eterno é mais uma versão cinematográfica da célebre obra literária de Bram Stoker. A pergunta que sempre se faz quando surge mais uma versão de uma obra já repetida vezes adaptada para o cinema é se realmente essa nova visão colabora ou acrescenta algo a outras já realizadas. A essa primeira indagação creio que o filme de Luc Besson não consegue ficar de pé. O Drácula que ele sustenta é um dos mais insossos da história e mesmo que o diretor revista seu filme com doses pesadas de um cinema mais preocupado com a espetacularização do que com a narrativa em si. Definitivamente, tentar fazer da obra de Bram Stoker um conto de fadas não foi uma boa ideia, pelo menos da maneira como Besson enfrenta essa inglória missão.
Um dos maiores problemas do filme começa pela concepção que Luc Besson faz do Drácula enquanto indivíduo social. Na tentativa de humanizá-lo ao extremo, o diretor constrói um personagem que o contradiz a ponto de apagar a sua imagem e seu simbolismo, de um homem que se revolta contra a instituição católica como representação de Deus, para depois de séculos assumir uma postura católica e permitir a própria morte como resolução da sua ira contra o sistema. Vale acrescentar que a igreja católica em 1480, ano em que a sua amada é morta pelos mouros "infiéis", ela era a instituição mais poderosa da época.
O roteiro de Besson também se revela confuso, com personagens paralelos que pouco contribuem para o desenvolvimento da trama e que a arrefecem a todo instante, fora os momentos pífios em que Drácula tenta seduzir sua amada Elisabeta (Zoë Bleu), trechos que parecem extraídos de um videoclipe romântico pop e cafona. Sem contar que a utilização do perfume e da caixinha de música como elementos que fazem evocar o amor do passado entre eles se mostra muito frágil dentro da narrativa. Metade do roteiro de Drácula - Uma História de Amor Eterno é visivelmente sugado do Drácula (1992), de Francis Ford Coppola e a parte que se descola da versão de Coppola se mostra muito forçada e sem coerência.
Nem os atores salvam esse Drácula, nem mesmo o icônico Christopher Waltz escapa, sua atuação está escancaradamente no piloto automático e emula tantos outros de seus personagens cômicos, o que começa inclusive a soar como algo repetitivo. É gritante o quanto o ator Caleb Landry Jones (de Dogman) não consegue criar um personagem complexo e repleto de camadas, oscilando quase sempre entre o superficial e o convulsivo. Sem falar, que falta carisma a bela Zoë Bleu como Elisabeta, a interpretação da atriz passa ao largo de convencer. A Maria de Matilda de Angelis é a melhor interpretação no filme e poderia ter mais proeminência na história, mas a sua personagem infelizmente aparece pouco, mas quando está em cena sempre faz o filme crescer.
Boa parte de Drácula - Uma História de Amor Eterno transcorre por meio de flashbacks do próprio Conde Vlad II narrando, já no século XIX, para um advogado, que ele faz prisioneiro, acerca do seu passado. Essas idas e vindas acabam tornando a narrativa cansativa, pois alongam a trama na maioria das vezes sem necessidade. Por flutuar entre séculos, a direção de arte se torna um elemento crucial na proposta de Besson, mas observa-se que há uma limpeza visual demasiada do cenário, com um acabamento muito clean, o que não é muito usual nas tramas, como a de Besson, que se aproximam do estilo gótico. É corriqueiro em filmes de Drácula se ter um cenário mais sujo, mais desgastado. Se a maquiagem de Drácula tende a envelhecê-lo, afinal ele sem alimento aparenta quase um cadáver, é comum esse desgaste também aparecer nos detalhes do castelo, o que não ocorre aqui.
Talvez seja Drácula - Uma História de Amor Eterno a maior síntese do que se transformou o cinema de Luc Besson. O diretor vem reafirmando a cada nova obra produzida a sua preocupação de realizar filmes para satisfazer as demandas dos grandes estúdios, ávidos por ação, romance barato e aventuras escalafobéticas, míticas e demasiadamente etéreas. A personificação das gárgulas como funcionários monstrengos do Drácula beira o ridículo, em efeitos computadorizados que beiram o bizarro. A escolha de Danny Elfman para as músicas diz muito sobre o que é Luc Besson como diretor em 2025. Elfman no passado fez obras primorosas para os clássicos irretocáveis de Tim Burton, repletos de bizarrices e esquisitices, mas com o tempo aceitou trabalhos em blockbusters duvidosos e sem graça, como esse Drácula - Uma História de Amor Eterno.
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