Texto por Marco Fialho
Tem documentários que mais do que essenciais, são humanitários. É o caso de Sem Chão (No Other Land), dirigido por um coletivo palestino-israelense, que luta contra o genocídio que o Estado de Israel vem impingindo ao povo palestino. O filme trata da cidade de Massafer Yatta, na Cisjordânia.
A câmera de Basel Adra registra o massacre inclemente com imagens cruas que documentam a dura vida de agricultores e pessoas simples que presenciam policiais demolirem suas casas, e até escolas, com um sentimento que mistura impotência, raiva e tristeza. Pessoas são mortas sem piedade, à sangue frio não só pelo aparato policial, mas também por colonos israelenses armados que criam um tipo de milícia armada para tomar na violência e no tiro os territórios de palestinos assentados ali desde o século XIX.
O filme registra ainda o encontro de Basel com Yuval, um jovem jornalista israelense inconformado com a política do Estado de Israel, e por isso se junta à luta palestina. O diálogo entre Basel e Yuval ainda possui um lado simbólico inestimável, que testemunha a grande viabilidade das duas culturas viverem juntas, com harmonia e fraternidade. Só por mostrar esse encontro o filme já valeria à pena.
Se não fosse um documentário, Sem Chão (No Other Land) poderia assombrar pela faceta distópica que sinaliza, de mostrar tanques, escavadeiras, bombas de efeito moral e fuzis sendo utilizados contra uma população desarmada e indefesa. Os argumentos para as invasões é que o território de Massafer Yatta viraria uma área de treinamento militar israelense. Para a população restou duas opções: ficar e resistir, indo habitar as cavernas, ou tentar a sorte como refugiado em alguma outra cidade.
Por registrar o avanço das tropas e colonos israelenses sobre o seu território, Basel filma muitas vezes com a câmera em movimento, com sacolejos e com a o visor voltado para o chão em uma fuga da polícia israelense. Uma das cenas mais fortes ocorre quando Basel filma um colono israelense atirando de queima-roupa na barriga do seu primo, que depois viria a morrer logo depois no hospital.
O que mais surpreende em Sem Chão (No Other Land) é o espírito de confiança de vários moradores, mesmo na adversidade de perder tudo que conquistaram durante a vida. Por isso, tem uma frase lá no final, que impacta a quem assiste ao documentário: "o que podemos fazer?" Como um jovem pode ter uma família em um ambiente em que tudo lhe é negado, inclusive seu direito de ir e vir? O filme não deixa de ser um manifesto por uma saída ao conflito sem uso da violência, em especial porque ela chegou a um nível do intolerável. E como é saudável e esperançoso que esse filme chegue a nós por meio de um coletivo de cinema montado como uma parceria entre palestinos e israelenses.
Mas antes de tudo, Sem Chão (No Other Land) é um grito de resistência de um povo que não vai desistir, e hoje, ver o Governo reacionário e violento de Benjamin Netanyahu recuar e começar a realizar troca de reféns e falar de cessar-fogo (em especial por uma pressão dos Estados Unidos) é um baita de um avanço. Pensar saídas diplomáticas deve ser para todos os envolvidos a melhor estratégia para se chegar à paz tão esperada. E claro, o reconhecimento de que os palestinos merecem um território para poderem voltar a ter esperança de viver melhor, como todos os outros povos e culturas do mundo.
Quero muito assistir esse documentário. Onde está sendo exibido?
ResponderExcluirEm breve estará nos cinemas. Me acompanha que eu vou divulgar.
ExcluirEstreia nos cinemas brasileiros em 13/03.
ExcluirQuero muito assistir.
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