Texto por Marco Fialho
Palavra, curta documental dirigido por DF Fiuza pode ser visto como uma obra-prima a moda antiga. Humberto Mauro ficaria estarrecido com a capacidade narrativa desse curta inteiramente sem diálogos e que logicamente se choca com o título.
É surpreendente como Palavra consegue contar a história de uma trabalhadora artesanal com uma concisão tal que prescindimos mesmo da palavra para entender a totalidade do que se pretende. Planos que mostram o cotidiano de um dia de trabalho de Dona Solange, uma senhora que lidera um grupo de artesãs, que controla todo o processo de produção, desde a colheita da folha até o produto final, que são belos cestos e outros objetos feitos todos manualmente por ela.
Um trabalho tomado pelo silêncio das palavras, mas no qual somos imersos pelo som específico de cada atividade que Dona Solange realiza com total esmero e conhecimento. Interessante como o filme retrata e registra um fazer cultural ancestral, herdado de um hibridismo entre as tradições negras e indígenas.
DF Fiuza trata tanto personagem quanto o resultado do trabalho dela com total reverência, tendo a relação com a natureza como o motor desse processo, já que esses trabalhadores precisam estar próximos da matéria-prima para realizar seus trabalhos. É muito inteligente como o diretor amarra o primeiro ao último plano do filme de forma a dar a devida ideia de circularidade dessa tradição. Palavra é um dos filmes mais austeros e precisos na arte de documentar que assisti nos últimos tempos.
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