Texto por Marco Fialho
Tem filmes que não precisam de muito malabarismo narrativo para chegar longe. A Arte do Caos é desses. Ele é preciso em envolver o espectador e extremamente simples na realização. Quem dera os filmes fossem tão descomplicados e diretos como esse o é.
A direção e o roteiro de Thomas Arslan são brilhantes pela eficiência. A economia dos diálogos é uma característica que outros filmes de ação poderiam adotar para a nossa felicidade cinematográfica. Os planos também são de uma limpeza necessária, tantos os fixos quanto os em movimento, inclusive as competentes cenas de perseguição de carro, sem os exageros frequentes e aqueles malabarismos de câmera e montagem de som e imagem.
Mas o que é mais fascinante em A Arte do Caos é como o diretor adentra em um mundo desconhecido por nós pobres mortais, o do submundo dos trambiqueiros profissionais, dos golpistas de toda a ordem, que invadem casas para roubar relógios e outros objetos de valor. O modo de vida arriscado e instável, em que tudo pode desabar a qualquer momento. Inclusive é isso que vemos acontecer logo no início do filme, com o protagonista Trojan (Misel Maticevic) em busca de ganhos rotineiros em sua volta a Berlim. A oportunidade de faturar uma grana boa surge quando Rebecca, uma antiga contratante, propõe um roubo de um quadro com alto valor de mercado.
Mas Thomas Arslan sabe introduzir cada personagem na trama e de certa forma nos afeiçoamos pelo grupo formado para esse assalto, com Trojan se aliando a Luca (Tim Seyfi), um velho vigarista de outras jornadas criminosas, e juntando outros dois novos. Um deles é Chris, um especialista em computadores, e outra é Diana (Marie Leuenberger), uma motorista habituada a fazer testes para carros velozes. Como em um filme de máfia, a confiança entre eles é a mola que impulsiona e garante a união deles para a concretização de um trabalho.
Se o plano perfeito dá certo, o problema é do contratante que junto com Vitor (Alexander Fehning), um típico vilão antipático e seco dos tempos da Guerra Fria, que querem dinheiro e quadro sem pagar o serviço sujo dos ladrões profissionais. Mas o que seria de um filme de assalto a um grande bem, se não a garantia de reviravoltas surpreendentes e com personagens querendo levar vantagem em cima de um acontecimento já vantajoso.
A fotografia de Reinhold Vorschneider sabe flertar com a estética noir, de usar as filmagens noturnas com suas sombras inescrupulosas como elemento crucial para revelar o submundo de uma Berlim nem sempre radiante, mas tomada por seres que se aproveitam da escuridão e deserto da noite para ganhar a vida, que muitas vezes se resolvem em becos escuros perto do porto da cidade.
A Arte do Caos é fascinante por todos esses pontos citados e por um casting bem azeitado e ensaiado, uma obra que permite que durante alguns minutos nos aproximemos de um mundo dominado por uma lei própria e violenta. E a simplicidade da narrativa de Thomas Arslan sabe comunicar com um realismo bem construído, que nos põe imersos a uma trama fascinante de bandidos que parecem heróis a ponto de chegarmos a torcer pelas suas ilicitudes. Essa é uma das magias possíveis que só o cinema consegue nos oferecer.
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