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CAPITÃO ASTÚCIA (2023) Dir. Felipe Gontijo


Texto por Marco Fialho

Um dos elementos mais interessantes de Capitão Astúcia é a valorização do protagonismo de um personagem da chamada terceira idade e a sua promoção ao valoroso status de super-herói. Mas será que isso por si só consegue fazer desse filme algo sólido enquanto obra artística? 

E o fato do seu protagonista ser um ator experiente e de reconhecido valor, também assegura o seu êxito? Capitão Astúcia conta com a presença no elenco do carismático Fernando Teixeira como o super-herói do título, o que de certo salva o filme do fiasco, já que seu carisma ameniza algumas cenas constrangedoras. Outro destaque é a sempre precisa aparição radiosa da atriz Nívea Maria, que infelizmente, fez pouco cinema em sua carreira. Há algo que destoa ambas interpretações do restante do elenco, que não consegue sair do caricatural, pois não possuem a presença sólida dessa dupla já bastante experimentada do nosso audiovisual.

Há uma intenção deliberada da direção de fazer com que tudo seja facilmente digerivel, forçando a barra tanto na aventura quanto na comédia. O elenco é desperdiçado por um roteiro raso que soa adulto para as crianças e infantil para os adultos. As relações intergeracionais não são bem exploradas, o que faz o filme não acontecer de verdade na tela.

O perigo desse tipo de encenação, na qual Capitão Astúcia se propõe, o de misturar aventura e comédia, é a de sempre caminhar entre o arriscado fio tênue da ação desenfreada e o da busca do riso fácil, que pode a qualquer momento descambar para o superficial, armadilha na qual o diretor Felipe Gontijo acaba derrapando e caindo feio. 

Por essas questões assinaladas acima, Capitão Astúcia não consegue por isso emplacar, sair da promessa de uma boa sinopse e mergulhar na alma de seus personagens ao apenas salientar as suas ações, esquecendo de atribuir um mínimo de subjetividade ao seu precioso protagonista. 

A própria estética dos quadrinhos evocada no filme podia ser melhor explorada, pois fica muito solta no enredo. Assim, ao sairmos da sala de cinema, de imediato, esquecemos o que vimos, já que o filme não consegue ir além do próprio escapismo no qual se transformou.


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