Texto por Marco Fialho
A primeira imagem de O Último Moicano é de Cucchi, um senhor de idade que fala rapidamente sobre a desvalorização da cultura tradicional da Córsega. Logo depois o diretor Frédéric Farrucci corta para um homem trabalhando em sua terra e recebendo a visita de outro homem, de uma imobiliária, que quer comprar as suas terras para construir um grande empreendimento.
Descrevi essas duas cenas para demonstrar o quanto o filme de Farrucci vai direto ao ponto, sem rodeios e essa é a grande qualidade desse tipo de cinema, o de mostrar o quanto predatório e violento são os métodos de uma máfia capaz de tudo para conseguir seus objetivos abjetos, movidos pelo lucro a qualquer custo.
O Último Moicano fala sobre essa guerra desigual, entre o poder econômico e o humilde pastor de cabras, Joseph (Alexis Manenti), que as redes sociais apelidaram carinhosamente de O Último Moicano. Quem gosta de filme de super-herói, essa é uma obra imperdível, só que o herói aqui não usa capa, veste camiseta polo, calça jeans e é um homem comum, nada especial, que apenas quer continuar a cuidar de suas cabras, ofício que herdou do seu pai.
Joseph defende seu território com todas as suas forças, inclusive com ferramentas de seu trabalho na terra ou com armas de fogo, se necessário for. O Último Moicano é um filme de fuga, de perseguição, em que a máfia quer mata-lo para lhe tomar a casa e provar que sua resistência não leva a nada.
Em uma das sequências de fuga, Joseph se embrenha numa praia lotada por turistas sedentos por explorar as belezas naturais do lugar. Há um simbolismo tremendo nessas imagens. A grande maioria dos vizinhos já venderam suas terras, não resistindo ao assédio de ambiciosos empresários ávidos por ganhar mais dinheiro com o turismo. Joseph correndo em meio a turistada levanta uma questão ética imediata: ele está invadindo e atrapalhando o lazer ou esse lazer além de ser movido por uma invisibilidade, se assenta sobre o apagamento de formas de viver popular pela força de quem pode pagar mais?
Para dar mais vigor à história de Joseph, o diretor Frédéric Farrucci aproxima a câmera dele, que corre de um lado para outro, ferido e tentando sobreviver aos implacáveis inimigos. Aliados, só um amigo (que é brutalmente assassinado), que o ajuda a fugir e a sobrinha (Mara Taquin), que usa as redes sociais para defender o Último Moicano. Enquanto a imprensa oficial o coloca como um bandido, a menina o transforma um herói nacional com postagens que restauram a verdade dos fatos e a luta desigual.
Tem cenas muito interessantes em O Último Moicano, como a que a menina vai a um bar e a banda toca uma música que fizeram em homenagem a Joseph. O espírito de solidariedade logo aparece, assim como a esperança de que nem tudo está perdido. As manifestações violentas dos jovens nas ruas demonstram a capacidade e importância de não se entregar a um sistema que resolve tudo pela mentira e supremacia financeira.
O Último Moicano é um filme sobre resistência a um mundo corporativo que quer engolir o que está na sua frente. A força dessa narrativa de Frédéric Farrucci é trazer à discussão a necessidade de construção de outro mundo, de se conter esse darwinismo social, onde o mais bem armado e financiado vencerá as pessoas simples que só querem ficar no seu canto e viver como seus antepassados viveram. O filme mostra ainda a violência de um tipo de globalização gananciosa em que grandes corporações impõem a fórceps seu modelo de mundo em prol do apagamento das diferenças.
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