Texto por Marco Fialho
Máquina do Tempo, dirigido por Andrew Legge, não propriamente um filme sobre viagem no tempo, mas sobre se ter informações do futuro a partir de uma máquina, caso de Lola, em que as duas protagonistas, Thom (Stefanie Martini) e Martha (Emma Appleton) inventam uma máquina capaz de interceptar mensagens do futuro. Assim como De Volta Para o Futuro, a saga de Robert Zemeckis, sabemos o que ocorre quando se criam instrumentos que permitem mudar o rumo da história.
Se a saga oitentista se assentava numa grande ideia de aventura de ficção científica, Máquina do Tempo se pretende um drama histórico de ficção científica. Andrew Legge se apoia na técnica do Found Footage (que simula personagens realizando gravações, as famosas fitas achadas), inclusive com uso de câmeras analógicas na realização que imprimem um realismo vintage impressionante à narrativa, com seu P&B que fala do futuro em um tom do passado.
Bob Dylan e David Bowie, artistas do nosso passado, soam como algo futurista em plena década de 1940. Essa é a parte mais interessante de Máquina do Tempo, a de brincar com temporalidades reais que de repente parecem anacrônicas no enredo. E se a máquina reveladora do futuro pode ajudar o presente a combater o nazismo hitlerista, o que dizer quando somos ameaçados de perder a existência artística de Bowie, no instante que intervimos na história tal como a conhecemos?
No plano narrativo, as filmagens que simulam o filme de época é o que mais nos deixa com uma percepção mais apurada pelo cuidado preciosista de tudo parecer algo de outro tempo. Há um certo incômodo pelo filme ter muitas imagens filmadas com a câmera na mão, o que não era nos anos 1940 uma prática comum da época, o que deixa essa filmagem de época um pouco estranha e pouco verídica (deixando claro que a finalidade da direção é o da simulação de um filme de época).
No aspecto mais geral, Máquina do Tempo trabalha com a ideia da possibilidade da história transformada pelas informações vindas do futuro. Particularmente, não me agrada discutir um mundo histórico que não seja o que vivemos socialmente. Quando por um descuido das personagens a Alemanha obtém informações pela espionagem e as utiliza a seu favor, temos uma Inglaterra ocupada pelos nazistas nos anos 1940, o que historicamente não aconteceu, e creio ser essa ideia pouco produtiva e intelectualmente nada estimulante. Claro que a ideia é a da ficção científica, mas não vejo tantas vantagens nessa perspectiva meramente especulativa, ainda mais que assistimos hoje o avanço do fascismo em escala mundial. Nesse momento histórico mesmo há uma vitória da extrema direita na própria Alemanha.
Embora Máquina do Tempo tenha méritos técnicos e até narrativos, no todo, não chega a ser impactante ao a gerar uma reflexão maior nem do ponto de vista cinematográfico nem da própria história em si. Às vezes, o filme torna-se até um pouco cansativo, pelo formato reduzido da tela e no arredondamento das imagens quando filmadas pelos personagens ou pela máquina do tempo. Há momentos de clipados que poluem a cena de contemporaneidade e que põe em questionamento a ideia do vintage. Há alguns exageros fotográficos desnecessários, com cenas onde as sombras e a escuridão predominam por demais e dificultam a apreensão do todo.
Máquina do Tempo tem sim seus bons momentos, mesmo que não chegue a empolgar tanto com sua pretensa inventividade. No início há um certo glamour e um romantismo anunciado, mas eles são breves, pois será a visão distópica que prevalecerá na segunda metade do filme. E o que dizer de sua visão distópica da história que o filme propõe? As personagens de Martha e Thom não deixam de ser vítimas de sua própria engenhosidade e fiquei muito a pensar sobre isso. De certa maneira, há uma justiça nesse fato, já que a história da humanidade não pode servir de um brinquedinho que escolhemos por nossa conta o seu destino.
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