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BABYGIRL (2024) Dir. Halina Reijn


Texto por Marco Fialho 

A diretora Halina Reijn filma Babygirl como um típico filme de amor entre adolescentes. O estranhamento que sentimos é provocado pelo fato da personagem Romy (Nicole Kidman) ser uma CEO de uma grande empresa de sucesso no ramo do ecommerce enquanto o seu par romântico está saindo da adolescência. 

Se na teoria Romy deveria ser uma mulher madura e Samuel, o jovem estagiário, o imaturo, na prática ocorre o inverso. Ela é a adolescente da relação. Essa premissa poderia até ser interessante caso Romy fosse uma tirana como chefe, o que não é verdade. Mesmo porque praticamente não vemos Romy exercendo efetivamente o trabalho como CEO. Não há uma preocupação do roteiro em marcar Romy como uma líder autoritária, ao invés disso, ela aparenta ser bem quista pelos subalternos.

Fica pouco factível ver essa mulher tão supostamente empoderada não só ser como querer ser dominada pelo estagiário inexperiente. E a dominação aqui não é só sexual, é mais um tipo de dominação envolvendo uma relação de poder. Assim, ele quebra canecas e pede para ela catar os caquinhos. Ele a põe de quatro e impõe humilhações a ela. Sinceramente, não vejo como essas aparentes "subversões" possam causar tanto espanto nas pessoas. Talvez algum tipo de identificação ou fetichismo possa estimular algum tipo de excitação, uma visão de que em um momento de intimidade, essa mulher poderosa seja dominada por um membro da sua equipe que sequer consta na quadro permanente da empresa. 

Babygirl parte de uma premissa estranha. Como uma mulher da posição de Romy poderia arriscar tanto a sua profissão em nome de um fetiche tão raso? Poderia ser argumentado que o marido (Antonio Banderas) não a satisfazia, mas colocar um símbolo sexual latino nesse papel diminui o impacto da credibilidade da proposta. Nem diria que o roteiro de Babygirl é mal pensado, antes, diria que é raso mesmo, boboca até, para agradar pessoas desejosas por histórias eróticas fantasiosas, mesmo que não seja crível ou apresente um mínimo de razoabilidade. 

Babygirl é um tipo de 50 Tons de Cinza da década de 2020, uma besteira machista que desvaloriza uma mulher que está em um posto de comando. Já imaginou um alto executivo babando por uma estagiária e ficando de quatro por ela? Porque a relação de Romy com Samuel não é só no plano sexual, extrapola e muito essa alçada indo para a própria relação de poder entre um jovem homem perto dos vinte anos e uma mulher entre 50 e 60 anos. 

Do ponto de vista cinematográfico, Babygirl não traz grandes novidades, o filme é estruturado como um thriller erótico onde se espera algo de surpreendente ao final, já que a protagonista está a quebrar protocolos básicos de trabalho e de família. A cena inicial, quando Romy acaba de transar com o marido e corre para o computador para se masturbar com um filme pornô beira o cômico, para não dizer que soa  ridícula, tola e infantil. Se não sente tesão pelo marido e tem vida financeira autônoma, para que manter um casamento de aparências? Se Nicole Kidman ganhar o Oscar com essa personagem será uma das grandes vergonhas da premiação, pelo menos desde que Gwyneth Paltrow ganhou por Shakespeare Apaixonado.                

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