Texto por Marco Fialho
O que poderia ser uma mera e divertida homenagem ao cinema, em Dois Nilos se torna um importante reflexão sobre o que é fazer cinema no Brasil. A direção precisa de Rodrigo de Janeiro em parceria com Samuel Lobo, curta-metragista já com uma estrada sólida percorrida, onde se destaca o ótimo Noite Escura de São Nunca.
O filme tem como protagonista o cineasta e pensador cultural Afrânio Vital, diretor pra lá de independente, que além de tudo se mostra um excelente personagem, um rebelde consciente de que o Brasil passa ao largo de seus artistas, ainda mais aqueles que não escolheram o showbiz como profissão.
A consciência da ruína que envolve o cinema é tanta que Afrânio Vital visita a Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, para poder relembrar os cinemas que ali existiam e o tornaram um amante e cúmplice do cinema Assim, a maior arma de Dois Nilos é a valorização da memória contra o esquecimento, um dos grandes fardos que solapa nosso cinema.
Se no Brasil, nem os diretores são reconhecidos, o que dizer dos assistentes. Afrânio Vital foi assistente de direção do realizador gaúcho Carlos Hugo Christensen e como realizador dirigiu três longas: Os Noivos, A Longa Noite do Prazer e Estranho Jogo do Sexo. Chama atenção a consciência de Afrânio de seu fracasso em um país racista e como ele se autodeclara o primeiro cineasta negro. A câmera ágil dos diretores confere ao filme um dinamismo próprio e original ao surfar na onda performática do personagem. Esse é um curta que parece durar no máximo 5 minutos, de tão delicioso que é.
Acho que vale uma pesquisa sobre os 02 realizadores. Até onde eu sei, "Noite Escura de São Nunca" de Samuel tem dez anos. E "Nada Além da Noite" ou "Jornada do Valente" do de Janeiro foram feitos ontem.
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