Texto por Marco Fialho
O ator e diretor Jesse Eisenberg sabe como surpreender em A Verdadeira Dor. Se as primeiras cenas sugerem uma comédia no estilo de Se Beber Não Case..., felizmente, o que vem depois, segue outros rumos. Temos sim um típico road movie, onde a experiência da viagem é inesperada e reveladora. Não que haja grandes descobertas, as reviravoltas são mais interiores e esse é um mérito do filme de Eisenberg, virar a chave da extroversão para introversão na hora certa.
O roteiro do próprio Eisenberg é um achado, pois a maior qualidade desse filme está na maneira como os personagens vão se transformando na estrada e a direção não perde tempo com preâmbulos ao começar a história na embarque dos personagens. Benji (um Keiran Culkin irritante de bom) e David (um Jesse Eisenberg bem contido) são oriundos de uma família judaica e não se veem há muito tempo, mas mesmo assim decidem fazer uma viagem improvável à Polônia com um grupo que concentra outros judeus e convertidos. O objetivo da dupla de primos é visitar às suas origens culturais e visitar a casa da falecida avó numa cidade da Polônia. É bonito ver como Eisenberg se contenta em ser escada em seu próprio filme, para que o ator Keiran Culkin possa brilhar.
A Verdadeira Dor é uma história fundamentalmente de personagens, e por isso mesmo, um filme de atores. Eisenberg explora muito bem as dicotomias existentes tanto entre os primos, um expansivo, solteiro, emotivo e sincero, e outro introvertido, casado, racional e calado. A partir dessas característica Eisenberg cria um jogo entre eles, se apoiando ainda na presença dos outros personagens que estão realizando a visita à Polônia com eles, fora o guia contratado.
Com grande interesse observei o trabalho de câmera da direção. Reparei o uso de muitos planos fixos, embora o filme possa ser compreendido como um road movie. Curioso esse contraste entre movimentos dos personagens em contraste quase sempre com o imobilismo da câmera. Mas esse detalhe fica um pouco obliterado pelos muitos cortes dentro da cena que Eisenberg realiza. Nas cenas onde se movimenta a câmera, a direção a faz com muita leveza, de maneira a não repararmos esse deslocamento devido à sua suavidade.
A parte musical do filme não deixa de ser importante de ser pensada. Quase toda as músicas executadas são valsas, estudos, prelúdios e noturnos, sempre para piano, de Frédéric Chopin, famoso e importante compositor de origem polonesa, que se notabilizou pelo estilo romântico no Século XIX. Essas sonoridades perpassam todo o filme, desde a primeira cena até o final. Elas espelham a introspecção a qual o filme almeja dos seus dois personagens principais.
O mais interessante de A Verdadeira Dor é banhar a sua história com as mais variadas possibilidades de análises sobre ela. Eisenberg sempre deixa uma porta entreaberta a ser explorada, ou até mesmo indagada, e isso só faz ampliar as leituras possíveis para o filme. Um dado sobre o passado de Benji revelado quase no fim faz a gente repensar cenas inteiras que vieram antes, em especial conversas e atitudes as mais antipáticas e reativas do personagem. Fora a força que Eisenberg imprime na relação entre os primos, os conflitos, o cuidado e os gatilhos do passado que toda a relação íntima possui.
Se tem algo que nos aproxima do filme é a maneira singela na qual Eisenberg trabalha o personagem de Benji. Em verdade, existem vários Benji no transcorrer do filme. Primeiro um espertalhão, depois um implicante e logo adiante um ranzinza. Mas a visita ao campo de concentração funciona como um divisor de águas radical do comportamento dele. Ao sentir no local a tal verdadeira dor a dele própria é suspensa em nome da empatia. A Verdadeira Dor mescla melancolia e comédia de forma desconcertante. E como Jesse Eisenberg é hábil em transitar por essas searas, conduzindo o público pela mão para a seguir deixá-lo desamparado, tal como Benji.
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