Texto por Marco Fialho
Isabelle Huppert é conhecida por fazer filmes um atrás do outro, numa profusão de trabalhos no cinema contemporâneo francês e mundial (basta lembrar da parceria com o coreano Hong Sang-Soo). Mas o resultado desse empilhamento de filmes nem sempre é garantia de bons êxitos. A Prisioneira de Bordeaux pode figurar entre as obras medianas em que ela atua.
O filme dirigido por Patricia Mazuy tem um enredo já bem batido no cenário cinematográfico francês, a da relação interclasses, entre uma mulher burguesa e uma imigrante árabe, cujo marido foi preso por assaltar uma joalheria. O maior problema em A Prisioneira de Bordeaux está no fato de sua narrativa flertar com estratégias e propostas clássicas e se ressentir de conflitos que façam a trama avançar em um ritmo que prenda a atenção do espectador e que justifiquem a aderência a essa forma de narrativa.
A direção opta por trabalhar com o abismo social entre Alma (Isabelle Huppert) e Mina (Hafsia Herzi), embora a solução final dessa distância seja dada de uma maneira condescendente para todos. A Prisioneira de Bordeaux é aquele típico filme morno, que não é insuportável, mas que também não entusiasma. Se desenha como uma obra bem genérica no atual cinema francês, que prefere não assumir riscos formais e se contenta agradar o gosto médio que o mercado solicita com frequência por ser bem comportado, justo e aparentar tematicamente progressista, mesmo que na prática seja mais conservador do que se acredita.
O roteiro de Pierre Courrège, François Begaudeau e da diretora Patricia Mazuy não foge do convencional ao tratar o tema da decadência das relações burguesas e da imigração, ao reforçar a benevolência burguesa de Alma, um tipo de atitude que sublinha a personagem como boa samaritana, como se o caminho para a vida dos imigrantes seria a de esperar pela boa ação de uma burguesia decadente.
Cabe salientar que na trama, o marido de Alma, assim como o de Mina, também está preso, mas ele por um atropelamento fatal, onde dirigia alcoolizado e não por roubo, mesmo que sua saída do sistema prisional seja precipitada por estranhas manobras judiciais de um bom advogado que só a grana consegue intervir. O ambiente da prisão inclusive serve para juntar Alma e Mina, essas duas mulheres abandonadas, cada um a sua maneira, e carentes, uma de afeto e companhia, e a outra de ajuda financeira. Essa matemática social é bastante óbvia, previsível, narrativamente infantil e enfadonha.
Cabe assim a pergunta se A Prisioneira de Bordeaux vale a pena. Embora a interpretação de Isabelle Huppert esteja longe de outras memoráveis da atriz, sempre pode-se atestar o estofo profissional e a seriedade pela qual se entrega a cada personagem que assume fazer. Deve-se reconhecer que mesmo para quem admira o trabalho de Huppert, esse especificamente, não oferece muita munição dramática para que ela mostre sua grandeza. Inclusive a diretora Patricia Mazuy trata a mise-en-scène sem brilho, filmando sempre da forma mais previsível, tanto pelo tratamento fotográfico, quanto pelos enquadramentos e interpretação dos atores. Uma obra para ser esquecida assim que sobem os créditos.
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