Texto por Marco Fialho
Flow é uma das animações mais incríveis que assisti nos últimos anos. A sua dinâmica narrativa é digna de ser ressaltada, pois durante seus 85 minutos não há um diálogo sequer, ou melhor dizendo, não tem diálogos falados, pois há muita comunicação entre os personagens. Os animais se enfrentam, se ajudam e fazem tudo para ficar juntos durante um tsunami que destrói tudo, habitat, família e qualquer referência anterior de 5 bichinhos: um gato, um cachorro, uma capivara, um pássaro-secretário e um lêmure.
Mesmo ser ter qualquer presença humana, o filme remete às relações que precisamos estabelecer com o mundo e o outro para sobreviver e tentar dar algum sentido em nossa aventura pela Terra. Flow é impregnado por um tipo de magia, mesmo que várias situações sejam limites, a direção de Gints Zilbalodis sempre reserva ao público uma experiência sensorial, muitas vezes ao levar a cena para flutuações de corpos pelo espaço ou pela água, como se o terror estivesse sempre avizinhado pela beleza das imagens. Há uma alusão deveras bonitas, como a da baleia que tem o poder de salvar vidas na água, mas que pelo grande corpo não consegue ajuda dos outros animais.
Esse é justamente um filme sobre as diferenças e como sobreviver ou morrer tendo que se apoiar no outro. Como uma grande região é atingida pela catástrofe, a força do rio que é formado vai levando esses seres para o incerto e o imprevisível. O que virá logo à frente é o desconhecido, os riscos são iminentes e impossíveis de serem minimamente previstos. Isso gera um suspense na plateia, que fica a imaginar os próximos desafios do grupo. Enquanto isso, nos divertimos com as idiossincrasias de cada animal, em que o lêmure é o que mais chama atenção por ser aficcionado por um instinto acumulador, sendo capaz de tudo para não perder qualquer objeto que está em seu domínio.
A animação é muito bonita e fluida. O forte do filme são as cenas de grande emoção e ação que o diretor constrói. Há de tudo um pouco, desde ação até momentos de pura contemplação e suspense. Ficamos presos à narrativa e totalmente apegados aos animais, em especial ao gato, o cão e o lêmure. A sensação de levitação é escorada por uma música que evoca algo de místico. Os olhos do gato estabelece uma conexão quase que imediato com os espectadores. De repente, o olhar dele torna-se o nosso. O realismo das cores torna tudo vívido e mágico e essa é uma faceta curiosa do magnetismo que esse filme possui.
Essa inusitada produção vem da Letônia, mas com coprodução francesa e Belga, sendo o diretor letônio. Algumas imagens são impressionantes e fazem de Flow um filme especial, pela delicadeza com que trata os personagens, que não são humanizados e sim tratados como bichos e com características específicas de sua espécie. O difícil é piscar durante a projeção dessa joia rara da animação mundial.
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