Texto de Marco Fialho
O prêmio fofura do ano de 2025 já tem dono e afirmo isso em janeiro de 2025, não em novembro ou dezembro. Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa tem carisma de sobra, que elenco e que privilégio para as crianças brasileiras poderem assistir a uma belezura que é esse filme de Fernando Fraiha.
A obra conta com um roteiro original, baseado no universo dos quadrinhos de Maurício de Souza. Todos os elementos aqui são acertadíssimo e adequados às crianças, mas sem chama-las de idiotas ou bocós, como muitas animações insistem em fazer. E digo mais, o filme passeia por idéias críticas em relação ao crescimento desenfreado e regado pela ambição econômica de setores conservadores e egoístas.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa consegue tanto conscientizar quanto brincar com a própria linguagem do cinema. É por isso uma ótima entrada para que crianças aprendam mais sobre narrativas cinematográficas. Logo na primeira cena, Chico Bento quebra a quarta parede para falar diretamente com o público e o faz com o charme e carisma indefectíveis do ator mirim Isaac Amendoim.
Mas todo o elenco é um primor, o trabalho de Fraiha com os atores é fenomenal, um dos melhores do nosso cinema com as crianças. Zé Lelé (Pedro Dantas) é um achado, assim como Anna Júlia Dias como Rosinha. E o elenco adulto não poderia ser melhor. Augusto Madeira está hilário como o vilão ambicioso. Genezinho (Enzo Henrique) é um vilãozinho ótimo, como o riquinho nojento e besta.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa nem chega a ser perfeito, tem umas barriguinhas desnecessárias que cansam um pouco, por isso podia ter uns 10 minutos a menos para ficar mais redondo ainda. Entretanto o roteiro não deixa de ser inspirado por um amor verdadeiro ao personagem de Chico Bento. Maurício de Souza faz uma ponta como um desenhista à procura do seu personagem, outra interrupção interessante que Fraiha faz na narrativa. As risadas são inevitáveis. O filme se alimenta da magia infantil, explorando com eficiência o lúdico desse momento tão importante de nossas vidas.
O filme é uma baita homenagem ao mundo do chamado caipira e ao invés de investir na sua crítica, aposta na valorização que poderíamos dizer sustentável desses personagens, o atualizam com leveza e graça, mas sem jamais o diminuir. Essa aceitação do homem do interior é fundamental numa época em que o mundo agro vem para derrubar tudo em nome de uma modernização que despreza a população local e tradicional.
Com um humor profundamente brasileiro, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa chega para ser um clássico do nosso cinema infantil ao atualizar com extremo bom gosto os personagens brejeiros de Maurício de Souza e isso não é pouco. Sem contar com o fechamento imagético poético que o filme propõe ao som da linda música Romaria, de Renato Teixeira.
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