Texto por Marco Fialho
Baby dramaturgicamente se escora em uma mistura de romance LGBT com um intenso drama social. Faz lembrar filmes como Pixote e o teatro de Plínio Marcos. O conceito estético que o diretor Marcelo Caetano propõe perambula lá pelo final dos anos 1970 e início dos 1980, em especial pela maneira como os personagens marginalizados são construídos. Por isso Baby não deixa de ser um exercício interessante de roteiro e direção.
O filme se guia por meio das ações dos personagens Baby (também chamado de Wellington), numa interpretação magnética do jovem ator João Pedro Mariano e sua relação com Ronaldo, interpretado por Ricardo Teodoro. O roteiro de Marcelo Caetano, coescrito por Gabriel Domingues, aposta numa narrativa onde os diálogos são curtos e precisos, nunca repetitivos à imagem, sempre a alimentando com sugestionamentos e olhares.
A fotografia, a cargo do experiente Pedro Sotero e Joana Luz, sustenta imagens fortes vindas das interpretações muitas vezes duras e repletas de violência. As locações reais, de cinema, boates e outros espaços atinentes ao submundo são mostrados com um misto de realismo e lirismo. Apesar da temática pesada, Marcelo Caetano equilibra uma sutileza surpreendente em meio à violência e muito disso por meio da uso da fotografia que empresta cores vivas o suficiente para tornar a trama quente, misteriosa e sexy.
Baby retrata a vida desse personagem solitário no mundo, recém egresso de uma casa de correção para menores infratores, abandonado pela família e absorvido por um círculo marginalizado, povoado por LGBTs, prostituição, traficantes e outras pessoas que transitam pelas ruas e pelo submundo de São Paulo. A câmera de Caetano enfrenta os corpos de frente, sem grandes arroubos de movimentos, mas os utilizando com moderação e elegância. A construção sonora de Baby é muito especial, oscila entre os sons ambientes da urbanidade paulistana (muito bem trabalhados e equalizados) com músicas que conseguem surgir nos momentos certos e que jamais poluem a cena.
O encontro de Baby com o personagem Ronaldo é cheio de camadas interessantes e contraditórias. Há um misto de proteção e exploração, de irmão mais velho com namorado, de carinho e de cafetão. O cru e o poético se completam na narrativa de Marcelo Caetano, pois o romance LGBT se confunde com a violência da prostituição. Baby transita por entre imagens diretas e outras refletidas em espelhos que contemplam a dubiedade do viver pelos cantos da marginalidade. A inserção queer na trama é muito bem urdida por Marcelo Caetano, com seus coletivos e conflitos que se alternam na história, assim como suas apresentações pelas ruas, em ônibus e outros transportes coletivos.
Baby sabe lidar com os sonhos que a realidade desperta e com as asperezas que ela também traz. O universo onírico está representado pelas ações que o filme explicita, assim como as reviravoltas e as surpresas que o submundo dá quando menos se espera. O conto de fadas está sempre rondando o nosso mundo, independente do poder econômico ou gênero de quem o vive. Baby se instala exatamente nesse contexto, onde a jornada de autoconhecimento de Baby perpassa as agruras por descobrir como o mundo funciona e como se pode ser feliz nele.
Preparando-me para assitir. Sua resenha é muito positiva.
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