Texto por Marco Fialho
Acompanhante Perfeita poderia ser um novo Blade Runner uma trama que remete aos replicantes do famoso filme de 1986, mas a obra dirigida por Drew Hancock não passa da superficialidade, levanta muitas questões cruciais sobre as relações amorosas dessa segunda década século XXI, em especial, o que certos homens esperam das mulheres.
Infelizmente, a trama privilegia mais o thriller do que a discussão em si, mais o entretenimento do que a reflexão. Assim, o que poderia beirar o extraordinário termina em um joguinho de gato e rato, de quem é mais esperto, se os robôs ou os humanos. Acompanhante Perfeita também esbarra no tema da inteligência artificial, se é possível a AI superar o homem, se a máquina pode dar nos dar uma volta. A humanização das máquinas se equipara às discussões levantadas em Blade Runner, embora seu antecessor lhe dê um banho de reflexões filosóficas.
O filme também faz lembrar A.I., filme de Spielberg, mas ali se pensava a relação amorosa de uma criança com os pais, embora em Acompanhamento Perfeito a máquina só descobre que não é humana no decorrer do filme. Não creio que a obra de agora pretenda discutir o amor, mas sim a dependência da mulher depois que o feminismo adquiriu novas formas de luta no século XXI, mesmo que isso se manifeste de maneira implícita.
Se tem algo na trama que a enfraquece é o plano de assassinato que aparece lá pela metade do filme. Essa questão enfraquece a discussão por deslocar o central da história: a relação amorosa na contemporaneidade. A mistura de gêneros, no caso, do terror, da ficção científica, do thriller de suspense e do romance, acabam mais atrapalhando o enredo do que ajudando. A direção de Drew Hancock visa a eficiência industrial e carece de inventividade, se conformando com uma proposta visual bem convencional e sem ousadias. O filme esbarra em uma ideia que se fosse melhor desenvolvida poderia ser genial.
A direção de atores não permite que as interpretações passem do previsível e do superficial, as camadas psicológicas são pouquíssimo exploradas, o que colabora para que Acompanhante Perfeita não saia da superfície. Os movimentos de câmera e os enquadramentos pouco fazem acrescentar algo de diferente, seja por trazer nos ângulos ou algum tipo de visão diferenciada de um personagem. Se sobra carisma em Sophie Thatcher, a robô Íris, mal explorada pela direção, falta um brilho em Josh (Jack Quaid), que em tela destoa perante a face luminosa de Íris.
Portanto, a fluidez das relações amorosas do nosso tempo não ganha tanto campo quanto deveria e faz com que Acompanhante Perfeita não ultrapasse o mero entretenimento bem realizado e com pouca reflexão. Embora a misoginia esteja presente no filme, as tramas paralelas ligadas a ambição financeira camuflam essa que seria o grande legado que esse filme poderia ter deixado: uma reflexão explosiva acerca do machismo em pleno século XXI.
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